‘A Vida numa Boa’ no Cineclube de Joane

 

 

 

Viver a vida seguindo as suas próprias regras é o lema de Moondog, um escritor excêntrico e de espírito livre. Apesar de constantemente sob efeito de drogas ou álcool, nunca perde a sua postura de bem com a vida e com todos à sua volta. A sustentar os seus vícios está Minnie, a mulher, uma milionária que, ao contrário da filha de ambos, pouco se importa com a sua forma de estar. Com argumento e realização de Harmony Korine (“Gummo”, “Spring Breakers”), esta comédia dramática com Matthew McConaughey a encarnar a personagem principal The Beach Bum: A Vida numa Boa é exibida pelo Cineclube de Joane, na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, na próxima quinta-feira, 26 de setembro, pelas 21h45. Snoop Dogg, Isla Fisher, Zac Efron, Jimmy Buffett, Martin Lawrence, Jonah Hill são outros dos atores que dão vida a um filme bem disposto que praticamente acabou de estrear no circuito comercial português.

 

 

Sobre este filme, começa por assinalar Hugo Gomes na SapoMagazine, “compreende-se o ódio que muita crítica norte-americana tem em relação a “Beach Bum: A Vida numa Boa”, ainda mais vincada nas novas gerações, alicerçadas a um tom politicamente correto e, sobretudo, de “ativismo justiceiro”, lembrando que “a carreira de Harmony Korine nunca foi das mais consensuais. Argumentista do polémico “Miúdos” (Larry Clark, 1995), “desvirginou-se” na realização com “Gummo” (1997), especializando-se num olhar de um embusteiro “trash” aos devaneios de uma juventude inconsequente”.

“Quase três décadas depois [de Gunmo], uma dezena de videoclipes e uma mão cheia de longas-metragens fortemente cunhadas com a sua marca de irreverência, o realizador – agora com 46 anos – apresenta Beach Bum, um filme que se conta não apenas pela sua história (sobre nada), mas pela fotografia, banda sonora e prestação de um conjunto rico e vasto de personagens que podiam ter saído de qualquer filme de Wes Anderson, ou serem os novos americanos de Altman, mas com aquele toque “trash”, marginal e libertário que hoje em dia quase só Korine consegue apresentar (Sean Baker é outro exemplo)”, acrescenta Jorge Pereira em C7nema.

Por sua vez, Luís Miguel Oliveira, sob o título de A Odisseia de um Poeta Vadio, corrobora, no Público, que Harmony Korine filma um monstro do inconformismo e de uma contracultura, de todo predominante em qualquer período da história: Moondog.

The Beach Bum é como um lado B para Spring Breakers, o anterior filme de Harmony Korine. Um lado B “conceptual”, que vai pelo caminho contrário do lado A: se, fiel à sua predileção por figuras monstruosas, Korine filmara em Spring Breakers os monstros do conformismo (as adolescentes fotocopiadas umas das outras, por sua vez fotocopiadas dos estereótipos da predominante cultura teen americana), em The Beach Bum filma um monstro do inconformismo e de uma espécie de contracultura, nada predominante.

“O ponto central da narrativa deste McConaughey fisicamente decadente é a ausência de conflito, que transforma tragédias em banalidades e uma jornada de supostas epifanias em trilhos meramente passivos com a sua festividade. A certa altura, o protagonista justifica a sua sorte afirmando “que todos os elementos do mundo conspiram para trazer a sua felicidade”, especifica Hugo Gomes.

“Moondog, personagem interpretada por Matthew McConaughey (que nunca ninguém viu nestes preparos: cabeleira loura, robes coloridos, tangas…), poeta selvagem e caótico que tira toda a sua inspiração do excesso e da desordem, vive em permanente estado de embriaguez, literal e figurada. Moondog publicou uns poemas há uns anos, que lhe deram certa notoriedade, mas nunca mais escreveu nada e vive às custas da mulher, que é rica. Mas a mulher (Isla Fisher) morre num acidente de automóvel (que é a sequência mais dramática do filme, e em que Korine melhor usa aquele seu tipo de montagem alternada “retrospetiva”, a fazer dialogar planos de flash-back e de flash-forward) e deixa em testamento que Moondog só herdará a fortuna e a propriedade dela quando voltar a publicar. Expulso de casa, sem outro remédio, tem mesmo que escrever”. Este é o argumento de The Beach Bum, conforme o descreve Luís Miguel Oliveira. “Não se trata, definitivamente, de um filme sobre as agruras da criação poética — Moondog escreve na praia, nos bares, e raramente se ouve ou lê uma linha do que ele escreva. É quase apenas um pretexto para Korine seguir a odisseia de um poeta vadio, por episódios progressivamente delirantes que envolvem fugas de centros de rehab (porque ele obviamente diz “não, não, não”) e, na mais divertida sequência de todas, um barco turístico para observação de golfinhos que afinal eram tubarões”.

“Quando começamos a pensar que isto, não sendo desagradável, não parece ir a lado nenhum, ou que se arrasta, ou que se torna cansativo, vem a sequência final, bastante conseguida, a dar ao filme uma coerência de que ele parecera fugir até então: é um final “anti-tudo” (anti-social, anti- capitalista, anti-artístico), uma grande “instalação” de Moondog que é a sua derradeira (e maior) obra poética antes de o filme o abandonar, como um herói grego, sozinho no mar. Concilia-nos com os aspetos mais discutíveis do estilo de Korine, reconcilia-nos com os altos e baixos do carrossel que o filme todo é, e, digamos assim, faz-nos sair de coração cheio. Sabe bem ver The Beach Bum, coisa que não se diz de todo os filmes, mesmo de alguns muito melhores do que este”, conclui o crítico.

Título original: The Beach Bum (EUA/Suiça/Grã-Bretanha/França, 2019, 95 min.)

Realização e Argumento: Harmony Korine
Interpretação: Matthew McConaughey, Snoop Dogg, Isla Fisher, Zac Efron
Produção: Charles-Marie Anthonioz, Mourad Belkeddar,Steve Golin, John Lesher, Nicholas Lhermitte
Musica: John Debney; Fotografia: Benoît Debie; Montagem: Nick Fenton, Colby O’Brien; Distribuição: NOS Audiovisuais; Estreia: 9 de Maio de 2019; Classificação: M/16

Fontes: Cineclube de Joane, SapoMag, C7nema, Público

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