Rogério Tabet é médico, ginecologista, obstetra com formação há mais de 21 anos pela Unilus – Centro Universitário Lusíada, de Santos – S. Paulo, no Brasil. Mais conhecido como Dr. Bigodin, atua no atendimento pré-natal de alto risco, atendimento especializado em ginecologia e, mais recentemente, através de telemedicina. Para lá disso, o Dr. Rogério Tabet atende ainda no Sistema Único de Saúde (SUS) há 17 anos, em tratamentos ambulatórios e pronto-socorro.
Em meio a um contexto de tantas incertezas, o Dr. Rogério Tabet concedeu uma entrevista em exclusividade, em que faz vários esclarecimentos sobre o seu projeto ‘Humaniza SUS’.
João Costa: O que é o “Humaniza SUS” e qual a finalidade?
Rogério Tabet: Quando se fala em âmbito nacional sobre humanização do SUS, podemos nos referenciar na Política Nacional de Humanização, criada pelo Ministério da Saúde, em 2003. De modo resumido, é trabalhar transversalmente a temática da humanização, impactando nas diversas políticas de saúde, objetivando a qualificação da atenção e gestão do SUS.
Esta Política Nacional de Humanização tem três princípios básicos:
- Unificação da atenção e gestão dos processos de produção da saúde;
- Transversalidade e autonomia para o protagonismo das pessoas; e
- Constante atualização, em busca dos princípios do SUS, pautados na coletividade, não só envolvendo o governo federal, mas também níveis estaduais municipais.
Em meu ponto de vista, a principal finalidade é tornar cada um dos profissionais protagonistas na busca de uma gestão qualificada, universal, integrando o cuidado e humanização para todos.
João Costa: O que o motivou a fazer uma abordagem humanizada aos pacientes?
Rogério Tabet: Desde muito cedo, ainda como residente nos hospitais públicos, eu pude perceber o quanto as pessoas estavam carentes de cuidados ‘primários’. Elas iam ao hospital para serem curadas, ou para que pudéssemos aliviar seus sofrimentos. No entanto, embora a Medicina como ciência e profissão, tenha o embasamento teórico e a oferta de tratamentos e medicação para o atingimento dos objetivos de cura e alívio da dor, nunca fiquei insensível às mazelas e a observação do ser humano completo, composto de corpo, mente e espírito. Cada um dos pacientes que eu atendo não são meros pacientes são seres humanos, assim como eu, que necessitam de cuidados extras de humanização e afeto.
João Costa: Como o senhor tem visto a atuação dos profissionais do SUS (Sistema único de Saúde) frente à covid-19?
Rogério Tabet: Estar vivendo em uma pandemia, onde você pode, diariamente, se deparar com a morte, é uma situação de stress intensa, que abala a constituição de qualquer ser humano. Os profissionais da saúde que estão na linha de frente, ao assumirem suas responsabilidades de cuidar e aliviar os sofrimentos, estão exercendo suas funções essenciais como médicos. Além destes, temos os enfermeiros, fisioterapeutas, faxineiras. Todos que estão na linha de frente têm o meu respeito e admiração, pois estão realizando o seu propósito aqui, independente das situações de stress que vivenciam diariamente.
João Costa: Como levar mais qualidade de vida para as pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza?
Rogério Tabet: Esta é uma pergunta muito difícil de ser respondida. Ainda na faculdade estudamos a Pirâmide de Maslow que fala das cinco categorias de necessidades humanas: fisiológicas, segurança, afeto, estima e a autorrealização. A principal necessidade que está na base contemplam as necessidades fisiológicas, sono, comida, etc… Se você não tem o que comer como pode pensar em qualidade de vida? Desta forma, como humanista, o mínimo que eu posso pensar em levar é esclarecimento, cuidado e alegria, por meio de um sorriso e de um atendimento humanizado.
João Costa: Como médico, quais são as situações mais delicadas com as quais o senhor se depara no “Sistema Único de Saúde”?
Rogério Tabet: Vivemos hoje em um sistema onde as métricas de qualidade são mensuradas por números, isto muitas vezes impacta para que tenhamos um atendimento mais personalizado.
Além disso, a colaboração deveria ser mandatória nas diferentes áreas, seja na atuação em uma consulta, nas escolhas em uma administração de vagas, ou mesmo nas discussões em um conselho gestor. Acontece que, por sermos seres humanos com diferentes ambições e individualidades, a colaboração para o meu comum, muitas vezes não é a grande prioridade aplicada.
João Costa: Quais são as carências mais relevantes que o senhor percebe na área de saúde e quais as políticas públicas que deveriam ser implementadas para diminuir as desigualdades?
Rogério Tabet: Nestes 17 anos de SUS, enxergo que existem falhas de todos os atores. Pelo lado do paciente, existe aquela cultura de uma “receitinha”, só assim fica satisfeito e entende que foi bem atendido. Por outro lado, a falta de humanização quando se fala de usuário, gestor e trabalhador. Na administração há interesses econômicos e políticos, e não voltamos para o ser humano. Posso parecer utópico, mas não sou.
Sei da necessidade de abordar a saúde como negócio, dentro de um âmbito de planejamento de orçamento público, o que quero dizer aqui é que os interesses particulares sejam econômicos e políticos de cada gestão ficam à frente de decisões voltadas para o bem-estar da população. Finalmente, vejo políticas de gestão ultrapassadas que engessam ações resolutivas adaptadas ao seu tempo, impedindo assim a desburocratização da saúde pública.
João Costa: O que o senhor tem feito para de algum modo aliviar o sofrimento destas pessoas?
Rogério Tabet: Eu acredito na informação e na alegria para que possamos enfrentar a batalha diária. No meu atendimento nos ambulatórios procuro sempre trazer um sorriso, informação e conforto para meus pacientes. Além disso, hoje tenho diversos canais em Redes Sociais, onde contribuo com informações e crio engajamento com meus seguidores. É exemplo disso mesmo o “Café com o Dr. Rogério“.
João Costa: Sabemos das dificuldades enfrentadas nas unidades de saúde de todo o Brasil. Como é para o senhor, como Ginecologista e Obstetra, fazer um procedimento de Gestação de Alto Risco em hospitais públicos?
Rogério Tabet: Atuar como Ginecologista e Obstetra na gestação de Alto Risco na Saúde Pública é ainda mais gratificante e desafiador. Temos muitas dificuldades sim, mas aquela paciente que está ali, necessitando de cuidados, é um ser humano assim como a paciente de um hospital de alto padrão. Na hora do atendimento não enxergo as dificuldades. Enxergo sim o ser humano e me preparo para dar o melhor para aquela pessoa que está ali precisando de ajuda.
João Costa: Quais as suas considerações finais?
Rogério Tabet: A Saúde Pública tem muitos problemas sim. Mas existem muitos países, como os Estados Unidos, que não conferem o direito à saúde gratuita a seus cidadãos. Este deveria ser um direito universal. O SUS tem problemas, mas também tem soluções que somente ele pode oferecer, como hoje a FIOCRUZ foi responsável pelo desenvolvimento da vacina nacional contra a COVID-19. Tenho um objetivo de humanizar e oferecer serviço de qualidade para os que mais têm necessidade. Perseguirei este objetivo com garra e determinação.
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Imagens: RT
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