O Centro Cultural Municipal de Vila das Aves terá em exposição, durante o mês de junho, uma centena e meia de brinquedos tradicionais que integram os espólios de Júlio Penela e da Junta de Freguesia de Alfena. A iniciativa, para todas as idades, contará com uma mostra de mais de uma centena de brinquedos tradicionais e integrará ainda um conjunto de oficinas.
A mostra ‘Brinquedo Tradicional Português‘ destina-se às famílias: quer proporcionar aos mais novos uma viagem ao passado, mas também trazer aos mais velhos as boas memórias de outros tempos. Adultos “revivalistas” e empenhados colecionadores são mesmo atualmente os principais consumidores dos históricos brinquedos com a marca PE-PE, referia António Larguesa já em 2013, no Jornal de Negócios.
Assinale-se ainda que Alfena começou a construir esse glorioso título de ‘capital do brinquedo’ precisamente com a fundação da Pe-Pe JATO, pelo bisavô de Júlio Penela em 1921.
São algumas destas memórias, ainda bem presentes em tantos de nós, que o Centro Cultural Municipal de Vila das Aves vai ter, em exposição: antigos brinquedos de todas as cores e formatos, que exploram materiais como a madeira, a chapa e o plástico.
Os espólios de Júlio Penela, herdeiro da Pepe Jato, uma das mais antigas e importantes empresas de produção de brinquedos, e da Junta de Freguesia de Alfena são o ponto de partida da exposição. A eles junta-se Manuel Moreira da Silva e a família Moura, oriundos da freguesia de Ermesinde, que acrescentam valor à exposição com peças de folha de flandres, pasta de papel e plástico.
Em paralelo serão promovidas um conjunto de Oficinas do Brinquedo Tradicional destinadas às escolas e grupos organizados, mediante marcação prévia. A inscrição é gratuita.
Adultos “revivalistas” e empenhados coleccionadores são os principais consumidores dos históricos brinquedos com a marca PE-PE, fabricados artesanalmente num pequeno armazém de Alfena, no concelho de Valongo. As restritas normas europeias de segurança e a “febre telecomandada” do século XXI ajudam a comprovar a tese de que estes produtos não são um exclusivo nas mãos das crianças nem debaixo de um pinheiro enfeitado.
A menos de um mês do Natal, as mãos de Júlio Penela não precisam de acelerar os movimentos. Protegidas por luvas salpicadas com cores garridas, vão dando resposta, a baixo ritmo, às pequenas encomendas chegadas nas últimas semanas – tudo é feito por encomenda. “Isto não tem consumo nos grandes centros comerciais, por isso a época alta para mim até é mais no pico do Verão por causa das feiras e das festas”, apontou o gerente, 48 anos. É, porém, na altura das santos populares que precisa de contratar algumas pessoas em “part-time” que ajudem no fabrico dos clássicos martelinhos do S. João. Resignado, explicou que “o brinquedo já não justifica meter pessoal, como há 20 ou 30 anos”.
A par das miniaturas de máquinas de costura, de tábuas de passar a ferro e de automóveis Carocha, o “best-seller” é a Volkswagen Kombi, a popular “pão de forma” da marca alemã. Em ponto real deixará de ser fabricada no final deste ano, após 63 de produção; as réplicas em ponto pequeno desta “carrinha hippie” chegarão dentro de poucos dias a bazares no Porto, Lisboa, Coimbra ou Braga e também às prateleiras d’A Vida Portuguesa. As populares lojas de Catarina Portas – a empresária prepara-se para abrir mais uma no largo lisboeta do Intendente – já são o melhor cliente destes brinquedos que fazem parte do imaginário de qualquer português com mais de um quarto de século de vida.
Fora do País, vende apenas tambores, vira-ventos e “uns carritos antigos” em Espanha e esporádicos modelos “VW” para a Alemanha. A Internet gerou um novo mercado em segunda mão para os brinquedos valorizados pelas marcas JATO e PE-PE. Em sites de leilões, Penela já encontrou alguns feitos em chapa pelo avô José Augusto, que não se fabricam há 50 anos porque “as ferramentas já nem sequer existem”. Compra “como investimento futuro – ainda há dias ofereceram quatro mil euros por um bólide de corrida da Mercedes – e para ter uma recordação do que a empresa produzia antigamente”.
A maior parte dos brinquedos são catalogados como artesanato por conter materiais considerados perigosos para as crianças de hoje em dia. De qualquer das formas, o empresário até duvida do sucesso comercial nessa faixa etária: “elas hoje só querem saber de computadores. Acham piada, mas não brincam com isto. Não tem telecomando, só tem corda…”, gracejou.
E também não dão “corda” a este negócio familiar, já que esta área vale apenas 10% na facturação da BruPlast, que garante a rentabilidade na injecção de plástico para clientes industriais. “É para não deixar acabar a tradição da família, somente isso. Por exemplo, a ‘pão de forma’ sai daqui a cinco euros, quase o preço de custo. Com estes brinquedos não se ganha dinheiro”.
Em 2016, a Biblioteca Municipal de Santo Tirso promoveu já idêntica exposição.
Imagens: (0, 2) Junta de Freguesia de Alfena, (1) Município de Santo Tirso