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‘Projetos Contemporâneos: Clube de Poesia‘ é a mais recente exposição de Horácio Frutuoso. A mostra do jovem artista natural da Póvoa de Varzim, em 1991, e com origens familiares também em Vila Nova de Famalicão, é comissariada por Ricardo Nicolau, adjunto da Direção do Museu de Serralves. ‘Clube de Poesia’ inaugurou no passado dia 14 e estará patente na Fundação de Serralves, no Porto, desde essa altura até inícios de maio de 2019.
Esta é a primeira exposição individual de Horácio Frutuoso numa instituição. Ser a linguagem a matéria-prima fundamental da sua prática artística ajuda a explicar o título de uma exposição em que é atribuído um considerável destaque à palavra escrita, quer em textos pintados diretamente nas paredes quer em pinturas inéditas que juntam iconografia oriunda da música popular (Kanye West), da história da arte e do cinema (São Sebastião, a “Boca da Verdade” em Roma) a frases que fazem ecoar formas contemporâneas de pertença a grupos, a clubes (redes sociais, música, cultura de clubes de dança).
‘Clube de Poesia’ é a primeira exposição individual de Horácio Frutuoso numa instituição museológica. Este título pode relacionar-se diretamente com duas das especificidades que singularizam a sua prática artística: a atenção à linguagem — a presença de frases escritas sobre paredes e chão de galerias, uma espacialização daquilo que historicamente se designou como poesia visual, ocupa um lugar destacado no seu percurso expositivo — e uma constante criação de sinapses, de associações. A relação mais evidente nesta mostra é desde logo entre meios: a pintura e a escrita sobre paredes — e a escrita nas próprias pinturas — confundem-se e desestabilizam todas as hierarquias entre visualidade e leitura, com as frases a ocuparem de certa forma o lugar das tabelas que tradicionalmente acompanham pinturas, e que frequentemente fornecem elementos — títulos, nomeadamente — que permitem aos espectadores partirem para determinadas interpretações. Por outro lado, também a iconografia representada remete para a ideia de assembleia, de clube, até de sociedade secreta. Destaque-se, por exemplo, a presença de riscas horizontais brancas e negras — que pode remeter para a sinalização de malfeitores punidos pela justiça (pelo menos de desviados) — em t-shirts simplesmente dobradas, pousadas ou envergadas por um indivíduo mascarado e pelo personagem famoso (nem sempre pelos melhores motivos) Kanye West; além destas figuras podemos ver na exposição retratos de alguns dos amigos mais próximos do artista, potenciais membros de um determinado mas inominável clube.
Assinalável é o facto de algumas pinturas declararem premeditadamente serem cópias de cópias, reproduzindo, por exemplo, além de determinadas imagens as páginas dos cadernos onde estas foram guardadas pelo artista. A solenidade retirada à pintura — meio ao qual o artista não atribui mais importância do que à escrita que frequentemente a cobre, pelo menos parcelarmente — é reforçada pelo tipo de linguagem utilizada pelo artista nas próprias telas e nas paredes, entre o registo eminentemente pessoal, diarístico (despudoramente confessional, em certos casos), que denuncia simultaneamente a permeabilidade em relação à chamada cultura popular (música e cinema de massas) e uma utilização sofisticada, literária, de diversas figuras de estilo (aliteração, sinopsia, onomatopeia, sinédoque). Outras vezes, o artista recorre simplesmente à repetição que na música se traduz em refrães ou em ritmos sincopados que nos convidam a juntarmo-nos na pista de dança.
A escrita de Horácio Frutuoso é portátil, é uma forma de capturar aquilo que, exatamente como a dança, é fugidio, evanescente, que está prestes a desaparecer: um sonho, uma ideia, uma estranha relação entre duas coisas. Responde à urgência. É um meio leve, fácil de transportar. Como tudo na prática artística de Frutuoso, parece periférico, mas pode tornar-se central. O contrário também se aplica.
Fonte: Serralves
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