Livros | ‘Apresentação do Rosto’ de Herberto Helder reeditada pela primeira vez

 

 

“Há a tentação de escrever um texto inabitável, uma espécie de mapa solitário e limpo, diante do qual o engenheiro da fábula não possa maquinar o seu empenho de aventura humana, com as palavras: aqui fica uma rua, aqui uma ponte, aqui um parque, aqui a mancha cerrada de sentimentos e ideias com o nome de bairro de gente”.

Apresentação do Rosto foi originalmente publicado em 1968. Quase todos os exemplares foram imediatamente apreendidos e destruídos pela PIDE. Em poder da família, desde a morte do autor, em 2015, encontrava-se um exemplar com uma série de anotações que daria origem à presente edição, feita por iniciativa de Olga Lima, viúva de Herberto Helder. A primeira reedição da obra segue o texto da publicação original, corrigindo diversos lapsos e erros tipográficos assinalados pelo autor num exemplar de trabalho; não foram tomadas em conta as restantes anotações, cortes e sinais que constam desse exemplar, por não estabelecerem claramente uma nova organização do livro, indicando apenas hipóteses de alteração textual ou as referidas deslocações de fragmentos para outras obras do autor.

Na edição de 1968, Herberto Helder explicou que Apresentação do rosto se tratava de um “livro de um poeta que não receia pôr-se diante do espelho e ver-se em profundidade com os ‘fantasmas’ da sua verdadeira descoberta de homem que procura no tempo a dimensão exata da sua presença no mundo”, relembra Rita Cipriano, no Observador. “Através das páginas desta autobiografia romanceada, desde ‘Os Prólogos’ aos ‘Epílogos’, percorremos sempre o mesmo caminho: a aventura de um grande poeta que tenta descobrir os labirintos da vida, encontrar a imagem plena e real da sua condição de homem”, acrescenta.

Herberto Helder, poeta ‘contra o tempo e a carne’

Herberto Helder nasceu em 1930 no Funchal. Em 1948 matriculou-se em Direito, mas cedo abandonou esse curso para se inscrever em Filologia Românica, que frequentou durante três anos. Teve inúmeros trabalhos e colaborou em vários periódicos como A Briosa, Renhau-nhau, Búzio, Folhas de Poesia, Graal, Cadernos do Meio-dia, Pirâmide, Távola Redonda, Jornal de Letras e Artes. Em 1969, trabalhou como diretor literário da editorial Estampa. Viajou pela Bélgica, Holanda, Dinamarca e, em 1971, partiu para África, onde fez uma série de reportagens para a revista Notícias.

É um dos mais originais poetas da Língua Portuguesa do Século XX. Em 1994, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa, que recusou. Faleceu em Cascais, a 23 de março de 2015, aos 84 anos. “Poeta do excesso, do verso longo, órfico e visionário, trabalhador incansável de metáforas e símbolos, mais voltado para os enigmas da vida do que para o banal quotidiano”, assim o retrata Joana Emídio Marques, no Observador. “Herberto construiu uma obra que é um universo inteiro, viveu para o ofício poético, estendeu a língua portuguesa a uma nova exuberância. A sua poesia “é um coração que tem que ser comido à mão”, conclui citando o escritor António Cabrita.

“Escreve-se.

Há as nuvens, as árvores, as cores, as temperaturas.

Há o espaço.

É preciso encontrar a nossa relação com o espaço.

Fazer escultura.

Escultura: objecto.

Objectos para a criação de espaço, espelhos para a criação de imagens, pessoas para a criação de silêncio.

Objectos para a criação de silêncios para a criação de pessoas para a criação do espaço para a criação de imagens para a criação de silêncio”.

Ficha técnica

Título: Apresentação do Rosto
Autor: Herberto Helder
Págs.: 216
PVP: 19,90€

 

Fontes: Porto Editora, Observador

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