Vemo-nos amanhã. Amanhã talvez o dia esteja mais luminoso
e eu te encontre quando o sol estiver no momento do entardecer
não sabendo se vá ou se fique, amanhã vemo-nos de certeza.
Depois da tua aula de anatomia, depois da minha de geografia.
Vemo-nos porque tem de ser assim, vemo-nos porque os porquês
já não se admitem hoje e por isso é mais prático que nos vejamos.
Porque a tua é uma aula simples sobre o corpo
e a minha, igualmente simples, mas sobre a terra.
Vemo-nos depois das aulas que podiam ser ambas de metafísica
porque ambas são as duas, a minha e a tua estão antes da realidade
do mundo, do amor, da liberdade e da vida.
Vemo-nos amanhã, porque amanhã é um novo dia
os outros passaram na convicção histórica do que aconteceu
e filosófica futura do que teria sido se não acontecesse – assim.
Porque o sol não deixará de aparecer até que o último homem comprove
e na sua derradeira aparição o faça sorrir de tédio ou de cansaço.
Por saber que milhões e milhões de vezes o sol inspirou a vida
e a vida reconheceu a luz até à noite, amanhã vemos-nos.
Tu despida com a pele daquele vestido de seda ou de cetim
que te torneiam o corpo de mulher pronta e madura.
E eu despido também, mas com um nó de certezas na gravata
de que essa tua aparição é tão exacta como se estivesses
de bisturi na mão pronta a abrir-me as entranhas
na convicção de recolheres nas vísceras a minha alma.
Estarei com as mangas da camisa arregaçadas
para que comproves que os meus braços
em volta do teu corpo têm a mesma latitude.
Vemo-nos amanhã, para nos tornarmos
anatómica, geográfica e histórico-filosoficamente unidos
num abraço que dispensa o sol.
Afinal a noite traz o benefício de guardar a luz
para que os homens e as mulheres se conheçam pelo tacto.
Imagem: Barry White
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