8 de março de 415. Alexandria, Egito, então província do Império Romano do Oriente. Uma multidão de fanáticos atacou e matou de forma bárbara uma mulher. O seu nome era Hipátia, filósofa, matemática e astrónoma, uma das mulheres mais fascinantes da Antiguidade Clássica e da História da humanidade, que tinha liderado uma escola de filosofia na qual coexistiam pessoas de diversas crenças religiosas que partilhavam o amor pela sabedoria e pelo (auto)conhecimento como vias privilegiadas da elevação da consciência humana.
Na sua obra magistral ‘Cosmos‘, Carl Sagan analisou lucidamente a morte de Hipátia e as suas consequências trágicas:
“Há cerca de 2.000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida, na nossa História, e a sua base era Alexandria. Apesar das grandes oportunidades de florescer, ela decaiu. A sua última cientista foi uma mulher, considerada pagã. O seu nome era Hipátia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto às ciências e devido a Alexandria estar sob o domínio romano, após o assassinato de Hipátia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares de preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e com ela todo o progresso científico e filosófico da época”.
Este texto explora uma história alternativa de Hipátia e do Império Romano no século V, com consequências notáveis no percurso histórico da Humanidade.
A época de Hipátia
Hipátia nasceu em Alexandria, uma das principais cidades do mundo de então, com um milhão de habitantes.
Alexandria foi fundada em 331 A:C. por Alexandre Magno, prestigiada pela Biblioteca, pelo Museu (um grande centro filosófico e científico) e pelos seus templos. Mas também era um centro da maior importância para o judaísmo e o cristianismo. Em Alexandria, localizava-se a maior comunidade judaica fora da terra bíblica de Israel, na qual foi feita a tradução das Escrituras Hebraicas (Antigo Testamento) da língua original para o grego, então a língua internacional por excelência.
Alexandria acolhia também uma comunidade cristã forte e vigorosa, merecendo destaque a célebre Escola Catequética de Alexandria, porventura o principal centro de pensamento teológico do cristianismo dos primeiros séculos.
Na sua qualidade de capital do Egito, uma das principais possessões romanas, era governada por um prefeito nomeado diretamente pelo Imperador.
Em 395, com a morte do imperador Teodósio, o Império Romano foi definitivamente dividido em dois: o Império Romano do Ocidente, com capital em Roma, e o Império Romano do Oriente, com capital em Constantinopla.
Uma mestra da sabedoria
Hipátia teve uma formação multidisciplinar, englobando filosofia, matemática, astronomia, religião, poesia, música, artes, oratória e retórica.
A filósofa e matemática detinha uma grande autoridade ética. As generalidades das fontes históricas descrevem-na como um modelo de coragem ética, retidão, veracidade, dedicação cívica e elevação intelectual. A virtude mais venerada nela pelos contemporâneos era a sua sophrosyne, um estado de espírito caraterizado peto autoconhecimento, que enquadrava tanto a sua conduta social como as suas qualidades interiores. Manifestava-se através na moderação do modo da vida, na modéstia, e na dignidade da atitude que mantinha tanto perante os seus alunos como perante os que tinham posições de poder.
Hipátia valorizava o amor pela sabedoria na sua diversidade e a liberdade de espírito. Daí ter na sua escola alunos pagãos, cristãos e judeus. Entre os seus alunos cristãos, mereceram ênfase Sinésio, bispo de Plotemais, cidade situada na Cirenaica (atual Líbia) e Orestes, prefeito do Egito.
O confronto com Cirilo
Em 412, Cirilo tornou-se patriarca de Alexandria e a violência contra os pagãos, os judeus e os cristãos considerados heréticos ou dissidentes tornou-se cada vez mais frequente.
O prefeito imperial, Orestes, antigo de Hipátia, tentou restabelecer a ordem pública e enfrentou diretamente o cada vez mais poderoso patriarca. Frequentemente, buscava o aconselhamento de Hipátia e de Sinésio.
Perante a violência crescente de Cirilo e dos seus adeptos, Hipátia sugeriu a Orestes que buscasse o apoio mais firme da família imperial. Sinésio concordou com a ideia e propôs a realização de um concilio que destituísse Cirilo e condenasse a deriva cada vez mais dogmática e intolerante do cristianismo oficial, a qual punha inclusive em causa os ideais da mensagem autêntica de Jesus, o Cristo histórico. Para tal, contava com o apoio de um número significativo de bispos e dos monges do deserto, monges que se identificavam com uma visão mística e inclusivamente gnóstica do cristianismo.
No início de 413, Orestes, acompanhado por Hipátia, deslocou-se a Constantinopla, a capital magnificente do Império Romano do Oriente.
O objetivo da viagem era obter o apoio do governo central imperial para a destituição de Cirilo e a ilegalização dos parabolanos, os monges fanáticos que exerciam um terror crescente em Alexandria e no Médio Oriente.
Nesta viagem, deu-se um acontecimento que mudou a vida de Orestes e o próprio curso da História.
O imperador reinante era Teodósio II, ainda menor, mas a verdadeira governante do Império era a sua irmã Aelia Pulquéria.
Pulquéria era uma mulher muito inteligente e perspicaz, que valorizava a espiritualidade. Mas era muito devota do cristianismo ortodoxo, o que a aproximava de Cirilo.
Oretes era um homem determinado, com uma presença forte e magnetismo. Interessava-se pelas ideias, com a condição de poder traduzir tudo em ações concretas.
Recebido em audiência, Orestes saudou Pulquéria com um olhar simultaneamente firme e profundo.,
Aquele trocar de olhares ruiu os muros que Pulquéria tinha construído no seu interior. Que a fez perceber que a vida era mais ampla e rica do que alguma vez tinha imaginado nas suas nas deambulações pela espiritualidade e pela filosofia.
Na sua reunião com Pulquéria, Orestes expôs que a política religiosa de Cirilo colocava em causa a essência autêntica do cristianismo e a coesão do Império Romano.
A audiência foi uma experiência avassaladora para ambos. Da aproximação entre Pulquéria e Orestes resultou rapidamente um amor secreto. A sua ligação era simultaneamente íntima e politica.
Perante Pulquéria, Orestes defendeu reformas profundas para o Império Romano. A estratégia reformista de Orestes preconizava uma rutura com o sistema centralista de governação que tinha caraterizado o Império Romano na maior parte da sua história. Orestes defendia a descentralização, com a correspondente ascensão das populações de cada território a uma consciência cívica cada vez mais clara e firme do que era a parte e do que era o todo. Deste modo, cada população, cada território, poderia ir governando os seus assuntos próprios, consciente de que eles se incluíam num mundo mais amplo – o romano – que a todos dizia respeito. Com esta via, a consciência da unidade na diversidade não colocara em causa – antes pelo contrário – a união de todas as partes no todo imperial. Quanto à questão da unidade, Oreste acalentava a esperança da reunificação do Império Romano, congregando o Oriente e o Ocidente romanos.
Orestes defendia também que a paz religiosa, condição fundamental da paz social, no seu sentido mais amplo, passava pelo reconhecimento da pluralidade de crenças, o que implicava o reconhecimento da liberdade religiosa, indo ao encontro do espirito original do édito de Milão, o famoso ato legislativo de 313, promulgado pelo imperadores Constantino e Licínio, que colocou fim às perseguições do Império Romano aos cristãos.
Pulquéria ficou igualmente impressionada com Hipátia e com a sua postura que combinava sabedoria, moderação e atitude elevada. Mostrando um grande respeito pelos princípios cristãos de Pulquéria, Hipátia mostrou-lhe a grande relevância do estudo comparado das diversas áreas do conhecimento humano e da dimensão mística e esotérica da espiritualidade, que era o fundamento de diversas correntes espirituais, incluindo o cristianismo. Além disso, num mundo dominado por homens, Hipátia e Pulquéria consideravam que a aliança entre duas mulheres poderosas poderia fazer a diferença. Deste modo, criou-se uma aliança firme entre Hipátia, Pulquéria e Orestes.
A destituição de Cirilo e a evolução religiosa
Na qualidade de regente imperial, Pulquéria convocou um concílio com a presença de bispos e de outros representantes eclesiais do Egito e da Líbia.
Apos um debate acalorado, o concilio aprovou a destituição de Cirilo e a eleição de Sinésio como patriarca de Alexandria. Cirilo foi exilado para a zona fronteiriça do rio Danúbio.
Pulquéria pretendeu mudar a política religiosa. O cristianismo permaneceu como religião oficial, mas a liberdade religiosa para os não cristãos foi reconhecida. A paz religiosa foi proclamada como um objetivo prioritário a alcançar.
Pulquéria pediu ao patriarca alexandrino Sinésio, ao bispo de Roma, o papa Inocêncio, e ao patriarca de Constantinopla, Ático, para presidirem conjuntamente a um concilio ecuménico em Jerusalém.
Sob o impulso de Sinésio, o concílio ecuménico de Jerusalém aprovou um novo entendimento sobre a compreensão da relação de Jesus, o Cristo, com Deus, influenciado pela visão gnóstica do cristianismo.
De acordo com o concilio, Cristo é a inteligência infinita de Deus, presente em toda a Criação. O Cristo Cósmico é a expressão viva do Amor Divino, ao mesmo tempo transcendente e imanente, e consequentemente da mesma substância e natureza. O Cristo Cósmico é a consciência divina universal e a unidade com Deus, manifestada por Jesus e que todos nós somos convidados a manifestar. Deus estava em Jesus, da mesma forma que Deus está dentro de todos nós.
O Concílio de Jerusalém realçou também a experiência espiritual e no autoconhecimento como chaves para a salvação e a união com Deus.
O resultado do concílio ecuménico não foi consensual. Perante esta situação, foi promulgada legislação imperial que promoveu o reconhecimento institucional de diversas confissões cristãs: gnóstica, ortodoxa, marcionista, pelagiana, marcionista, etc. Isto levou a uma fragmentação do cristianismo e a um declínio do seu poder hegemónico.
Em paralelo, Hipátia foi a impulsionadora de um novo movimento espiritual de inspiração neoplatónica.
Este movimento reconhecia uma Realidade absoluta, eterna, ilimitada e imutável, que manifesta tudo o que existe. Este movimento acreditava numa vasta pluralidade de mensageiros divinos. Valorizava a sabedoria dos filósofos gregos clássicos, como, Pitágoras, Sócrates e Platão, e outros seres sábios, como o faraó egípcio Akhenaton e figuras judaico-cristãs como Abraão, Moisés e o próprio Jesus. Ao cooptar a figura e a mensagem de Jesus como um exemplo (e não o único exemplo) de alguém que se tornou divino, o neoplatonismo espiritualista granjeou a adesão de muitos cristãos.
De uma forma discreta, o poder imperial apoiou o cristianismo gnóstico e o neoplatonismo espiritualista, entendidas como correntes promotoras de uma espiritualidade moderada e tolerante.
A reunificação do Império
Em 414, Pulquéria casou com Orestes e ambos foram proclamados augustos do Império Romano do Oriente.
Entretanto, o Império Romano do Ocidente estava especialmente vulnerável às invasões dos povos germânicos.
Um dos principais fatores destas invasões foi a movimentação dos hunos, um povo de cavaleiros nómadas, oriundo da Mongólia. Avançando pelo mar Negro em direção ao Danúbio e à Europa central e utilizando técnicas bélicas especialmente agressivas, os hunos obrigaram os povos germânicos à sua submissão ou à entrada violenta no mundo romano.
Pouco depois de 400, as tropas romanas evacuaram a Britânia, que foi na prática abandonada perante as investidas dos anglos e dos saxões. Em 406, os suevos, os vândalos e os alanos atravessaram o rio Reno e invadiram a Gália e posteriormente a Hispânia, onde estabeleceram reinos próprios, chegando a um acordo com Roma.
Em 410, os visigodos entraram em Itália e saquearam Roma, o que causou uma impressão extraordinária no mundo mediterrânico no seu todo. Posteriormente, os visigodos estabeleceram-se como federados, isto é, aliados formais do Império, no sudoeste da Gália.
Perante esta situação, Orestes defendeu o estabelecimento de uma aliança militar entre os dois impérios romanos, incluindo a formação de expedições militares conjuntas para a libertar a Hispânia e a Britânia
Após algumas hesitações, o imperador romano ocidental Honório aceitou a celebração da aliança. Entre 416 e 418, as tropas romanas conjuntas, lideradas por Orestes, tiveram um êxito impressionante. Os alanos, os vândalos e os suevos foram esmagados. Posteriormente, os sobreviventes foram integrados no exército imperial.
Em 419, Orestes desembarcou na Britânia, onde apoiou os bretões romanos, de cultura mista romana e celta, e repeliu os anglos e os saxões. Também invadiu a Caledónia, derrotando os pictos.
Mas a ação de Orestes não se limitou à dimensão militar. Na Hispânia e na Britânia, Orestes promoveu reformas administrativas e foi implacável com a corrupção, o abuso do poder a indisciplina.
A postura proativa de Orestes contrastava com a incapacidade e o desnorte estratégico de Honório. Tradicionalmente, as elites políticas e militares do Ocidente tinham opunham forte resistência à interferência do Oriente romano nos seus assuntos, mas a reunificação surgiu como como uma condição crucial para a sobrevivência do Império Romano no seu todo.
Em 420, quando regressou a Roma, onde foi recebido entusiasticamente, Orestes depôs Honório, atribuindo-lhe uma generosa pensão anual e propriedades na Campãnia. Teodosio II foi proclamado imperador do Ocidente, assinalando a reunificação do Império Romano.
O imperador Teodósio II conferiu a Orestes concedeu-lhe autoridade legal para governar o Ocidente em seu nome. Deste modo, formou-se uma espécie de triunvirato imperial, formado por Teodósio II, Pulquéria e Oretes.
A nova organização imperial
Em 425, foi promulgado uma constituição imperial para o Império Romano reunificado. O Império Romano foi considerado como um Estado uno e indivisível.
A fonte da soberania era a própria Divindade, tal como como acontecia em todos os estados da Antiguidade. Contudo, apresentava um elemento inovador, O poder soberano, sendo de origem divina, é transmitido ao povo, e do povo é que vai, se ele assim o determinar, para os governantes. Esta doutrina – doutrina da ordem popular do poder ou, como se dirá mais tarde, doutrina da soberania popular – conjugada com o ensinamento da origem divina do poder, pode condensar-se na fórmula “todo o poder vem de Deus através do povo”.
Neste sentido, o sistema político configurou-se como um regime misto. Uma monarquia moderada, limitada, controlada e temperada pela aristocracia e pela democracia onde os diversos elementos de equilibravam uns aos outros. Baseava-se no pensamento de Aristóteles e de Cícero, entre outros filósofos. Assim, a monarquia garantiria a unidade e a eficácia do poder; a aristocracia permitiria contribuir com a superioridade do mérito para a boa administração; e a democracia asseguraria a liberdade dos cidadãos e a sua participação na governação.
O imperador era o representante supremo do Império, assegurava o funcionamento dos poderes públicos, sancionava e promulgava as leis, exercia o comando supremo das forças armadas e em nome do qual era administrada a justiça. Os ministros e os altos dignitários imperiais eram nomeados e demitidos livremente pelo imperador.
A constituição estabelecia um parlamento bicameral constituído por uma camara alta composta por membros vitalícios de nomeação imperial e uma camara baixa constituída por representantes dos estados eleitos através de eleições indiretas. O poder legislativo era partilhado entre o imperador e o parlamento.
A constituição imperial consagrava um conjunto de direitos fundamentais, apesar da existência de uma sociedade na qual uma grande parte da população (15%, segundo os estudos mais precisos) estava sujeita à condição escrava. No que dizia respeito aos escravos, a constituição colocava a população escrava sob a proteção da lei e do governo imperial e criou condições para o declínio gradual da escravatura.
Apesar da existência da escravatura e de graves desigualdades sociais, a constituição imperial foi um grande avanço civilizacional.
Em termos de organização territorial, o Império Romano tornou-se numa federação constituído por estados federados: Britânia, Gália, Hispânia, Africa, Egito, Síria, Ásia Menor, Ponto, Grécia, Itália, Ilíria e Itália. Posteriormente, foram criados outros estados, como foi o caso de Israel.
A federação seria governada como um superestado. Assim, a unidade imperial poderia ser mantida, embora ainda permitindo um governo mais representativo. Os territórios aumentariam a sua autonomia, enquanto Roma seria capaz de partilhar as responsabilidades da defesa e segurança imperiais.
As autoridades federais tratariam da defesa, relações exteriores, moeda, comércio e outros assuntos que afetassem o Imperio no seu todo.
Deste modo, as melhores características dos grandes estados podiam ser combinadas com as melhores características dos pequenos estados.
Cada estado federado dispunha de autonomia relativamente ampla e de instituiÇoes proprias. Com efeito, cads estado teria a sua assembleia representativa e um consul nomeado pelo imperador. A constituiÇao imperial garantia gualmente a autonomia das provincias e dos municipios.
Foi promovida amplas reformas, de modo a assegurar a eleição transparente dos órgãos políticos aos níveis estadual, provincial e municipal e o desenvolvimento de um funcionalismo público baseado na meritocracia e não por padrões de clientelismo politico ou de pertença a determinados grupos sociais. As forças armadas foram igualmente reestruturadas em termos de organização, disciplina logística e equipamento, tendo sido promovido o serviço militar obrigatório em detrimento de recurso a militares germânicos.
Em 430, Teodósio II, cujo estado de saúde era débil, abdicou do seu trono imperial a favor do casal formado por Pulquéria e Orestes, que tinham a sua descendência garantida através do seu filho primogénito Rómulo Augusto.
O ressurgimento de Roma
Uma reforma de especial relevância foi inspirada por Hipátia, que foi a reforma da educação. Foi publicada legislação que definia as linhas gerais do sistema educativo imperial.
A população foi classificada em dois grandes grupos: aqueles para quem seria suficiente ler, escrever e contar e aqueles que deveriam frequentar as universidades, instituições que na estratégia imperial tinham grande importância política, porque eram elas que tinham a missão de formar as novas elites meritocráticas do novo Império Romano reformado.
Foram criadas universidades em todo o império, que foram planeadas para ser centros privilegiadas de conhecimento, da investigação e da inovação.
Através de um sistema de acesso seletivo e de exames exigentes, formou-se um escol muito preparado, capaz de dirigir o Império aos mais diversos níveis.
Para ensinar a ler, escrever e contar, bem como a educação física e a formação cívica básica, estipulou-se a criação de escolas elementares em todos os municípios do Império.
Entretanto, uma ameaça de enorme gravidade ameaçou o Império. Durante algum tempo, os hunos e os romanos tinham mantido uma coexistência relativamente pacífica. Contido, na década de 440, os hunos, liderados por Átila, iniciaram uma política de expansão vigorosa e começaram a atacar agressivamente os territórios romanos. Orestes estabeleceu uma aliança com tribos germânicas como os francos, os saxões, os burgúndios, os visigodos e os ostrogodos. Como contrapartida do apoio militar romano, estas tribos tiveram que aceitar a suserania romana, tornando-se povos vassalos e clientes. Em 450, na Batalha dos Campos Cataláunicos, no norte da Gália, o exército conjunto romano e germânico, comandado por Orestes, derrotou os hunos e Átila foi morto. O império huno desfez-se como um baralho de cartas, criando um forte vazio de poder na Europa central, o que foi aproveitado pelos romanos. As legiões romanas avançaram até ao rio Oder, o que levou à incorporação da Germânia no conjunto imperial romano, permitindo a este aceder de vastos recursos florestais e minerais.
O legado
Um Império Romano unido e reformado estaria em condições de enfrentar as invasões dos povos germânicos e dos hunos que caraterizaram o século V.
Se o Império Romano se tivesse mantido unido e promovido reformas estruturais, a humanidade estaria mais avançada a diversos níveis e não teria experienciado a denominada Idade das Trevas.
É importante ter em conta que o fim do Império Romano do Ocidente foi uma época de grandes perturbações que destruiu uma civilização complexa e sofisticada, levando as populações da Europa ocidental e do norte de África a um retrocesso civilizacional sem precedentes. Por seu turno, o Império Romano do Oriente, cada vez mais dividido, não foi capaz de enfrentar as invasões oriundas da Península Arábica, no século VII, embora tenha sobrevivido, cada vez mais limitado, até ao Século XV.
Após enfrentar as ameaças externas, um Império Romano unido e reformado estaria em condições de constituir um modelo de sociedade cosmopolita, próspera e bem governada.
A influência crescente dos ideais cristãos e neoplatónicos levaria a reformas no sentido de um ordenamento jurídico gradativamente mais baseado na valorização da dignidade humana e de políticas de superação das desigualdades sociais mais graves, como por exemplo a escravatura.
Existiriam condições para a circulação mais livre de ideias que permitiria inovações científicas e tecnológicas mais aceleradas. É fascinante imaginar Hipátia comprovar a validade do sistema heliocêntrico, promovendo uma nova compreensão da relação da humanidade com o Cosmos.
O aço era conhecido dos Romanos, promovendo a modernização de equipamentos tão diversos como as armas, as estruturas dos edifícios e as alfaias agrícolas, contribuindo para a melhoria da produtividade agrícola e consequentemente a segurança alimentar das populações.
O desenvolvimento de padrões de higiene e de saúde tornaria a população humana mais resiliente em relação a crise pandémicas como as pestes dos séculos VI e XIV.
A aplicação da máquina a vapor, que tinha sido inventada no Século I por Heron de Alexandria, permitiria transformações nos âmbitos das atividades produtivas e da mobilidade, com uma antecedência de 1.400 anos, contribuindo para o fim da escravatura.
O desenvolvimento de novas técnicas de mobilidade, como, por exemplo, no domínio da construção naval, promoveria o estabelecimento de ligações com zonas geograficamente mais distantes como a Índia, a China ou inclusive as Américas, com repercussões decisivas no percurso histórico da humanidade.
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