Facilmente reconhecemos um ano de eleições, especialmente se forem autárquicas. As gavetas abrem-se e, no meio de uma névoa de pó, saltam todos aqueles projetos que, nalguns casos durante anos, descansaram, em paz, no meio de tantos outros. As grandes obras ganham forma. De um momento para o outro, o que era supostamente impossível de concretizar, torna-se viável.
Tudo se reveste de especial importância para aqueles que querem renovar o mandato e manter a respetiva cor política no poder. Ouvimos longos textos e declarações, na tentativa de camuflar a inatividade dos últimos anos. Contudo, basta uma breve reflexão para perceber que o jogo da demagogia política tem contornos no mínimo deprimentes e vazios de conteúdo.
Em 2012, por exemplo, foi apresentado um grande projeto para a cidade de Famalicão: uma Rede Ciclável, envolto num grande alarido. E para quê? Para ficar na gaveta a marinar.
Posteriormente, em 2014, Famalicão parece ter acordado da hibernação e, de repente, decidiu que pretendia mudar de paradigma no que à mobilidade diz respeito. Mas, mais uma vez, a mudança apenas se deu… na gaveta. E de cima para baixo.
Em 2021, de uma suposta Rede Ciclável Urbana, composta por seis linhas cicláveis, o que se conhece está à vista: um singelo eixo na Avenida 25 de Abril que, maioritariamente, é de forma constante ocupada por veículos e sem qualquer ligação que facilite a mobilidade entre os vários pontos. A pergunta que se impõe: o que faltou a este executivo para dar seguimento a esta alegada vontade de mudança de paradigma? O que leva a que durante nove anos não se tenha desenvolvido esta Rede Ciclável?
De relembrar que, num passado recente, tivemos duas grandes obras: na Avenida do Brasil e na N14. Pasmem-se: a palavra “sustentabilidade” voltou a ficar… na gaveta. Esta falta de sensibilidade para a questão da rede de ciclovias é realmente preocupante.
Além da questão ambiental, não nos podemos esquecer que qualquer construção ou alteração de infraestruturas tem custos para nós contribuintes.
No entanto, assistimos a uma bem oleada máquina de marketing que em momentos pertinentes ligou sempre os motores na sua potência máxima, numa tentativa de ofuscar os mais desatentos.
A pirâmide de prioridades de um município – Câmara Municipal e Junta de Freguesia – não deve, nem pode, ser pensada e desenhada de forma leviana. Mais do que pensar em executar orçamentos no final do ano ou do mandato, os projetos políticos locais devem atender quer às necessidades básicas dos munícipes quer à sustentabilidade a longo prazo.
Não basta escrever, ano após ano, as intenções num papelinho todo catita, fazendo promessas vãs, e depois não investir seriamente, a médio e longo prazo, naquilo que resultará num ambiente mais saudável para todas e todos.
A mobilidade urbana e as ligações às zonas circundantes são áreas fulcrais para dar resposta aos desafios da Crise Climática. Contudo, esta busca desenfreada por “mostrar” obra acaba por resultar numa proliferação de atropelos ambientais e, no final, quem ocupa os lugares no pódio são sempre os mesmos: o cimento e o alcatrão.
E como se já não fosse, por si só, grave este contínuo adiamento da implementação de reformas estruturais na área da mobilidade, quando realizadas trazem consigo um rasto de destruição. Exemplo disso são os constantes abates de árvores quer para reestruturar o centro urbano, quer para dar seguimento ao (poeirento) projeto da Rede Ciclável. Uma coisa é certa: nitidamente a palavra “coexistência” não faz parte do vocabulário da Câmara Municipal da nossa cidade.
Como diria Donald Sutherland no filme The Hunger Games: “Que comecem os jogos!”
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