Jardim de Ménara
e devagar fomos chegando pelas ruas e múltiplas portas da cidade cor rosavelho
aromatizada de especiarias de incensos e véus inesperados
ao longe enquadrando o imenso jardim de oliveiras em verde musgo e manso as imensas montanhas do alto atlas cobertas de neve irrompem como por magia
no calor intenso em que olhamos a neve longe um lago se espalha longo tranquilo lento depois um pavilhão misterioso com tecto verde em forma de pirâmide aberturas em arcos pousados se abre para as cordilheiras de onde por labirintos subterrâneos vem a água
aqui em sossego alagoada
dizes-me que o sol queima. É verdade, tanto como aquela neve mais atrás
escondemo-nos sob a sombra das oliveiras e a sombra escalda ainda
aquele pavilhão seria o lugar perfeito
para nos teus lábios a água escorrer de desejo.
Fecho os olhos, em que lugar mágico caminha a sede satisfeita o calor da neve ao sol a tranquilidade dos espelhos de água reflectindo o encantamento de uma presença total?
Será que deus passeia por aqui ao final da tarde? olhando o fogo do sol na brancura alta das cordilheiras em radiosa brancura?
Minha alma estremece e dou-te a mão. Parece que encontrei um caminho
Uma brisa mínima sopra e as oliveiras gemem de prazer …toco os teus olhos e vejo um oásis lá dentro lá longe
à nossa frente
e nele tu e eu olhando estes jardins que nos olham este sereno lago que nos espelha e devolve
ao lugar em que a neve se iguala ao calor mais que perfeito.
A prova do chá de menta
Um pequeno bule de prata arredondado sobe nas mãos da jovem senhora de rosto enquadrado em lenço branco
escorre dele um aromático chá de menta açucarado para os pequenos copos
um prato de figos mel e canela um sorriso
em silêncio sorrindo de novo: a salamo a-leikom a paz esteja convosco!
A leikom es salâm agradecemos e provamos muito lentamente o chá misturado nas folhas verdes com cheiro a hortelã
o pequeno copo de vidro cinzelado aquece as mãos
pousamo-lo
e olhamos sorrindo aquele outro maravilhado sorriso adivinhação deleite de um para o outro
murmuro: dá-me a tua mão prova do meu chá descobre os meus segredos descobre os meus véus incensa-me de sonhos
prova-me
e sente o chá de menta sente como sou doce e perfumada as coxas arredondadas como as do bule
um sabor morno gostoso meloso escorregoso
perfuma-me de ti
habita-me
que eu provo contigo desde sempre um outro oriente em chá de gengibre maçanica moringa cravinho e cardamomo
intensos e antigos odores em geografia mais a sul Insha’Allah!
Os véus soltos da cidade antiga
Percorremos a pé as ruelas e estreitos labirintos da medina, que lembram outros nossos lugares
o comércio de porta em porta fervilha em animadas conversas as jilabas de muitas cores esvoaçam os véus adornam as cabeças das mulheres que passam
bicicletas motos atropelos vagarosos entre crianças que brincam nos pequenos pátios
os alfaiates e os barbeiros, os talhos, as cerâmicas, as pequenas tipografias, as prateleiras cheias de doces , as antigas mercearias onde se vende tudo, e os escaparates inúmeros misturados de vozes sobrepostas
soltos véus da medina aromatizados pelas bancas de especiarias, verde, negro amarelo, laranja vermelho, branco, os pequenos montes de pós incensados de cheiros maravilhosos
que se entrelaçam em outros e mais outros
em essências fortes, óleos e fragâncias, jasmim, rosa, aloendro, mirra, sândalo, cedro,bergamota canela, flor de laranjeira
pequenos e secretos vasos de vidro
que escorrem pelos poros da pele e a encantam que se entranham pelos labirintícos desejos do corpo e sedutoramente o enlaçam por entre estas pequenas artérias da cidade amuralhada
coração intenso e cativa fragância
em nossas diversas geografias e em nós dois reencontrada
Os caminhos do deserto
mais atrás ficou um longo deserto areias levantadas em anos e o vento despedindo-se das formas
imprecisão e lonjura seguindo as caravanas improváveis passo a passo e ano a ano o deserto permaneceu escondendo
um rosto sem idade
o azul do linho o resguarda das poeiras um rosto bronzeado pelo sol que desafia os caminhos e as monções
Uma rosa dos ventos na tua mão procura-me uma rosa de areia se desfaz por entre os dedos
Dizes: o achamento só é possível no cruzamento de acasos conjurados
Ou num céu sem nuvens…
talvez alguém tenha ouvido a tua voz caminhando rente ao deserto e rente ao mar índico
do outro lado do tempo, num outro mar e num outro continente
Aqui no deserto a geografia do amor é um estranho desenho que as areias e o vento as nuvens e a espuma
recomeçam sem cessar
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Imagem: AML
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Lindos….