A ironia do destino do polícia António Doce

 

 

Este senhor é o António Doce. É um polícia. Era. Um homem que estava na sua vida e que presenciou uma situação que o revoltou. Ia apenas despejar o lixo. Uma tarefa simples que não implicava nada de complicado. Contudo o simples passou a complexo.

Apercebeu-se duma contenda entre um homem e uma mulher. Um caso típico de violência doméstica que parece persistir neste país de brandos costumes. O homem batia na mulher, a legítima. Que vida de dor e de sofrimento deve ter passado. António não hesitou e tentou separá-los. Sem o saber assinou a sua sentença de morte.

O homem entrou no carro, com a mulher e, de forma deliberada, atropelou o homem que o estava a chamar à razão. Foi arrastado durante alguns metros e as tentativas de reanimação, feitas pelos profissionais, não conseguiram que a sua vida voltasse à tona. O infrator fugiu mais a mulher.

António era um pai de família. Agora os seus filhos são órfãos. O crime que cometeu foi ajudar quem precisava de auxílio. A paga que recebeu foi a violência gratuita que o levou ao fim da vida. Era novo e respeitado. Um marido, um pai, um homem apenas. Já não existe.

A violência doméstica é um flagelo. O confinamento pode ser a desculpa para muitos disparates mas esta realidade é tão flagrante que dói a muitos. Há quem saiba e nada faça e há quem tenha medo e se cale. Sempre a violência que comanda e não o essencial, o bom senso. António fez o que a sua consciência lhe ditou. Oxalá não o tivesse feito.

Esta é a semana dos heróis, ou seja, dos cidadãos comuns que se atrevem a esquecer de si e pensar nos outros. Chama-se empatia e é um sentimento desconhecido de muitas pessoas. Um deles foi salvar um homem da água fria do Tejo e o outro não se conseguiu salvar.

O Natal está a chegar. Há crianças que o anseiam. Estes filhos já não têm pai e a dor vai-lhes fazer companhia para sempre. O pai só ia despejar o lixo. Como se explica a um filho que o pai fez o que devia? Para eles será sentido como a ausência, mas é preciso que saibam que o pai era um homem bom, um homem consciente.

Tempos estranhos estes que vivemos. Uns desorientam-se e outros mostram a sua versão mais negativa, o lado lunar que em nada os beneficia. O homem que atropelou o António está detido, mas isso não lhe pode devolver a vida. A raiva e a fúria têm sempre efeitos perversos e consequências negativas.

Não sei como será a vida desta família, ninguém sabe e somente posso oferecer o meu abraço. Os filhos precisam do pai, a esposa precisa do marido, a vida precisa de pessoas boas e racionais. O mundo parece andar de pernas para o ar. Uma nuvem escura, muito escura, paira sobre todos nós.

Espero que a senhora envolvida na contenda resolva a sua vida e possa seguir em frente. Acredito que na sua cabeça vá ficar uma culpa, um peso que a incomodará durante muito tempo. Cada casa é um mundo e nem sempre se conseguem quebrar as amarras. Há tantas vidas doridas que se desconhecem.

Quanto ao homem que não hesitou em passar por cima do outro que o tentava separar da mulher, o futuro poderá ser de outro tipo de confinamento e talvez a consciência, o que não soube usar na altura devida, o chame à razão e o faça entender o que fez.

Este senhor é o António Doce. Jamais será esquecido. Na sua terra será sempre falado com um homem de pensamento e de ação. Para a sua família será uma saudade profunda, uma dor que não parará de sangrar, para o país fica a imagem de um polícia que morreu em cumprimento do seu dever cívico.

Que ironia do destino!

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