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Indignação | Presente e futuro da cultura em Portugal

 

 

Sucedem-se os apelos a favor da cultura e dos seus profissionais. E estes apelos fazem todo o sentido. Sem cultura não há civilização. E, contudo, as verbas destinadas à cultura, o principal esteio de uma sociedade, nos orçamentos dos governos, são insultuosamente insignificantes. A cultura nunca foi globalmente protegida pelos poderes instituídos. Não lhes interessa. O que lhes convém é patrocinar subprodutos popularunchos – diria populistas – que os incense e não os incomode.

A pandemia do novo coronavírus – Covid-19 – teve o mérito de colocar tudo às claras. Mostrou, desde logo, com total transparência, as fragilidades da existência de todos os sectores que produzem, realizam e levam até ao público o alimento espiritual sem o qual uma nação deixa de o ser. E não podem ser mais insultuosas as hesitações de uma tutela no apoio incondicional aos seus artistas e produtores de cultura, sejam eles actores, encenadores, músicos, compositores, bailarinos, coreógrafos, escritores, editores, cineastas, técnicos, produtores, fotógrafos, pintores, escultores.

Todos eles vivem com contratos precários e sem o apoio efectivo de uma Segurança Nacional que seja operativa. E o resultado está à vista. Uns a sofrer mais do que outros, é verdade. Destaco, neste sentido, todos os artistas de palco que vêem os seus recursos banidos. Mas não esqueço os outros que deixaram de ganhar, nos últimos meses, os seus direitos de autor, que deixaram de vender as suas obras, ou que, pura e simplesmente, deixaram de poder produzir, ficando à beira de uma condição de miséria envergonhada.

E o Estado? O Estado hesita, balbucia «apoios» vergonhosamente tímidos. O Estado desumaniza-se, robotiza-se, fica empedernido perante a demolição trágica de um sector. Mas é exactamente a este sector a quem recorre em eleições para que prestigiem os seus partidos e as suas propostas que, no que toca à cultura, nunca passam de ideias mal-amanhadas em letra miúda em programas mal escritos e pessimamente estruturados.

Mais uma vez, o Estado demite-se de um verdadeiro e robusto apoio, que não deveria ser um parco subsídio humilhante, a todos os artistas portugueses que fazem do seu talento o alimento do orgulho nacional.

Não queremos subsidiozinhos humilhantes, mas a criação de um Fundo Nacional que fosse anualmente inscrito no orçamento de Estado que garantisse, em situações de urgência, a dignidade e o desafogo que merecem todos os artistas e profissionais de cultura do nosso país. Mas a verdade é que somos muito menos importantes que os agiotas dos bancos que, como vampiros, comem tudo, comem tudo e não deixam nada. Imaginem o que seriam 800 milhões de euros para não deixar cair na pútrida lama aqueles que sustentam a alma e o espírito de um povo. 800 milhões? Vá lá, metade. E com esse valor, podem ter a certeza disso, ajudaríamos a reerguer um país agnóstico em relação aos seus artistas. Sim, os agiotas são mais importantes. E o Estado promove-os, adula-os, protege-os.

 

Imagem: José Lorvão

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