Cineclube | ‘Technoboss’ de João Nicolau, “retrato carinhoso e divertido sobre o envelhecimento”

Cineclube | ‘Technoboss’ de João Nicolau, “retrato carinhoso e divertido sobre o envelhecimento”

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“Luís Rovisco (Miguel Lobo Antunes) é diretor comercial de uma empresa de equipamentos de segurança. De resposta pronta e sorriso fácil, é senhor de uma bagagem que lhe permite escapar de forma sempre airosa às armadilhas que a tecnologia, os colegas e um misterioso patrão ausente parecem semear-lhe pelo caminho. Divorciado há já vários anos e prestes a entrar na tão ansiada reforma, reencontra casualmente Lucinda, uma antiga paixão que ele tentará recuperar a todo o custo. E diante de Lucinda, a rececionista do Hotel Almadrava, a música é outra. Esse encontro dá-lhe uma nova esperança no futuro e uma vontade enorme de ser feliz, uma vez que nem a morte de Napoleão (um gato), nem uma persistente dor no joelho ou um desaguisado familiar o fazem soçobrar: não há mal que uma canção não vença.

Estreado mundialmente na secção competitiva do Festival de Cinema de Locarno (Suíça), esta é a terceira longa de ficção com assinatura do português João Nicolau, depois de “A Espada e a Rosa” (2010) e “John From” (2015)”.

“Filme centrado numa só personagem”, Rovisco é “um homem experiente mas na iminência de ser ultrapassado pelo tempo. Mais do que isso, Technoboss é uma bela e feliz história de amor tardio, com muito humor e música à mistura”, destaca Manuel Halpern, na Visão.

“Luís Rovisco talvez se torne uma das grandes personagens do cinema português”, assinala o crítico de cinema, considerando que o protagonista de Technoboss, se encontra indissociavelmente ligado às “idiossincrasias do seu intérprete, Miguel Lobo Antunes, que aqui, aos 70 anos, se estreia como ator”.

João Nicolau desenvolve “uma história simples, mas cheia de pormenores enriquecedores. As cenas no carro, em que Rovisco canta admiravelmente temas falsamente naïves, compostos por Norberto Lobo, Pedro Silva Martins e Luís Martins, são espantosas. Mas toda a construção, as situações e os diálogos, da autoria de Mariana Ricardo e de João Nicolau, são espirituosos e cativantes. Isso faz de Technoboss não só a melhor longa-metragem de João Nicolau, como também a mais apetecível para o grande público”, conclui João Halpern.

Para lá disso, “as personagens de João Nicolau têm tendência a usar o imaginário como porta de saída para um quotidiano demasiado falho de imaginação. E os filmes de João Nicolau têm tendência a recompensar as personagens, conferindo ao imaginário delas um poder efetivamente transformador. As fronteiras entre a realidade quotidiana e a imaginação dissolvem-se, esta última imiscui-se na primeira, ensopa-a, modifica-lhe os contornos, até que o todo o cenário se transfigure”, explana Luís Oliveira, no Público.

Na primeira cena de Technoboss, Luís Rovisco encontra-se à beira da estrada à espera de um reboque que vem buscar o seu carro. Um telefone toca e o personagem atende sem que o dispositivo apareça em cena. Mas tudo no filme está feito para causar um estranhamento imediato: “as escolhas técnicas, de enquadramento, de canções entoadas sem um motivo ou uma lógica aparentes todas as vezes em que o Senhor Rovisco entra em um carro parecem ser propositais para não fazerem sentido. Mas, eventualmente, tudo se encaixa”. Apesar de o cineasta utilizar “a estranheza para fazer uma mistura de elementos que nem sempre funciona”, ressalva Laysa Zanetti, em AdoroCinema.

Em contrapartida, no centro do argumento efetua-se “uma discussão séria e bastante melancólica sobre o analógico contra o digital, sobre o efeito da tecnologia nas relações humanas e sobre a forma como sentimos cada uma destas mudanças tão velozes nas formas de comunicação” e “a estranheza de Technoboss transforma o filme em algo definitivamente memorável, para o bem ou para o mal”.

Por fim, registe-se que “existe um sarcasmo corrosivo por trás deste embate de gerações e, principalmente, pelo uso de linguagem cinematográfica. Em pleno 2019, Nicolau utiliza a textura da película antiga, num género pouco explorado, para citar a solidão dos nossos tempos e a automatização do trabalho produzindo desemprego – vide o belo dueto entre Luís e a máquina da pedágio (portagem). O diretor enxerga nestes procedimentos incomuns uma representação do absurdo das relações contemporâneas, produzindo um distanciamento crítico pela constante sensação de incómodo fornecida ao público. Nem todos os projetos conseguem combinar política e humor com a terna ousadia de Technoboss”, conclui Bruno Carmelo, na Papo de Cinema.

Na próxima quinta-feira, 5 de março, o Cineclube de Joane, em Vila Nova de Famalicão, exibe no Pequeno Auditório da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão o filme Technoboss, do realizador português João Nicolau. O filme é um ‘retrato carinhoso e divertido sobre o envelhecimento’, sentencia a Vitrine Filmes, distribuidora brasileira de cinema, soltando uma classificação que parece encaixar que nem uma luva no terceiro filme do realizador.

Título original: Technoboss (Portugal, 2019, 112 min.)

Realização: João Nicolau

Interpretação: Miguel Lobo Antunes, Luísa Cruz, Américo Silva, Sandra Faleiro
Argumento: João Nicolau e Mariana Ricardo
Fotografia: Mário Castanheira
Som: Miguel Martins
Montagem: Alessandro Comodin e João Nicolau
Música: Pedro da Silva Martins, Norberto Lobo, Luís José Martins
Produção: Luís Urbano e Sandro Aguilar
Distribuição: Desforra Apache
Estreia: 8 de Novembro de 2019
Classificação: M/12

 

Fontes: CJ, AdoroCinema, Papo de Cinema, Público, Visão; Imagens: João Nicolau / O Som e a Fúria

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