Alguns dos meus habituais leitores estão talvez a estranhar o meu aparente silêncio relativamente ao ‘Caso Sócrates’, no âmbito e no contexto da ‘Operação Marquês’ que eu designaria mais expressivamente por ‘Operação José Sócrates’, já que é em torno do Ex-Primeiro-Ministro que tudo se desenvolve, sendo ele o ‘Sol’ de um sistema solar onde se movimentam vários planetas, luas, asteroides e meteoritos, todos com um papel secundário. Todos têm na mira Sócrates…
Nunca escondi a minha admiração por José Sócrates, enquanto Primeiro-Ministro de Portugal, e compreendo muito bem que, sendo amado por muitos, era também odiado por outros tantos, sendo aquela personagem que ou se ama ou se odeia. Com Sócrates não havia (e não há) meios termos!
O que não deixa de ser muito interessante no ‘despacho’ do juiz Ivo Rosa que o ‘inocentou’ de alguns crimes e o ‘condenou’ por outros (não queria utilizar aqui a linguagem jurídica, por ela ser extremamente fastidiosa para as pessoas), o que prova que a justiça, sendo para o povo não é entendida pelo povo, dizia eu que, no ‘despacho de pronúncia’ (lá estou eu a ‘invocar’ a linguagem jurídica), o juiz Ivo Rosa ‘dececionou’ uns quantos comentadores e jornalistas, apenas e só porque não alimentou as suas expetativas e desejos, relativamente ao caso e, sobretudo, relativamente a José Sócrates. Eles queriam e desejavam uma ‘condenação’ categórica e global e não uma ‘condenação’ tímida e parcial. Daí ser muito visível o enorme rancor que nunca conseguiram esconder. Ou seja, se o juiz atendesse às suas ‘pretensões’, tinha-se feito justiça! Como o juiz não atendeu às suas pretensões e desejos, não se fez justiça.
Refiro só dois nomes: Luís Marques Mendes (comentador da SIC) e o inefável jornalista, também da SIC, José Gomes Ferreira (o tal que ‘alinhou’ com a tese do ‘diabo’, de Passos Coelho, quando o Ministro das Finanças era Mário Centeno), que não conseguiram esconder a sua profunda deceção e a sua ira com a ‘justiça’ de Ivo Rosa. Se a ‘justiça’ de Ivo Rosa acompanhasse as teses do Ministério Público, tudo estaria bem e eles ali estariam para aplaudir a coragem do juiz! Como Ivo Rosa contrariou as ‘teses’ do Ministério Público, ali estavam eles para o excomungar e mandar para a fogueira, como na Inquisição. Como é que se conseguia compreender um juiz que se ‘atreveu’ a inocentar José Sócrates da parte mais significativa dos crimes de que é acusado?
Eu sou também um ‘homem do povo’ e não senti nenhuma ‘indignação popular’, como alguns nos quiseram fazer crer que existia, nos dias que se seguiram ao ‘despacho’ do juiz Ivo Rosa. Se o povo estava tranquilo, tranquilo ficou.
Há pequenos gestos que são marcantes e que o povo aprecia e que passam ao lado das vistas largas de muitos políticos e comentadores. Refiro-me ao gesto de José Sócrates de, com coragem, vir ao tribunal ouvir com os seus próprios ouvidos aquilo que o juiz tinha para dizer. Podia ter ficado em casa, no conforto do sofá, como fizeram todos os outros implicados no processo. Veio com valentia e sem receio ouvir o que tinha de ouvir, num momento importante da sua vida.
Este gesto faz lembrar outro, ocorrido, como todos sabem, há alguns anos atrás, numa viagem de avião, de Paris para Lisboa, onde José Sócrates foi preso. Sócrates sabia que ia ser preso. De Paris podia ‘fugir’ para outro país qualquer, onde ninguém o podia ‘chatear’. Mesmo sabendo que ia ser preso no momento em que aterrasse na capital portuguesa, fez a viagem, foi interrogado e ficou preso. Não fugiu como fugiriam muitos outros, enfrentando tudo o que havia para enfrentar. Isto tem um imenso valor!
E se… E se tudo tiver sido ‘montado e orquestrado’, como alega Sócrates, para o impedir de ser candidato a Presidente da República? Há três ou quatro anos atrás, quando José Sócrates veio a Famalicão, à Biblioteca Municipal, falar do ‘seu processo’, tive oportunidade de lhe dizer, “olhos nos olhos”, que só a História lhe faria Justiça. Também neste caso, de tentarem e conseguirem impedi-lo de ser candidato a Presidente da República, só a História, no futuro, vai fazer luz. Há muitos papeis, há muitos escritos, há muitos documentos que só daqui a muitos anos verão a luz do dia e poderão ser estudados. Quem os tem, tem-nos guardados ‘a sete chaves’ e só quando morrerem alguns protagonistas do presente e do passado próximo é que se tornarão fontes importantes para construir a História de Portugal do século XXI, onde o ‘processo Sócrates’ terá obrigatoriamente um lugar de destaque.
Eu já não estarei cá, mas lá, onde estiver, ainda me hei-de rir muito dos desenvolvimentos desta história!
Disse também há anos atrás que só acreditaria na culpa de Sócrates, quando, “tramitados” todos os processos judiciais até às últimas ‘instâncias’, houvesse uma sentença clara, imaculada, que não deixasse dúvidas a ninguém sobre os seus crimes. Até ao momento isso não aconteceu e são cada vez mais as dúvidas sobre o que terá realmente acontecido. Veja-se o que aconteceu com o ‘processo Lula’, no Brasil!
O que é difícil de aceitar é que haja alguns ‘sepulcros caiados’ que estão sempre a falar das ‘injustiças da justiça’ e que, neste caso em concreto, nunca tenham uma dúvida sequer, antes certezas matemáticas, racionais e seguras que vão sempre na mesma direção: culpado, culpado!…
Há muita gente a precisar de ler o ‘processo dos Távoraa’, uma família nobre do século XVIII português, morta às ordens do Marquês de Pombal, Primeiro-Ministro do Rei D. José. Foram todos espancados, queimados, degolados, com requintes da maior selvajaria.
E estavam todos inocentes dos crimes que lhes eram imputados…
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