Território | Reserva Ornitológica do Mindelo: é preciso garantir a identidade que há seis décadas lhe pertence

Território | Reserva Ornitológica do Mindelo: é preciso garantir a identidade que há seis décadas lhe pertence

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A Reserva Ornitológica de Mindelo (ROM), agora integrada na Paisagem Protegida Regional do Litoral norte de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo (PPRLVCROM), foi a primeira área protegida de Portugal e das primeiras da Europa.

À data, não tive oportunidade de me insurgir contra essa alteração e, lamentavelmente, não dei nenhum tipo de contributo para que isso não fosse uma realidade.

A ROM, pela sua importância histórica, pelo simbolismo conferido, que o pioneirismo lhe outorga no surgimento das áreas protegidas do nosso país, pela mão do Prof. Santos Júnior, poderia e deveria ter outro estatuto na alteração que os defensores da Reserva lograram conseguir em 2009.

A designação, quando tentamos preservar um bem natural, sito num determinado espaço físico, parece algo de somenos e, se formos demasiado arreigados na sua defesa, podemos ser acusados de “bairrismo bacoco” e de estarmos mais preocupados com um qualquer nome e não pela defesa do património natural. Todavia, passados 11 anos da alteração de designação (deveria ser Reserva Ornitológica de Mindelo e Paisagem Protegida do Litoral de Vila do Conde), verificamos que essa minudência não é de importância menor. Após a alteração, criado o regulamento para dar prossecução ao início da gestão regulamentada da Paisagem Protegida, nada foi feito para que se empossassem os órgãos de gestão da mesma (Conselho Diretivo e Consultivo) deixando cair a Reserva num vazio de gestão cujas consequências fizeram perigar a sua continuidade. Aqueles que lutaram para defender a sua continuidade, entenderam que já tinham feito o necessário para perpetuar o seu nome. Constata-se agora que não foi o suficiente.

Posto isso, com todo o simbolismo que lhe reconhecemos, remetido, em jeito de apêndice, ao acrónimo da Paisagem Protegida, desenvolveu-se um projeto de requalificação da área ROM, com contornos secretos que fizeram corar os grandes escritores de romances policiais e que, a Agatha Christie, teria grande dificuldade em deslindar.

Propuseram-se, através do “Naturconde”, a uma coisa (limpeza de caminhos, colocação de prumos e cordas) e, no terreno, fizeram outra completamente diferente. A limpeza transformou-se em alargamento, rebaixamento, verticalização de caminhos e colocação de saibro, impermeabilizando-os. Abate desnecessário de árvores, com a destruição envolvente resultante desses abates em época de nidificação. Tudo isso para humanizar e “urbanizar” a Reserva Ornitológica de Mindelo, desbaratando assim uma história de 60 anos e de um potencial natural ímpar no nosso Concelho. Como se não fosse pouco, batizaram a nossa ROM com o acrónimo destinado a identificar o projeto de candidatura à União Europeia para obtenção de fundos para a destruição daquilo que bradamos ao céu proteger: “Naturconde”.

Manifestámo-nos contra ele, com a solidariedade de muitos dos mindelenses e outros ilustres participantes a quem muito agradecemos. Com isso, o executivo vilacondense prometeu retirar essa designação seis meses depois. Não o fizeram. Sabíamos não ser verdade, mas, por comodismo, por ser mais confortável fingir acreditar, a maioria resignou-se e entendeu esperar pela promessa da edil, que não aconteceu. Lentamente, a ROM vai-se transformando num parque da cidade, como temíamos no início das obras e o exteriorizamos aqui e em vários mails enviados para a Câmara Municipal de Vila do Conde assim com através de propostas escritas deixadas em mãos da Dra. Elisa Ferraz e da Dra. Lurdes Alves. Sabemos que, quando cedemos em abdicar do nosso nome, estamos a deixar que nos retirem a identidade, aquilo que somos e, depois disso, é fácil fazer de nós aquilo que entendem lhes servir melhor os seus interesses, transformando-nos em indivíduos despersonalizados e sem vontade própria, meros instrumentos para servir tiques autocráticos.

Com a Reserva Ornitológica de Mindelo acontecerá o mesmo se não formos competentes para lhe garantir a identidade que há seis décadas lhe pertence:

Reserva Ornitológica do Mindelo, a primeira Área Protegida de Portugal e das primeiras na Europa.

 

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Categorias: Crónica, Sociedade

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