Ler | ‘A Casa Grande de Romarigães’ de Aquilino Ribeiro vai à Comunidade de Leitores

Ler | ‘A Casa Grande de Romarigães’ de Aquilino Ribeiro vai à Comunidade de Leitores

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A Rede de Casas do Conhecimento (RCdC) da Universidade do Minho (UMinho) vai retomar esta quarta-feira, dia 20 de maio, às 17h30, o ciclo de sessões de leitura que integram a 2ª edição da Comunidade de Leitores da RCdC. A nona sessão, dinamizada pela Casa do Conhecimento de Paredes de Coura, aborda o livro “A Casa Grande de Romarigães“, de Aquilino Ribeiro, e irá decorrer em ambiente online. Maria de Fátima Silva Cabodeira, responsável pelo Arquivo Municipal de Paredes de Coura, irá dinamizar a sessão que contará com a participação de Aquilino Machado, neto de Aquilino Ribeiro e investigador associado do Grupo de Investigação Turismo, Património e Território da Universidade de Lisboa.

A sessão desta quarta-feira poderá ser acompanhada através da plataforma Zoom. Para garantir a participação e partilha dos dados de acesso à sessão é necessário o preenchimento e a submissão do formulário, disponível em: https://bit.ly/3dCHkQZ.

A Comunidade de Leitores pretende com a iniciativa promover a criação de lugares de reflexão e de partilha entre a comunidade académica e outras comunidades da sociedade civil. As sessões da Comunidade de Leitores da RCdC da UMinho já contou com sessões em torno de obras de Arlindo Oliveira, Carlos Fiolhais, Dulce Maria Cardoso, Ken Follet, Mário Cláudio, Miguel Torga, José Carlos Barros, entre outros. Regressa em formato online para voltar a contemplar obras literárias e não-literárias, nacionais e internacionais, no sentido de promover temáticas diversificadas e de interesse para diferentes públicos.

O ciclo encerrará a 18 de junho, na 10ª sessão que será dinamizada pela Casa do Conhecimento da UMinho, e abordará a obra “Como tornar-se doente mental” de José Luís Pio Abreu. Para além do autor, esta sessão terá como dinamizador Pedro Morgado, docente da Escola de Medicina da UMinho.

Esta iniciativa é organizada pela Casa do Conhecimento e pelos Serviços de Documentação da UMinho, em colaboração com as Casas do Conhecimento dos municípios de Boticas, Montalegre, Paredes de Coura e Vila Verde, e tem como principais objetivos a promoção da literacia e da leitura ao longo da vida e a partilha de conhecimento, reflexões e inquietações a partir da experiência da leitura, contribuindo para a formação de cidadãos ativos e informados. A RCdC é um projeto pioneiro da UMinho que tem por missão contribuir para aprofundar a ligação e articulação da UMinho com a sociedade e as comunidades, aproximando a instituição dos cidadãos, por via da cooperação protocolada com os municípios, e fomentando uma prática de trabalho em rede e em parceria.

‘A Casa Grande de Romarigães’ de Paredes de Coura

“O escritor Aquilino Ribeiro, porventura o maior romancista português do século XX, descreveu de forma notável a vida rural em Paredes de Coura e o ambiente e sensações vividas n’ “A Casa Grande de Romarigães”, local onde ele próprio residiu”, assinala o jornalista Carlos Gomes no seu Blogue do Minho.

Situada na Freguesia de Romarigães, a sudoeste do concelho de Paredes de Coura, a limitar com o vizinho concelho de Ponte de Lima, “a ‘Casa Grande‘ é um edifício oitocentista classificado pelo IPPAR, formado pela casa de habitação propriamente dita por portal armoreado, a Capela de Nossa Senhora do Amparo e diversos conjuntos escultóricos como carrancas, frontões, volutas e outros motivos artísticos”.

Como as demais obras do autor, ‘A Casa Grande de Romarigães‘ possui uma riqueza vocabular extraordinária, hoje em dia frequentemente acessível apenas dos estudiosos da obra ou ainda de alguns quantos minhotos mais velhos e exímios conhecedores da Língua Portuguesa de outros tempos, mais a mais abastada em regionalismos.

“Depois de anos e anos em Paris, de correr à deriva como barco num golfo, sem grandes embates nem quebrantos, deixando-se flutuar, Hilário Barrelas veio surdir naquele rincão do Alto Minho. Vira aquela menina dos olhos grandes, castanhos e leais, e amou-a. Quando, por morte do avô conselheiro, visitou a Casa Grande, com as ruínas da gloriosa Nossa senhora do Amparo a consumir-se, mas sempre de imarcescível beleza, ficou deslumbrado. E, uma vez que o património se repartia, e os herdeiros, mais escabreados, testos e absurdos que lobos famintos, se lançavam uns sobre os outros, disse para sua mulher:

– Fica em Romarigães, na bela ruína do Amparo.

Tinha caído o telhado na linda capela, os caseiros queimaram as portas, a talha do altar e do coro, e deixaram desaparecer imagens e painéis. No solar uma das paredes da construção filipina esbarrigara e acabou por dar em terra. Pelos telhados entrava água como por cestos rotos e as tábuas do soalho, se lhes punham em pé em cima, rangiam e estalavam, escancarando-se em precipícios traiçoeiros para as lojas. Para cúmulo, o Estado tomara conta do salão principal para aula de primeiras letras, o salão onde D. Telmo de Montenegro, o verdadeiro, o espanhol, o quixotesco, dera festas de truz às duas fidalguias de Minho e Galiza. Não restava um alizar direito nem uma janela intacta. Os móveis, que eram de estilo, carregara-os um ferro-velho para o Porto por tuta-e-meia. De gorra com um caseiro ladro e tramposo, os netos do Conselheiro haviam alienado águas que pertenciam às quintas e procederam a derrubadas consecutivas na mata, em cujas brenhas se caçara o javali, sempre que tinham necessidade de dinheiro para as suas pândegas, encalvecendo-a miseravelmente. De modo que o homem dos espaços abstractos, o sonhador, o Hilário Barrelas das midinettes da Ru Gay Lussac, só encontrou verdadeiramente incólume o olhar puro de Nossa Senhora do Amparo. Mas tanto bastou, ajudado duma mirada angustiosa do Cristo setecentista, que assistia na fumareda da casa dos caseiros a suas rixas e bodeganas, para se declarar rendido”.

Fonte e Imagem: UM; Imagens: (0, 1) Blogue do Minho, (2) RCdC

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Categorias: Agenda, Cultura

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