No mês de janeiro, mais concretamente no dia 15, assinala-se o Dia Mundial da Religião. Esta comemoração foi inicialmente criada pela Assembleia Espiritual Nacional dos Baha’is dos Estados Unidos da América, em 1950.
De caráter universalista, esta data passou a ser celebrada também por outras religiões, como forma privilegiada de incentivo ao diálogo e ao entendimento inter-religioso.
Nas sociedades contemporâneas, a racionalidade, a ciência, o individualismo e o materialismo promoveram o desencantamento do mundo, mas não esvaziam a necessidade genuinamente humana de encontrar um sentido para o Cosmos e a existência.
Após o desencantamento do mundo, característico da modernidade, que foi analisado pelo sociólogo alemão Max Weber e outros pensadores das ciências sociais e humanas, constata-se atualmente um processo pós-moderno de “reencantamento do mundo”, conforme assinalam o sociólogo e teólogo austro-americano Peter Berger e o sociólogo francês Marcel Gauchet, entre outros, marcado pela relação entre a racionalidade e a aspiração à espiritualidade.
A distinção entre religião e espiritualidade
É da maior relevância fazer a distinção entre religião e espiritualidade. Com efeito, a espiritualidade é anterior, mais ampla e mais fundamental do que as religiões.
Anterior, porque as religiões tiveram a sua origem na época neolítica, há 12.000 anos, enquanto a espiritualidade acompanhou a humanidade desde tempos imemoriais.
Mais ampla, porque as religiões são formas de espiritualidade que se desenrolam num determinado contexto temporal e em resposta a determinadas necessidades do estágio do processo evolutivo da humanidade.
Mais fundamental, porque as religiões são sistemas de mediações, enquanto a espiritualidade é a própria dimensão da humanidade no seu encontro com o Divino, ao longo de sua história, que se manifesta através dessas mediações.
Os cenários para o Século XXI
Relativamente à evolução da religião e a espiritualidade no nosso século XXI, podem ser identificados quatro cenários, seguindo os contributos de estudiosos na matéria, entre os quais o filósofo francês Martin Legros.
O primeiro cenário é o do retorno das religiões tradicionais renovadas. Existem razões para o sucesso das religiões ditas tradicionais. Face ao desenraizamento das sociedades contemporâneas, descobre-se que é essencial o laço comunitário e social das religiões. Com a oferta de um quadro de narrativas, símbolos e ritos, elas estruturam a relação do ser humano com o transcendente.
O segundo cenário é o da aceleração do processo de secularização, através da convergência das nanotecnologias, das biotecnologias, das ciências cognitivas e das tecnologias de informação. A ciência e a técnica poderão substituir a religião na resposta aos enigmas da humanidade.
O terceiro cenário é o que se pode chamar a era das espiritualidades. Não se acredita no Deus pessoal dos monoteísmos, mas também se não aceita que o Cosmos, a Vida e a humanidade se reduzam a partículas atómicas, células e neurónios. Talvez não se aceite a vida após a morte, mas também se recusa a afirmação ateísta segundo a qual “não há nada”. O sentimento de fusão na Natureza como um todo animado, a abertura ao infinito e ao absoluto, uma espiritualidade pós-teísta poderá ser a grande tendência do século XXI, que verá cada vez mais os crentes afastarem-se das religiões institucionalizadas e os não crentes espiritualizarem-se.
O quarto cenário é o do confronto entre os fanatismos e ps extremismos religiosos, agravado pela dinâmica da economia e da política a nível global, segundo o pensador alemão H. M. Enzensberger. Na sua perspetiva, com o atual modelo de globalização, o número de populações perdedoras tem aumentado constantemente, o que pode levar ao agravamento dos conflitos, nos quais a religião pode ser utlizada como instrumento de poder e de dominação.
Uma nova forma de viver a espiritualidade
Partindo da noção de que a espiritualidade é o sistema de princípios e práticas mediante o qual o ser humano intenta interagir com a dimensão mais sagrada da Vida, podemos considerar em que enquanto a humanidade persistir, a espiritualidade persistira, na medida que existe uma necessidade humana de busca pelo sentido da vida e de abertura à transcendência.
As profundas transformações do mundo atual, cada vez mais globalizado e interdependente, juntamente com a busca incessante do ser humano pelo sentido da existência, criam as condições para impulsionar decisivamente o desenvolvimento espiritual da humanidade.
Além disso, a Terra tem percorrido uma zona do Cosmos que se encontra exposta a fortes correntes energéticas oriundas do centro da galáxia Via Láctea. Além disso, há um realinhamento do nosso sol com o centro da nossa galáxia, um aumento constante da atividade solar e a diminuição do campo eletromagnético da Terra, o que tem repercussões nas vibrações energéticas de todos os seres humanos e não humanos.
O mundo tem evoluído através de ciclos cosmológicos que podem ser identificados astrologicamente. Estes ciclos de 2.160 anos são as chamadas eras astrológicas, cada uma com as suas energias cósmicas específicas, que marcam períodos específicos da história da humanidade, com a formação, a ascensão e o declínio de cosmovisões religiosas e espirituais.
Existem sinais de que a humanidade entrou numa fase de transição da era de Peixes para a era de Aquário. Apesar de não haver consensos sobre o seu início, existem evidências crescentes de transição de eras.
As eras não devem ser consideradas de forma estanque. Segundo a astrologia, o signo seguinte carrega a energia do signo anterior, dado que o fluxo da energia cósmica é feito através desta interligação. O mesmo acontece com as eras astrológicas.
No âmbito da transição para a era do Aquário, assume uma relevância especial integrar a verdadeira essência da era dos Peixes.
Se a era de Peixes está associada às grandes religiões institucionalizadas, merecendo destaque o cristianismo, à consolidação do patriarcado e a conflitos diversos, também é a era da consciência crística e do amor incondicional e universalista.
Com a transição para a era do Aquário, estão criadas as condições para o advento de uma nova era da paz, de fraternidade e da elevação da consciência humana, planetária e cósmica
Por conseguinte, haverá o reforço do desenvolvimento de uma nova forma de viver a espiritualidade.
Uma espiritualidade de inspiração mística, ecológica e cósmica, que tem sido preconizada por diversos movimentos espirituais, entre os movimentos e sub-movimentos da Nova Era.
Uma espiritualidade baseada nas seguintes ideias fundamentais:
– Toda a vida, na imensa diversidade das suas formas visíveis e invisíveis, é a manifestação de uma Realidade absoluta, eterna, ilimitada e imutável, conhecida com muitos nomes nas diferentes culturas.
– Todas as formas de vida são interconectadas e interdependentes.
– O propósito e a dinâmica de toda a existência é expressar o amor, a sabedoria e a iluminação.
– Os seres humanos são seres espirituais que vivem uma experiência material. Consequentemente, apresentam uma personalidade temporária transitória exterior e uma essência interior pluridimensional.
– O objetivo da encarnação do ser humano é conduzir as vibrações da personalidade exterior para uma ressonância cada mais elevada de amor.
– Os seres humanos têm a liberdade de escolher o seu caminho de vida, incluindo em matéria espiritual, sendo igualmente responsáveis pelos seus atos, sentimentos e pensamentos. Por conseguinte, são cocriadores da realidade, embora estejam sustentados pela dinâmica do amor cósmico.
– Os mestres espirituais são os seres humanos que expressam um grau especialmente elevado de amor incondicional, sabedoria e iluminação. Alguns destes grandes seres são bem conhecidos e inspiraram as religiões do mundo. Outros são desconhecidos e atuam de modo invisível.
– As diversas religiões são a expressão da mesma realidade interior.~
– Na atualidade, a evolução do planeta e da humanidade chegou a um ponto em que vivemos uma profunda mudança espiritual na nossa consciência individual e coletiva. Dai falar-se de uma Nova Era. Em grande parte, a nova consciência é o resultado de uma encarnação cada vez mais bem-sucedida do que alguns chamam de energias do amor cósmico. Essa nova consciência manifesta-se numa compreensão intuitiva da sacralidade de toda a existência e, em particular, da sua interdependência, da sua inter-relação e da sua interconexão.
– Atualmente, existem condições que propiciam o desenvolvimento da interespiritualidade, que pode constituir o diálogo e o encontro das vivências das diversas tradições espirituais da Terra.
O desenvolvimento de novas formas de viver a espiritualidade tem sido estudado por diversos investigadores.
Em Portugal, merece destaque a investigação da Dalila Monteiro, socióloga e terapeuta, que tem tido um papel fundamental no conhecimento do impacto da Nova Era nas práticas espirituais na sociedade portuguesa.
Segundo Dalila Monteiro, estamos perante um novo paradigma social e cultural, baseado na transculturalidade, ou seja, na interpenetração de culturas orientais e ocidentais.
A transculturalidade pode contribuir para o desenvolvimento de uma meta cultura espiritual, largamente difundida através de meios tecnológicos, como a Internet.
Dalila Monteiro entende que estamos a assistir ao advento de uma nova era com a espiritualidade da Nova Era, no contexto de mundo que busca o equilíbrio e a harmonia entre o yin e yang social.
Na sua perspetiva, estamos a assistir ao desenvolvimento de um novo paradigma, que enaltece a conexão com a natureza e o cosmos e, consequentemente, mais próximo do sentido e do significado profundo do que é ser humano.
Esta nova forma de viver a espiritualidade poderá contribuir para a elevação da consciência humana, nas suas diversas facetas, e para uma maior unidade e harmonia com o planeta e as forças que sustentam e animam a Vida.
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Imagem: Pixabay