Ambiente | Companhias aéreas querem eliminar o plástico de uso único no prazo de cinco anos

Ambiente | Companhias aéreas querem eliminar o plástico de uso único no prazo de cinco anos

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“Todo o plástico que deitamos no oceano volta para nós em peso através da cadeia alimentar, gerando doenças”, refere Paulo Mirpuri, presidente da Fundação Mirpuri e da companhia aérea Hi Fly. Numa altura em que a União Europeia já decidiu fazê-lo até 2021, num gesto de avanço e compromisso com o Planeta, “as companhias aéreas devem antecipar-se às medidas que vierem a ser estudadas e adotadas, e eliminar voluntariamente o plástico de uso único no prazo de cinco anos”.

 

A indústria da aviação dá hoje emprego a 65,5 milhões de trabalhadores, é responsável pelo transporte anual de 4,4 mil milhões de passageiros em 41,9 milhões de voos comerciais e 45 mil rotas, e a quem são servidas 3964 refeições a bordo a cada 60 segundos. Estes números da IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos) são atuais e fazem levantar uma importante questão: Para onde vai todo este desperdício gerado a bordo? – sendo que 17% do desperdício consumido em cabine é plástico de uso único (garrafas de água e copos) e que 5,7 milhões de toneladas de desperdício são produzidas todos os anos em cabine.

O plástico de uso único – que também representa 50% do lixo recolhido nas praias europeias – não é a única variável problemática nesta equação com asas: 25 a 30% do desperdício em cabine é composto por comida servida a bordo que não é consumida e que acaba por ser incinerada, quando não teria necessariamente de fazer parte da estatística do desperdício. Isto representa 2,5 a 3 mil milhões de dólares que estão a ser literalmente queimados anualmente.

Sendo um sistema muito eficiente por excelência, urge que o desperdício (e a sua gestão) passe também a fazer parte da forma como o avião é pensado, projetado e concebido – não só o que o integra, mas também o que nele circula. A economia circular pode ajudar a enfrentar este problema – reciclar pode ser até 65% mais barato do que a opção de incinerar. Para isso, é fundamental encontrar formas de se poder analisar a composição deste desperdício de modo a que o setor se torne mais eficaz e sustentável neste ponto de vista.

Os órgãos regulatórios são outra parte fundamental do debate e têm de permitir alguma flexibilidade – isto porque há também o risco de surgimento de doenças, epidemias e pandemias de origem alimentar. Do ponto de vista da União Europeia, a solução passa por reduzir, reutilizar e reciclar educando os utilizadores (passageiros, mas não só) através de controlos de uso mais apertados, mas também da utilização de ferramentas não-legislativas que estão já no horizonte – tudo isto apoiado por soluções tecnológicas cada vez mais avançadas e eficazes e que permitam a criação de uma sociedade mais sustentável.

Nesta busca pela sustentabilidade, estandardizar pode ser também a resposta. Por exemplo, se 80% dos aviões tivessem o mesmo tipo de materiais haveria uma maior facilidade no tratamento de desperdício e na reciclagem, embora seja igualmente crucial ter-se especial cuidado com a substituição do plástico por outros materiais – caso faça aumentar o peso das aeronaves, as emissões de CO2 subirão por acréscimo.

Iniciativa pioneira arrepia o caminho para as soluções

Com o objetivo de mostrar que o setor da aviação não está indiferente a este flagelo do plástico, a Hi Fly e a Fundação Mirpuri – em parceria com a IATA e sob o patrocínio do Comissário Europeu para o Ambiente, Assuntos Marítimos e Pescas, Karmenu Vella – reuniram no passado dia 16 de maio no “Sustainable Cabin Forum” 2019 diversos stakeholders deste setor: companhias aéreas, operadoras de aeroportos, agentes de catering e principais reguladores estiveram juntos a discutir ideias, pontos de vista e experiências.

O debate deste importante dia centrou-se nos plásticos de uso único e nos resíduos resultantes do catering na aviação, tendo como contexto os desafios da indústria vs. a sustentabilidade e o futuro, tudo isto sempre dentro de um quadro regulatório que está agora mais atento ao problema – e participativo – em encontrar soluções.

Uma das respostas poderá vir a ser encontrada em breve através de uma investigação que está a ser feita pela Universidade do Minho em parceria com a Fundação Mirpuri e a Hi Fly, e que envolve o desenvolvimento de um material substituto do plástico, eco-frienly e que possa ser usado de uma forma que não seja prejudicial ao meio ambiente. “Este projeto decorre há um ano e estou muito satisfeito com os resultados”, sublinha Paulo Mirpuri, esclarecendo ainda que “o objetivo é ter no final – talvez já deste ano – uma solução que possamos partilhar com o mundo, uma vez que não queremos fazer negócio com esta descoberta”.

Recorde-se que a Hi Fly se tornou a primeira transportadora global a operar serviços de passageiros sem o uso de plásticos a bordo de uma série de voos intercontinentais durante o período natalício de 2018.

De destacar que o ano de 1970 foi o último em que se respeitou o orçamento ecológico (não consumir mais recursos do que aqueles que são gerados), e ao atual ritmo iremos precisar muito em breve de 1,5 planetas para tornar a Terra sustentável.

 

Imagens: (0) Noé Deverchere, (1) Arek Socha, (2) José Filipe Toga Soares

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