A tragédia dos incêndios que tem assolado o país nos últimos meses, e dias, em particular, não pode deixar ninguém indiferente. À dor vivida pelos que são mais diretamente atingidos por esta tenebrosa onda de fogos florestais não é suficiente um qualquer pedido de desculpas. Por outro lado, também não será bastante o entendimento partilhado de que, nos últimos meses, se poderia ter feito diferente e ter agido mais rapidamente.
Depois do segundo episódio desta catástrofe, o Governo emudeceu sob a sua própria inação. Depois de Pedrógão, o pior repetiu-se. O Governo apenas foi capaz de quebrar o silêncio hoje, de forma significativa, e porque inadiável, com a demissão da Ministra da Administração Interna neste dia.
Por sua vez, o Presidente da República, com a imprevisibilidade que se lhe reconhece, agiu com estrondo, de certo modo deixando no ar a ideia de que o próprio Governo talvez não devesse sobreviver a esta calamidade. Assunção Cristas aproveitou a oportunidade para uma vez mais liderar a oposição e, em vez do recato que um luto nacional exigia, pretendeu mesmo a demissão do Governo. Passos Coelho, uma vez que ainda não tem substituto, nada acrescenta a estes dados, referindo apenas que “o Governo não merece uma segunda oportunidade.” Por seu turno, o Bloco reforça que “o Estado falhou” e é preciso “demitir o modelo que falhou”. O PCP afirma ainda que é necessário “um orçamento reforçado” com mais “investimento público na defesa das florestas”.
De quem é a culpa dos incêndios afinal?
Subitamente todos parecem ter-se esquecido que a gravidade dos fogos florestais não depende de um político apenas, de um bombeiro apenas, de um criminoso apenas. O problema é mais fundo, é estrutural, é de toda a sociedade. Não são, por um lado, políticas facilitadoras do lucro fácil na exploração silvícola, como as que foram mantidas em vigor, ou até mesmo reforçadas, por exemplo, por Assunção Cristas e Passos Coelho – veja-se a tão citada Lei do Eucalipto Livre (Lei 96/2013, de 19 de julho) -, bem como políticas de desresponsabilização da incúria como as práticas facilitadas pela inação de sucessivos Governos ao longo dos últimos 40 anos, pelo menos, que irão transformar o panorama dos incêndios no país. Recordo que no dia do grande incêndio em Pedrógão uma consulta à página dessa Câmara Municipal continha o aviso de que a GNR, em abril, andaria no terreno a instigar as populações à limpeza das matas. Terão estas sido realizadas? Quais as consequências para os notificados da sua não realização?
É verdade que o Governo terá sido lento a agir com mais e melhor prevenção, num final de verão que se fazia sentir quente e como só de muito em muito tempo acontece. Estou também em crer que qualquer alteração de última hora pouco ou nenhum efeito surtiria face às condições meteorológicas do passado domingo. O relatório da frequentemente mencionada e hiperqualificada Comissão Independente só agora está pronto a servir e a permitir desenvolver trabalho a partir dele. O problema é muito mais vasto. A responsabilidade é de todos – do Governo, do Presidente, das oposições.
Agir para mudar
Não é suficiente falar; é indispensável agir. Mudar a sociedade é da responsabilidade de todos, quer na exigência política de uma ação diferente, quer na prática quotidiana de cada um.
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