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Trocar a indignação pela ação

 

 

As declarações que têm sido feitas na comissão parlamentar de inquérito ao BES geraram e vão continuar a gerar o mais fácil de todos os sentimentos, o de indignação. Facilmente o espetador se sente indignado com tudo aquilo, disposto a barafustar e a pedir justiça. Tudo isso é fácil, mas serve de pouco. De que serve e a quem serve? Haverá alguns que à conta dessa indignação cavalgarão o corcel do moralismo, aproveitando para impor ordem à custa daqueles que veem a sua conta enriquecida com cento e poucos euros de RSI por mês. Apesar de serem tostões, esse «enriquecimento sem causa» indigna os bravos da lusa moral, muito deles legionários do Chega, que veem na «subsidiodependência» um alvo fácil de atingir sem macular o que de verdade conta, ou seja, sem atingir a indignidade que o inquérito parlamentar nos mostra.

Usar a indignação presente para treinar a indignação futura

Essa indignidade há de passar sem castigo ou correção. Num país em que nada se inscreve, aprendemos a atirar para trás das costas as tragédias e as comédias, especialidades que os inquiridos nos têm oferecido em abundância. A arrogância com que respondem é já expressão da impunidade que os espera, enquanto a satisfação consigo próprios responde pela certeza de que fizeram tudo bem. E fizeram. Os errados somos nos, e por isso nos cabe a nós pagar a conta! Siga a dança, portanto. Quanto a eles, limpos ou sujos, hão de sair dali com as contas bem aforradas, prontos para iniciar um novo ciclo de especulação, com proveito para os mesmos e prejuízo para os de sempre. Só nos resta mesmo usar a indignação presente para treinar a indignação futura, chegue-nos ela com os mesmos cromos ou com uma caderneta renovada.

Nova elite só produz pobreza, poluição, desespero e morte

A indignação inconsequente é o consolo dos impotentes. Importa passar além da indignação. Não vou dizer que é hora de afiar a faca e ressuscitar as sete mulheres do Minho, com a Maria da Fonte à cabeça, mas é mais que hora de pôr a nu esta elite empresarial, bem vestida e bem composta, que nada para oferecer à turba-malta que pasma diante dos ouropéis com que nos acena. Não, nem sequer estamos diante dos velhos capitães da indústria, demiurgos do capitalismo e da exploração proletária. Esses, ao menos, produziam coisas, geravam riqueza, mesmo que possamos e devamos discutir de que forma essas riquezas se (não) distribuíam. Esta nova elite só produz pobreza, poluição, desespero e morte. A isto assenta bem o neologismo que John Ruskin usa para contrapor a «wealth» – «illth». O mundo dos milhões acumulados à custa da mera especulação, das transações sucessivas, das reestruturações de dívidas, de planeamentos fiscais, de uso e abuso de paraísos fiscais, em suma, da mera circulação de riqueza virtual, que só se torna real quando todos nós, contribuintes sem entrada nesse clube de elite, somos chamados a pagar a conta.

Uma mão vazia e outra cheia de coisa nenhuma

À semelhança do que sucedia com os capitães da indústria, os campeões da finança vendem-nos ilusões. Os primeiros iludiam-nos com a importância de alcançarmos o que eles produziam, assim nos atirando para uma ânsia de consumo que nos reduziu a escravos do trabalho. Os segundos não nos aprisionam pela ânsia de consumo mas pela armadilha do crédito, que apenas serve para recomprarmos o que já nos pertencia – desde os espaços públicos de que se apropriam, aos bens essenciais, como a água e a energia, maná de rendas infinitas que alimentam essa máquina-de-fazer-nada. Os milhões que assim se geram correspondem justamente a esse nada, por isso surgem e somem, para logo ressurgir e de novo desaparecer, sempre com a arte mágica de quem tem uma mão vazia e outra cheia de coisa nenhuma.

Pôr um fim a esta dança

A dança e contradança de milhões reais e virtuais há de seguir. Continuaremos a assistir a exercício ritual de esquecimento, descaso e arrogância dos inquiridos no Parlamento. A mediocridade daquela gente devia, no mínimo fazer desabar um dos pilares do liberalismo: o da meritocracia. Por amor da Santa! Que mérito têm aqueles capitães da alta finança que diante de nós desfilam? Pobres de pedir, têm de seu quase nada – um palheiro, uma garagem, parte de um automóvel! Inimputáveis criaturas, nada sabem do que fizeram ou fazem, do que administram ou administraram, onde guardaram as poupanças, se no bolso roto, se na carteira furada. Um chipanzé faria o mesmo que eles, e desconfio que a troco de menos. Se o sistema liberal assenta na premiação de quem tem mérito e o mérito está do lado destes campeões, então o melhor mesmo é meter a viola na saco e pormos fim a esta dança, nem que seja à moda da Maria da Fonte, com as pistolas na mão!

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Imagem: ARTV


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