A água junta-se ao ouro, petróleo e outras commodities (mercadorias) – como o arroz, a soja ou a madeira -, transacionadas na Bolsa de Wall Street, deixando um rasto de preocupações de este recurso natural indispensável à vida se tornar escasso em diversas partes do mundo, anunciaram ontem diversas agências de informação financeira, nomeadamente a Bloomberg e a Markets Insider, esta segunda-feira.
Pela primeira vez na história, agricultores, fundos de investimento e regiões podem agora apostar na disponibilidade futura de água. O primeiro contrato bolsista de futuros sobre este bem essencial incide nas águas da Califórnia que, por si só, representa o maior mercado agrícola dos EUA e a quinta maior economia do mundo. Embora haja, no entanto, quem considere que este mercado não alterará de forma significativa o mercado da água, o contrato de janeiro de 2021 do CME Group, vinculado ao mercado de água à vista da Califórnia num valor de 1,1 milhares de milhões de dólares da Califórnia (aproximadamente 1.000.000.000,00 de euro), foi negociado esta segunda-feira.
Os futuros sobre a água estão vinculados ao Índice de Água Nasdaq Veles California, que foi lançado em 2018 e mede o preço médio ponderado por volume da água. O contrato de água de janeiro de 2021 que entrou no ar esta segunda-feira registou duas negociações.
Agricultores deverão ser os primeiros a usar este mercado
Este tipo de contratos foram anunciados em setembro passado, após uma vaga de calor e gigantescos incêndios florestais logo após uma a Califórnia emergir de uma seca de oito anos. Destinam-se a servir de garantia, em especial entre os grandes consumidores de água, como os grandes proprietários rurais produtores de amêndoa e as empresas concessionárias de eletricidade, contra as flutuações dos preços da água.
Embora a ideia de a água ser negociada em bolsa não seja de agora, tendo em conta a escassez anunciada de há anos a esta parte, os primeiros a adotar os seus contratos de futuros deverão ser os agricultores, não os investidores em geral, uma vez que poderão, assim, gerir os riscos de abastecimento, mitigando o golpe financeiro de uma eventual interrupção do fornecimento deste bem.
Nações Unidas fortemente preocupadas com escassez de água
As Nações Unidas há muito alertam para as mudanças climáticas impulsionadas pelo homem e as suas consequências, como secas severas e mais inundações, tornando a disponibilidade de água cada vez menos previsível. No médio prazo, preveem-se grandes alterações climáticas em todo o planeta, nomeadamente na Península Ibérica, havendo diversos especialistas a darem conta do facto de a temperatura estar a aumentar muito rapidamente e para as imprevisíveis consequências que a situação pode arrastar.
Dois mil milhões de pessoas vivem atualmente em países com enormes limitações e quase dois terços do planeta podem enfrentar a escassez de água muito em breve. A escassez de água e respetivos preços deverão tornar-se um tema quente nos próximos anos, tendo em conta o facto de as secas e inundações arrastadas pelas alterações climáticas, bem como o crescimento populacional e a poluição, se tornarem cada vez mais presentes em muitas regiões do planeta.
Imagens: (0) Raymond Hui, (1) BM