Vila Nova - Famalicão Online | Vanda Tavares - Peregrinaçam, um livro de viagens, de Fernam Mendez Pinto (imagem: arquivo de Alchetron)

‘Peregrinaçam em que se dá conta de muytas e muytas estranhas cousas’

 

 

O autor de Peregrinaçam / Peregrinação, Fernão Mendes Pinto, nasce por volta de 1510, em Montemor-o-Velho, e morre em Almada, em 1583.

Vai para Lisboa, em 1521, com dez ou doze anos de idade, “para se livrar da miséria e da estreiteza da casa de meus pais”, como chega a referir.

Em 1532, embarca na carreira da Índia e pelo Oriente está 21 anos. Por estas bandas, passa por inúmeros “trabalhos, cativeiros, fomes, perigos e vaidades”, viaja, luta, negocia, como afirma na sua carta autobiográfica de 1554. Percorre assim a Ásia do sudeste, China, Japão, Goa, Malaca, Sião…

Quando regressa a Portugal, tem o pecúlio suficiente para comprar uma pequena quinta em Almada. Casa e tem duas filhas.

A escrita de Peregrinaçam / Peregrinação

Aqui escreve, em 1580, Peregrinaçam / Peregrinação, narrativa das suas aventuras, umas fantasiosas, outras próximas da realidade, em que dá a conhecer o misterioso Extremo Oriente, desconhecido dos europeus. Poucos acreditam que este Oriente exótico seja tão rico e tão diferente culturalmente. O Portugal de Quinhentos não acolhe bem a descrição das aventuras do autor, desconfia da sua veracidade e as críticas são bastante negativas, suscitando até o gozo. Os portugueses referem-se-lhe como “Fernão Mentes? Minto”, ao que responde “A gente que viu pouco mundo, como viu pouco, também dá pouco crédito ao que os outros viram”.

Da presença na Grande Muralha da China à participação na Companhia de Jesus

Três vezes cativo e dezassete vendido nas partes da Índia, Etiópia, Arábia Félix, China, Tartária, Massacar, Sumatra e muitas outras províncias daquele ocidental arquipélago dos confins da Ásia”, escreve Fernão Mendes Pinto. Entre os inúmeros episódios relatados, destaca-se a condenação na China por roubo de tumbas reais. Como castigo, cortam-lhe os polegares e é condenado a trabalhos forçados na construção da “Grande Muralha”, magnífica estrutura a perder de vista.

Na Índia, em 1538, integra uma expedição ao mar Vermelho, onde participa numa batalha naval com os otomanos. Aí, ele e companheiros são feitos prisioneiros. Vendido a um grego e, mais tarde, por este, a um judeu que o levou para Ormuz, acabaria por ser resgatado por portugueses. Neste importante centro estratégico para o controle do comércio da região, conhece S. Francisco Xavier. Acometido de um arrebatamento espiritual que o leva a doar parte da sua fortuna aos jesuítas, distribui o restante pelos pobres e entra como leigo na Companhia de Jesus, que abandona três anos depois para continuar as suas aventuras pela Ásia.

Aventuras e desventuras nas viagens de Fernão Mendes Pinto

Na primeira viagem ao Japão, em 1542, com Diogo Zeimoto, relata a primeira vez que os orientais veem uma arma de fogo e têm contacto com europeus. Descreve o espanto e interesse do rei local, rei Bungo, quando viu o companheiro a disparar uma arma de fogo.

Fernão Mendes Pinto não se fica apenas pelas suas aventuras e desventuras mais ou menos romanceadas, narra com preciosismo a arquitetura dos locais, a organização social e administrativa, as práticas agrícolas e comerciais, a natureza. Todos estes aspetos lhe causam admiração e não resiste por momentos a compará-las com as portuguesas emitindo opiniões criticas pouco abonatórias ao modo de vida nacional.

Em Pequim, surpreende-se com o cuidado que dispensam aos doentes e pobres e o bom funcionamento da justiça. Mais uma vez faz a comparação com as práticas da sua terra. Aqui diz que encontra a missão e valores cristãos que devem guiar a humanidade.

Peregrinação, repositório de ‘dicções alheias’

A diversidade de línguas e dialetos ouvidos pelo autor também merecem referência que os reproduz como os ouve seguidos de “declarações” em português, o que leva a que o gramático quinhentista Fernão de Oliveira considere Peregrinaçam um valioso repositório de “dicções alheias”.

Peregrinaçam, o livro de viagens mais editado em todo o mundo

Peregrinaçam teve maior aceitação no estrangeiro que em Portugal. Só no séc. XVII, tem sete edições em Espanha e três em França e Inglaterra. Na atualidade, é o livro de viagens da Literatura portuguesa mais traduzido em todo o mundo, fantástico número para um livro editado no início do séc. XVI.

Despertar apetites para outras viagens

Com este pequeno apontamento, espero ter aguçado os espíritos curiosos a embrenharem-se nesta leitura, nesta aventura, a melhor conhecerem este temerário português.

Por fim, sugere-se uma ida ao cinema para ver Peregrinaçam, de João Botelho.

Boa Leitura!

Bom filme!

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Outras imagens: 0, 1) Alchetron, 2?) Peregrinação, de João Botelho (Ar de Filmes)

Aditamento:

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