Num partido ainda jovem, como o PAN – Pessoas-Animais-Natureza, que conta com uma base militante restrita, mas empenhada nas causas que o partido defende, uma mudança de liderança pode ter efeitos significativos, mesmo sísmicos. Neste caso, e numa avaliação puramente subjetiva, não me parece que a mudança de líder tenha beneficiado o PAN. Inês Sousa Real, a porta-voz do PAN, é competente e parece-me preparada, mas não gera empatia. A sensação de autenticidade e proximidade, transmitida pelo seu antecessor, deu lugar a uma impressão de distância e mesmo de artificialidade. Impressões subjetivas, já o disse, mas em política as sensações são importantes e, como dizia alguém de funesta memória, «em que política o que parece é». No caso do PAN, no entanto, o que está em causa nestas eleições não é apenas a avaliação dos líderes pela maior ou menos empatia que geram. O partido parece estar numa encruzilhada, sofrendo dores de crescimento que o deixam na dúvida adolescente se deve deixar crescer o bigode ou manter a frescura juvenil, com mais ou menos acne.
Como pode crescer o PAN?
Exemplo único no contexto português, o PAN afirmou-se em torno de uma causa muito concreta, tendo conseguido consolidar um razoável eleitorado em torno dela. A «causa animal» ganhou músculo e relevância na sociedade portuguesa, e o PAN soube ocupar esse nicho de mercado eleitoral de forma muito competente. Todavia, embora seja sólida, essa causa não é elástica, nem pode garantir um crescimento sustentável do partido. Crescer, agora, só mesmo para os lados, ou seja, entrando noutros eleitorados, sabendo que dessa forma corre o risco de ver fugir o seu eleitorado tradicional. É neste ponto que o PAN se encontra e é esta a raiz do problema que transparece nos debates.
«Nós temos coisas para dizer acerca da economia, do ambiente, do papel do Estado, da TAP, da Bazuca e de tudo o mais».
A Inês Sousa Real falta escolher um lugar de combate
Pois, talvez tenham, mas o que Inês Sousa Real tem dito sobre os magnos assuntos da governação não vale grande coisa. A visão infantil de que há «políticas boas» e «políticas más» desvalorizando a matriz ideológica que sempre dá forma a umas e outras, deixa o PAN Pessoas-Animais-Natureza sem nada de significativo para dizer. Aparentemente sem que disso se aperceba, esta equidistância ideológica atira o PAN para os braços dos liberais: crença na possibilidade de uma democracia não opositiva, em que os diferentes interesses se podem conciliar em torno dessa ideia abstrata de «bem comum» e embarque na fantasia da conciliação sem discussão (e correção) das desigualdades sociais e na visão seráfica do mundo tal com o mundo era no tempo em que os animais falavam. O problema é que escolher entre um posicionamento à direita em alguns casos e à esquerda noutros não é o mesmo que escolher dar ao gato «Whiskas» num dia e «Friskies» no outro. Num momento em que as velhas causas do partido – defesa dos animais, do ambiente e da natureza – têm cada vez maior concorrência, o PAN parece incapaz de sair de um consenso que neutraliza essas lutas. À Inês Sousa Real revelada nos debates falta compreender que tudo se joga no modo como pensamos os modelos económico, social e político em que vivemos ou queremos viver, e a isso só se chega escolhendo um lugar de combate. Enquanto se recusar a fazer isso só resta ao PAN esperar que os animais voltem a falar e ganhem direito de voto para crescer como partido.
Obs: texto previamente publicado na página de facebook de Luís Cunha, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.
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