O Padre Manuel Moreira da Costa Santos, de Ribeirão, Professor de Teologia, “humanista afável e pensador” e uma “sentinela permanente” porque “a estima dos outros é a única cédula da nossa existência” foi alvo de sentida homenagem que decorreu num repleto auditório Prof. Doutor Isidro Alves, no Campus Camões, da Universidade Católica Portuguesa de Braga (UCP Braga).
Nesta cerimónia que incluiu a apresentação do livro “Igreja – Comunhão“, com textos de quinze antigos alunos seus e que contempla uma breve resenha da sua vida e obra, o Padre Costa Santos mostrou-se sensibilizado, mas principalmente “agradecido” aos muitos ex e atuais alunos, professores, sacerdotes, amigos e familiares, responsáveis do Seminário Conciliar de Braga e da UCP, que também quiseram homenagear o padre Costa Santos, com a sua presença e se deram ao trabalho de reconhecer que deixou marcas nas suas vidas e na vida da Igreja de Braga.
De facto, mais do que o lançamento do livro em si, uma coletânea de textos de ex-alunos da Universidade Católica, a cerimónia foi toda ela de gratidão àquele que mais do que Professor de Teologia, foi “amigo, acolhedor, pedagogo e homem de fé“, como destacou o padre José da Silva Lima, coordenador do livro.
A obra resulta de uma decisão tomada em 2017, quando o padre Costa Santos celebrou 50 anos de sacerdócio e os participantes nessa jornada sentiram que “faltava alguma coisa” – como lembrou José da Silva Lima, até porque “não é o livro que nos une, mas o professor que nos fez gostar dele”.
Recorde-se que Manuel da Costa Santos acompanhou ao longo da sua vida de professor centenas de alunos no Seminário Conciliar, mas tarde no Instituto Superior de Teologia e depois na Faculdade de Teologia de Braga.
“Muitas gerações foram abanadas pela sua singular sabedoria e ele atraía os alunos com os livros da literatura que citava abundantemente” – reforçou José da Silva Lima acrescentando que ele “fazia muitos admiradores pela actualidade do estudo e pela nobreza das relações que alimentava. É uma graça conhecê-lo”.
“Ninguém te pode tirar aquilo que meteres na cabeça”
O coordenador de “Igreja – Comunhão”, padre José da Silva Lima, agradeceu também à Editora Paulus por se associar a esta homenagem a um Padre que “ensina a honrar a palavra como sempre excelentemente a honrou connosco”, como mestre “sempre atento às nossas garatujas de liberdade”.
“Foi imenso o que nos legou como imensa é a fonte de saber de que si emana” – lembrou José da Silva Lima, dirigindo-se ao homenageado, porque “o seu estar connosco foi muito fecundo, pois ninguém era colocado de lado ou atirado para fora”.
“Quem não se lembra dos jogos de futebol” quando “nos ensinava que se aprende a jogar, jogando em equipa” ou então advertindo-nos que “pensar oxigena o cérebro e vale bem o tempo que dedicamos à leitura porque ninguém te pode tirar aquilo que meteres na cabeça”. José da Silva Lima não esqueceu a paixão de Costa Santos por Miguel Torga e outros escritores contemporâneos portugueses e europeus.
Por sua vez, Frei Tiago, da Editora Paulus, começou por dar conta da sua “inveja pelos alunos do professor Costa Santos” depois de ler algumas páginas deste livro: “Não é só um livro, mas um marco pelo que o senhor professor deixou na vida dos seus alunos, na Universidade, na Igreja e em Portugal”.
A cerimónia começou com a atuação do Coro do Seminário Conciliar de Braga que, sob orientação do maestro Carlos Miranda, cantaram os hinos do Seminário e da Faculdade de Teologia.
O primeiro a intervir foi o cónego Luís Miguel Rodrigues, diretor da Faculdade de Teologia de Braga, também ele ex-aluno. E ele próprio não escondeu alguma emoção pela presença do homenageado, avesso a estes gestos. Aliás, as intervenções que se seguiram foram todas no mesmo sentido: isto é, o agrado por o doutor Costa Santos ter aceite a homenagem, por estar presente, numa sessão em que a emoção e a gratidão foram sentidas e proferidas.
Pensar e agradecer
Os ex-alunos Susana Vilas Boas e o padre Vítor Sá foram deram os seus testemunhos. A ex-aluna preferiu falar da forma como o padre Costa Santos punha em prática a eucaristia para o dia-a-dia. “Porque só assim fazia sentido”.
Susana Vilas Boas destacou a sua “arte de deixar-se amar, uma arte que aprendemos com ele” porque ele “tem sempre o livro muito bom e nos coloca ao nosso dispor”.
O padre Costa Campos foi “pioneiro no ensino da Teologia, para todos, e um marcador humilde que deixou marcas em tanta gente como se fosse uma sentinela permanente. Ele é alguém que procura sempre mais. Sem si, seríamos irremediavelmente mais pobres” — destacou Vítor Pereira Sá.
Vítor Novais, actual reitor do Seminário Conciliar, começou por definir Costa Santos como “insigne mestre com uma pedagogia profunda” que honrou “sempre o seminário” e nos “incentivou a escutar o mundo para percebermos a grande dimensão da Teologia”.
O prof. Costa Santos colocou-se ao serviço da Igreja “para promover uma sabedoria teológica, propor um Seminário em saída para uma Igreja em saída ao encontro dos Homens, com uma profunda sensibilidade cultural”.
Na sua intervenção, o doutor Costa Santos mostrou serenidade, mas muito “agradecido“. Ao redor das palavras “pensar” e “agradecer“, que, segundo ele, em alemão, têm a mesma raiz e se pronunciam de forma muito parecidas, o homenageado construiu um texto, precisamente para agradecer e ensinar a pensar. Aliás, pensar foi uma das marcas que incutiu nos seus alunos ao longo dos 50 anos. Na sua intervenção citou várias vezes os pensadores Karl Rahner, Yves Congar e Martin Heidegger.
Socorrendo-se da semelhança entre as palavras pensar e agradecer em alemão — denken e danken —, o prof. Costa Santos encerrou a homenagem argumentando que “agradecemos pelo que devemos, pelo que nos foi dado. Enquanto pensamos no que nos dá que pensar, nós agradecemos”. “A estima dos outros é a única cédula da nossa existência” — sublinhou o homenageado, agradecendo que “a minha forma de estar vos terá dado que pensar”.
“As vossas vidas dão-me que pensar”
Citando alguns dos seus autores favoritos, como Karl Rahner, Yves Congar ou Martin Heidegger, porque “para ver mais longe temos de ir aos ombros dos outros”, como aconteceu com Rahner que aprendeu com Heidegger o “método de procurar os fundamentos e o fio condutor das verdades”.
“As vossas vidas e a vossa gratidão aqui celebrada hoje dão-me que pensar, agradecer” — concluiu o prof. Manuel Moreira da Costa Santos, nascido em Ribeirão, Famalicão, em 1944 e doutorado em Teologia há 50 anos.
Obs: Este texto foi previamente publicado no Minho Agora, tendo sido sujeito a ajustamentos de pormenor na presente edição.
Imagens: António Costa Guimarães
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