Em Portugal, a democracia encontra-se em perigo? Em trocados muito simples e com humor, Luís Cunha expõe o seu ponto de vista sobre a forma como as liberdades se encontram a ser colocadas em questão por aqueles que nos governam.
A democracia é uma forma de governo tão linda e tão boa que bem se pode dizer que existe para fazer todos felizes! Foi inventada há muuuuiiiiitos anos por uns senhores que usavam sandálias de couro atadas por cordões na barriga da perna, vestiam umas túnicas abertas, que lhes ficavam bem acima do joelho, e pouco frequentavam o barbeiro.
Além de bonita e boa para o povo, a democracia é também um jogo, aquilo a que se chama o «jogo democrático». Claro está que, como qualquer jogo, a democracia tem regras estritas a cumprir, muito embora haja quem se dedique a alterar essas regras sempre que pode ou o deixam. Vendo bem, não é assim tão diferente do jogo do berlinde, que apenas deve ser jogado em dias de sol, já que a chuva inunda o terreno de jogo e não deixa o berlinde rolar. Do mesmo modo, há quem nos explique que o jogo democrático apenas pode ser jogado em alturas adequadas, convenientes e propícias. Fora dessas ocasiões – momentos solenes ou socialmente distendidos – o jogo democrático revela perigos que recomendam que seja guardado numa caixa que se arruma em prateleira bem alta a inacessível.
À volta da democracia – que não tem berlindes mas tem abafas – circulam umas criaturas, armadas em juízes, que a si mesmas se atribuem a tarefa de desincentivar ou mesmo proibir a sua prática em momentos de defeso. Por exemplo, quando anda tudo de máscara à conta de vírus descontrolado, deve a democracia repousar em caixa própria, ficando esta inacessível a meninos e meninas irresponsáveis. É igualmente má ideia jogar o «jogo democrático» naquelas ocasiões em que o Rei da Tribo, em virtude das regras de jogo, vê o fim do seu mandato na linha do horizonte. Mais ainda, nem falar em jogadas democráticas que façam perigar a mirífica promessa dos rios de leite e mel que a Europa promete enviar para a nosso sequioso terrunho à beira-mar plantado.
Toninhos e Marcelinhos, acolitados por personagens secundárias, membros, todos eles, da trupe que guarda um jogo que não lhes pertence, afinam a voz no mesmo mantra: «É proibido lançar os dados, movimentar os peões, dar andamento a qualquer estratégia que altere a situação de jogo». Garantem que é temporário, que logo que o Rei da Tribo renove o seu mandato; que a máscara caia; que o vírus seja varrido pela vacina; que o desemprego se transmute em pleno emprego; que a Europa nos inunde com uma chuva de euros; que a recessão dê lugar à prosperidade, logo que estes pequenos nadas se cumprirem, se voltará ao jogo democrático.
Deve o povo e devem as criancinhas, inocentes criaturas a quem este texto se destina, ficar atentos. A democracia pode ser um jogo, mas não é um chá de debutantes, convocado pelo Rei da Tribo nem por nenhum dos príncipes do reino. Além de atenta, deve a plebe ficar desconfiada. É que há por aí uns sevandijas, gente de má catadura mas boa a falar, que cobiça apropriar-se da caixa onde se guarda o jogo democrático. Conseguiram já chegar bem abaixo da prateleira onde o guardaram e têm preparado o cofre onde o fecharão a sete chaves.
Se, para lá da escrita, a pachorra me desse para me fingir conselheiro, diria aos destinatários deste texto para correr com os sevandijas e para pôr na ordem o reizinho e o seu séquito. Pode a democracia ser um jogo, mas é também um modo de participação e de implicação de que não podemos abdicar, antes renovar e aprofundar a cada instante. Como boa prática, e regra basilar do jogo, recomendo que sigamos e tornemos nosso o velhíssimo juramento de fidelidade ao Rei que era usado pela nobreza aragonesa e catalã:
«Nós, que somos tão bons como vós, juramos a vós, que não são melhores que nós, que vos aceitamos como nosso rei e sempre soberano, contanto que observeis todas as liberdades e leis; se não, não».
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Imagem: Quino
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