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Interrogar o leitor com humor e ironia em ‘D. Casmurro’ de Machado de Assis

 

 

A edição de D. Casmurro de Machado de Assis que li é de 2011 e faz parte da Colecção Autores Premiados pelo Tempo. É mais um livro desta colecção dedicada a “grandes autores que nunca ganharam o Prémio Nobel reunidos numa colecção única e irreverente”. Ainda na contracapa pode ler-se:  “Machado de Assis não ganhou o prémio Nobel por ser brasileiro. O mais consagrado escritor do Brasil faleceu em 1908. A sua nacionalidade e o facto de a sua obra ter sido pouco reconhecida internacionalmente, poderão ter dificultado a atribuição do prémio.” 

D. Casmurro é um livro muito divertido, cheio de humor, ironia e muito bem escrito. Constituído por 148 pequenos capítulos, cada um revela um detalhe, uma história, uma peripécia da vida de D. Casmurro, que começa logo no primeiro capítulo por explicar o motivo da escolha do título, embora avise que, com o desenrolar da narrativa poderá vir a substituí-lo por outro. Com efeito, aqui casmurro tem o significado de “calado e metido consigo”. O narrador é, com efeito, um homem de idade já avançada, a viver uma vida bastante pacata e reclusa, limitada a cuidar do seu jardim, da horta e a ler e que decidiu escrever um livro que fizesse a ligação das duas pontas da vida: a juventude e a velhice.

Bento ou Bentinho Santiago, o narrador, de seu nome completo Bento de Albuquerque Santiago, parte dos seus 15 anos e vai por aí fora, apresentando personagens que foram determinantes na sua vida. Dirige-se ao leitor(a), questiona-o(a), dá-lhe pistas para o desenrolar da acção, prepara-o(a) para o que irá acontecer. A acção decorre no Brasil, na segunda metade do século XIX, no tempo do imperador D. Pedro II, quando ainda persistia o trabalho escravo. Bentinho pertence a uma família rica, católica, com escravos e todo o seu mundo tem a estreiteza e o peso de uma mãe viúva que fez uma promessa que o envolve directamente. À volta de D. Glória, a mãe, gravitam o tio Cosme e a prima Justina todos viúvos, o padre Cabral e José Dias, um parasita calculista, interesseiro e alcoviteiro, para quem os superlativos e os elogios são a melhor forma de sobreviver. Capitu, a amiga de infância, e Escobar, o amigo e colega seminarista são as outras personagens principais.

Mas claro que não vou contar a história. Em capítulos curtos, mas cheios de detalhes, vão sendo construídas as personagens e reveladas as suas personalidades; visualizamos cenas, sem que para tal sejam dados detalhes de forma explícita; o narrador consegue falar sobre coisas sérias, como pagar uma promessa, de forma extremamente divertida; o calculismo, a hipocrisia e a duplicidade vão sendo intuídos… Se algumas cenas são de grande teatralidade, noutras “o debuxo” precede “o colorido”.

No final, D. Casmurro pergunta ao leitor(a) se terá conseguido efectivamente ligar as duas pontas da vida, como tinha projectado no início da sua narrativa. Uma coisa é certa, este foi dos livros que li este ano o que mais me divertiu. Tinha referências da qualidade literária de Machado de Assis embora ainda nunca tivesse lido nenhum livro dele e, de facto, esta leitura foi uma experiência surpreendente.

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Imagem: CV

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