Quando algum crime hediondo acontece, e nos últimos dias o país foi novamente sacudido com um desses em Peniche, cometido sobre uma indefesa criança de 9 anos, logo regressam aqueles que defendem a pena de morte como a solução para todos os males que assolam a sociedade.
Defender o horror nas redes sociais e na comunidade
Há os que defendem o enforcamento, a cadeira eléctrica, o espancamento até à morte, o apedrejamento. Outros vão ainda mais longe, vociferando que antes de morrer o criminoso deve sofrer horrores, para assim pagar devidamente pelos seus erros.
As redes sociais são inundadas com sugestões de um medievalismo que não lembra ao mais atroz torturador.
A morte não faz justiça a ninguém
Bem sei que, perante o choque e a comoção, muitas asneiras são ditas da boca para fora, como que a libertar a raiva que se sente, mas entre esses que as dizem estão também muitos que acreditam piamente que a morte faz justiça.
A morte não faz justiça a ninguém, muito menos nos pode deixar tranquilos ou dormir sossegados. A abolição desta pena, que apesar de tudo ainda vigora nos sistemas legais de muitos países do mundo, dos ditatoriais aos ditos democráticos, representa um retrocesso civilizacional.
Por outro lado, a sua erradicação impõe à sociedade um compromisso que vai para além do humanismo que a informa. Torna necessário que esta funcione devidamente nos seus mecanismos educacionais, de apoio social e económico. E quantas vezes não falha o sistema?
No caso da violência sobre as crianças, os especialistas apontam a família como a principal responsável e, isso sim, deve preocupar-nos a todos e constituir uma reflexão profunda da culpa que queremos expiar matando.
A pedofilia e os crimes a ela associados estão também muitas vezes na própria família ou em pessoas da confiança desta. Estão na igreja, no estado, ou seja, nas organizações e instituições que deveriam constituir garantes de protecção e segurança.
É, por isso, a sociedade que, doente em muitos casos, deve ser tratada. Usar a pena de morte como vacina é tornarmo-nos carrascos pela incapacidade em fazê-lo ou querer fazê-lo.
A violência doméstica sobre as mulheres é outro dos casos que nos deve envergonhar como povo, com as vítimas a não serem muitas vezes ouvidas nos seus gritos de desespero, ou mesmo desconsideradas, porque o machismo está por todo o lado como um cancro, até nos tribunais.
– Teve o que mereceu… era uma oferecida… andava sempre com saias curtas e as mamas à mostra… não é?
Não à pena de morte!
Há tanto para mudar, tanto para crescer em educação e respeito pelo semelhante. A história está cheia de crimes de conivência, de violência extrema, de extermínio. Está cheia do sangue dos inocentes, daqueles cujo único crime foi desejar a liberdade, a mudança.
Uma sociedade livre e justa não mata para punir, educa e reabilita.
O fim da pena de morte de morte é uma exigência dos que defendem os Direitos Humanos
Sei que muitos, ao lerem esta crónica, e neste exacto momento, estão a dizer para os seus botões: – Mais um lírico, um crente.
Dou-vos de mão beijada essa crítica. São livres de pensarem o que quiserem, já que o direito ao pensamento e à expressão são garantes da democracia. Mas antes de me chamarem um nome feio, pensem se são assim tão impolutos e capazes de “atirar a primeira pedra”.
É velha a expressão. Continuam velhos os tempos.
Imagem: Kamalthebest / Wikipedia
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