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Epifenómeno: sair da estátua para o reino dos vivos

 

 

Tudo indica que neste momento já se produziram mais artigos em defesa de estátuas maltratadas do que de homens mal tratados. E isso não é fruto do acaso ou da nossa defesa da civilização. Eu explico-me. O colonialismo representou um enorme avanço civilizacional e uma enorme barbárie, e teremos que viver com essa contradição histórica. Não acho que no futuro a humanidade esteja condenada a avançar em cima da miséria e da barbárie, mas no passado, que não posso mudar – sublinho, que não posso mudar (ao contrário do futuro, que está nas nossas mãos) -, foi assim. O que está em curso é uma batalha pela memória, porque a história não se muda. Está lá. Já foi. Estudar e pensar o passado é um acto de liberdade, por isso ver o belíssimo filme E Tudo o Vento Levou ou estudar a extraordinária obra do Padre António Vieira é imperioso, não só como liberdade de arte mas também como acesso à ciência.

Não há nada de inevitável na economia

Desde a pandemia que assistimos a um jogo de cinismo generalizado que assume que o desemprego, a fome, o trabalho infantil, são consequências inevitáveis da COVID-19. Todos os títulos de jornais assim apresentam: “por causa da pandemia…”. Ora não há nada de inevitável na economia da pandemia. As opções tomadas, centradas no regresso ao lucro pela imobilização de capacidade produtiva – vulgo, o desemprego -, são escolhas políticas dos Estados capitalistas, como o esclavagismo foi uma escolha das sociedades do seu tempo – todos os modos de produção são históricos, abertos, mutáveis, a terra move-se mesmo para quem não a sente mover-se. É isso que os grandes movimentos sociais trazem à luz – recordar que nada está parado no planeta e que a história é um acto violento de contradições onde os pactos e mediações são a excepção. Hoje, há excedente na terra para impedir fome, e desemprego no meio de uma crise sanitária, mas despedir e cortar salários tem sido apresentado como a única solução para fazer face à pandemia. A razão é simples: as pessoas hoje, na sua grande maioria, valem menos que uma estátua – são uma mercadoria, que se usa quando é rentável, se despede quando deixa de ser. Para muitos isto, o desemprego, é “natural”. Tão natural e imutável como para o Padre António Vieira foi a escravatura dos negros. Ele, brilhante em tantos campos, não conseguiu ser um homem fora do seu tempo. Sufragou o tempo histórico em que viveu, não sonhou nem mudou o mundo, acreditou que as coisas eram assim “porque eram assim”. Se ele fosse vivo e lhe chamassem esclavagista ou esclavagista selectivo, creio que ele não o entenderia como ofensa, seria o mesmo que chamar capitalista hoje a grande parte dos pensadores – que vão encolher os ombros e dizer espantados que o são, “é a economia, não há outra”. Muitos dir-se-ão a favor de um “capitalismo regulado”, como se a base deste não fosse a competição e o monopólio, ou seja, a impossibilidade de planificação e regulação. São capitalistas selectivos, diria um excêntrico.

Ninguém é contra a estátua do Padre António Vieira, antes contra a sujeição política à condição de mercadoria

A estátua do Padre António Vieira é uma mercadoria morta, simbólica, para muitos de uma realidade viva – milhões de trabalhadores transformados em mercadorias, no passado escravos legalmente, e agora livres. Livres de venderem a sua força de trabalho e livres de serem despedidos quando ninguém quer comprar a sua força de trabalho. Ainda assim, mercadorias. Estas estátuas, os zombies que povoam a terra todos os dias, estão em movimento no mundo, num impressionante movimento social inter-racial que começou contra o assassinato de George Floyd. Ao se colocarem em movimento colectivo deixaram de ser estátuas, meras mercadorias, zombies, e passam a ser sujeitos de si próprios. Não sei quem pintou a estátua, não sou de pintar nem um muro velho abandonado. Mas desculpem, esse não é o debate. Não estamos perante uma estátua vandalizada, mas perante um movimento mundial de negação da sujeição política de milhões de seres humanos que se querem ver livres da sua condição de mercadoria e consequente sujeição política numa democracia que os prendeu e amarrou à insegurança, quando têm sorte, ao desemprego quando não. No tempo longo da história esse movimento social, onde, surpreendam-se, há médicos, professores, operários, engenheiros, empregadas domésticas, amas e empregadas de caixa de supermercado, artistas e carregadores, um pouco de todo o trabalho precário e inseguro que grassa pelo mundo. E haverá até provocadores, malucos, marginais. Mas na sua maioria este gigante movimento social global é uma onda social de luta pela igualdade e direitos – esse é o acontecimento que ficará nos livros de história. Por isso, creio, era esse movimento que nos devia fazer pensar, refletir, perguntar. E não a estátua. Já que aí saíamos do epifenómeno, ou da consequência, para nos indagarmos, com curiosidade, sobre o mundo. Temos que sair da estátua, onde só repousam os mortos, para pensarmos o reino dos vivos. Não é o índio que jaz a seus pés, petrificado, que atormenta ou abana o mundo hoje. É a voz dos vivos que se movem.

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Obs: o presente texto teve publicação original no blogue Raquel Varela | Historiadora, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.

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