Um dia destes, no final de um encontro de apoio a um candidato a líder partidário, ouvi da boca de um jovem de dezassete anos de idade o seguinte comentário:
“Aquilo parecia um encontro de uma religião! De vez em quando todos se levantavam e gritavam… De braço no ar e dedos esticados.”
E, logo de seguida, com ar irónico continuou:
“E a entrada do senhor no auditório, do candidato a líder do partido? Ao som de uma música cansativa!… Aquilo parecia mesmo uma religião. Era marketing a mais e informação a menos.”
Não pude ficar indiferente ao que senti nos olhos daquele jovem: uma grande frustração, para não dizer mesmo uma certa indignação com aquilo a que assistiu, com o tempo e atenção que dedicou pela primeira vez a um encontro político-partidário. Depois de refletir durante estes últimos dias sobre aquele sentimento ali expresso, decidi partilhar consigo, caro leitor, algumas preocupações.
Existem alguns, poucos, jovens com idade que ainda não lhes permite exercer o seu direito ao voto, disponíveis para ouvir e que procuram os locais onde são emitidas as mensagens dos líderes políticos. Esses jovens, os poucos que se dirigem aos locais onde decorrem encontros político-partidários, saem de lá frustrados com a mensagem e com a excessiva encenação montada em torno da mesma. Pelo que vi nesse mesmo encontro, existe uma forte probabilidade desses jovens fazerem parte de uma ínfima minoria que ainda possuem um olhar interessado e crítico sobre a “coisa pública”.
A geração dos líderes políticos atualmente no poder está a correr o sério risco de falar cada vez mais para dentro de si mesma. As gerações vindouras estão cada vez menos sintonizadas com a parafernália propagandística das estruturas politico partidárias. A isso não será alheio, estou certo, a possibilidade que estas têm, de acesso instantâneo e permanente nos seus smartphones ligados à internet, a uma imensa e constantemente renovada quantidade de informação, sem fronteiras nem filtros ideológicos. E ainda para mais, o comum dos cidadãos, para além de recetor de informação, é, nos dias de hoje, também emissor de informação e opinião.
A crescente literacia, a interculturalidade, o proliferar do cruzamento transfronteiriço entre cidadãos oriundos de realidades sociais, políticas e económicas diversas, já não permite uma abordagem comunicacional a estas novas gerações baseada em festas populares, em adornos e iluminações de ruas e em visitas empresariais combinadas.
Aos líderes políticos no poder urge renovar a forma como comunicam com as pessoas. É sua obrigação primordial promover, à escala local e regional, para que todos tenham real acesso à participação, fóruns de discussão sobre o estado da nação, sobre os entraves e soluções para uma gestão mais eficiente dos recursos públicos: na saúde, na educação, na segurança, enfim, nas diferentes áreas da governação.
É também necessário evitar os discursos redondos, redundantes e estéreis. É preciso focar cada minuto de atenção nos cidadãos, no seu bem-estar, não no interesse pessoal. Servir, não se servir da causa pública. Utilizar cada frase dos discursos como instrumento de reflexão. Por último, é sobretudo urgente não condicionar a emissão de opinião, nem procurar tornar reféns do poder aqueles que dependem direta ou indiretamente do erário público.
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