O Dia e a Noite dos Museus foram celebrados no passado sábado, 18 de maio, um pouco por todo o mundo sob os auspícios da UNESCO. Na Póvoa de Varzim não poderiam deixar de o ser e esta cidade encontrou o registo diferenciado que lhe competia na valorização patrimonial da sua identidade com o desfile “Da serra para o mar. A utilização da lã no traje de trabalho do pescador poveiro” organizado e apresentado, com sala cheia, no Museu Municipal de Etnografia e História.
O desfile “Da serra para o mar. A utilização da lã no traje de trabalho do pescador poveiro” mostrou uma sequência de figuras históricas de referência: desde guerreiros castrejos, a soldados romanos, bispos e nobres medievais, a elementos da classe popular do século XIX. O objetivo foi proporcionar uma abordagem evolucionista do uso da lã, desde a Antiguidade até à época atual, enquadrando a génese da camisola poveira, bem como as caraterísticas que motivaram a escolha deste modelo e material.
A Camisola Poveira, cuja confeção tradicional é realizada em lã branca de fio grosso, da zona da Serra da Estrela, é bordada em ponto de cruz com motivos em preto e vermelho, como o escudo nacional, com coroa real; patinhos; siglas; remos cruzados; vertedouros; grinaldas; apetrechos marítimos; entre outros.
Esta peça era elemento integrante do traje masculino de romaria e festa do pescador poveiro, cuja origem remonta ao primeiro quarteirão do séc. XIX. Este traje branco de branqueta (tecido manual) foi o que mais perdurou, mantendo-se até finais do século passado. Com a grande tragédia marítima de 27 de Fevereiro de 1892, em que num só dia faleceram 105 homens na faina pesqueira, o luto decretou a sentença de morte deste traje branco, assim como de outros trajes garridos. A camisola sobreviveu, ainda, pela primeira metade deste século, mantendo-se como peça de luxo de velhos e novos.
Segundo Maria Glória Martins da Costa, “a camisola poveira era inicialmente (1ª metade do século XIX) feita em Azurara e Vila do Conde e bordada (ou marcada) na Póvoa pelos velhos pescadores. Em evolução, passou a ser bordada pelas mães, esposas e noivas dos pescadores, e depois feita e bordada na Póvoa”.
A Camisola Poveira é, incontestavelmente, um ícone da Póvoa de Varzim. Referida por autores ilustres, como Ramalho Ortigão nas “Praias de Portugal” (1876), é reproduzida em gravuras e retratada em fotografias desde o século XIX, tornando-se conhecida internacionalmente com o Rancho Poveiro criado, em 1936, por Santos Graça que iniciou a divulgação no exterior da comunidade piscatória local desta genuína expressão de mundividência poveira. No Museu Municipal nunca faltaram fotografias que a documentam e muitos manequins as envergam, nos ambientes tradicionais recriados.
Sendo uma peça masculina invulgarmente garrida, adaptou-se perfeitamente ao gosto da cultura Pop e dezenas de artesãs diligentes produziram-nas para venda em lojas locais e para exportação. Contudo, esta mais-valia comercial das camisolas poveiras não suplantou o seu valor etnográfico e patrimonial. Em todas as exposições e em todos os cortejos a podemos encontrar, cada vez mais decorada e carregada de significado bairrista.
O Museu Municipal de Etnografia e História tem vindo a desempenhar um relevante papel no incremento do estudo, divulgação e ensino da técnica de produção e bordado desta invulgar peça. Desde a preservação e divulgação dos registos, em fotografia, mais antigos, mas também na realização de um atelier semanal de confeção de camisolas poveiras, o Museu tem conseguido estimular e incentivar novas experiências dos designers de moda, o que só pode augurar futuro para este produto de origem popular da Póvoa de Varzim.
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Imagens: Município da Póvoa de Varzim
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