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No segundo domingo do ano, assinala-se o batismo de Jesus, o Cristo, um dos momentos mais significativos da sua vida terrena, na medida em que marca o início da sua vida pública, o período durante a qual proclamou a mensagem do Reino de Deus.
Este evento é descrito nos evangelhos de Mateus, Lucas e Marcos, enquanto no evangelho de João, João Batista desempenha a função de testemunha.
João Batista, o profeta que marca a transição entre o Antigo e o Novo Testamento, pregava a penitência e o arrependimento, encorajava a distribuição dos bens materiais para os pobres e os excluídos e praticava o batismo pela água como sinal de renovação espiritual. Contudo, não se considerava como o Messias. Pelo contrário, considerava-se como o precursor daquele que iria batizar «com o Espírito Santo e com o fogo».
Jesus veio até ao rio Jordão, onde foi batizado num local tradicionalmente conhecido como Qasr al-Yahud. Segundo os evangelhos, este evento termina com o céu que se abre, a descida do Espírito Santo e uma voz divina que proclama: «Este é o meu Filho amado; nele está o meu agrado».
João Batista conhecia bem Jesus. Ambos eram parentes por parte de suas mães e tinham alguns meses de diferença em idade sendo razoável presumir que se conheceram durante a juventude. As duas famílias teriam estado juntas em Jerusalém várias vezes por ano para as principais festividades judaicas e é plenamente possível que Jesus tenha visitado João na Judeia ou João tenha visitado Jesus enquanto ele crescia na Galileia. Ambos compartilhavam o ideal da proclamação do Reino de Deus.
João compreendeu, pelo modo como Jesus falava de Deus, que Jesus era espiritualmente mais inspirado e conectado do que ele próprio. E, por isso, começou por escusar-se a batizá-lo. Mas Jesus foi mais convincente.
Quando Jesus saiu das águas do rio Jordão, João teve uma iluminação interior e confirmou que Jesus era realmente o Messias anunciado pelos profetas de Israel, o Enviado de Deus por excelência.
No caso de Jesus, o impacto espiritual do batismo foi bem mais poderoso. Foi preenchido pelo Espírito de Deus. A presença do Divino desceu com tal intensidade no ser humano Jesus que o seu ego humano foi superado. Isto não significa que ele não travou nenhuma luta interior. Jesus continuava a ser humano e tinha que lidar com as forças materiais da existência. Mas já não era o seu ego que o guiava, mas o Espírito de Deus de que estava preenchido.
O Espírito de Deus que desce sobre Jesus significa que ele está cheio da vida de Deus e que vem partilhá-la com a humanidade no seu todo, de todos os tempos e de todos os lugares.
O batismo de Jesus é descrito através de um conjunto de sinais simbólicos que chamam a atenção para a presença de Deus na marcha da vida e do universo.
As nuvens são um sinal simultaneamente da proximidade e da transcendência de Deus.
A pomba referida nos evangelhos simboliza a paz e o amor infinitos de Deus. Há que ter em conta que a pomba da Arca da Noé trazia o primeiro ramo verde depois do dilúvio.
A voz que vem do céu significa a presença infinita de Deus e a legitimação da missão de Jesus, que consiste em proclamar a paz, a ternura e o amor infinitos de Deus pela humanidade.
Tal como há dois milénios, a missão de Jesus é de que cada um ser humano se torne plenamente consciente da sua condição de filho de Deus.
Com efeito, ser filho de Deus não é uma condição que tenha de ser adquirida, mas é imperioso ter consciência desta condição sublime e das respetivas consequências na nossa vida.
A relação de Jesus com Deus, como a de qualquer ser humano, trata-se de um verdadeiro processo de aprendizagem, de amadurecimento e de crescimento a todos os níveis. É uma relação que evolui e cresce até atingir a plenitude, passando por momentos de alegria e de júbilo, de dor e sofrimento. A vivência de Jesus está radicalmente baseada na sua humanidade.
Daí que Jesus, a sua vida e a sua mensagem podem ser um poderoso modelo espiritual e ético não somente para os cristãos, mas para todos os seres humanos de boa vontade que partilham o nosso planeta.
O batismo representa a segunda grande iniciação de Jesus, o Cristo. As outras são as seguintes: nascimento, transfiguração, morte e ressurreição.
Neste contexto, a imersão nas águas do rio Jordão tem um profundo significado místico.
Desde tempos imemoriais, a água simboliza a origem da vida, a fecundidade, a fertilidade, a transformação, a purificação, a força e a regeneração.
Assim, o mergulho nas águas simboliza a experiência de sintonia do ser humano empenhado na sua vida espiritual com o sofrimento de todos os anseiam por uma vida de felicidade e harmonia. Ao aceitar voluntariamente compartilhar a sofrimento do próximo, assinala-se que se está pronto para acolher a graça divina.
O ser humano que se compromete a servir a Deus na libertação e na salvação da humanidade demonstra ser um filho dileto do Pai.
A iniciação simbolizada no batismo confere uma nova expansão de consciência e maiores poderes ao iniciado. A capacidade analítica é consideravelmente aumentada, o que pode tornar o indivíduo demasiadamente crítico e orgulhoso. Esse perigo é a contrapartida das novas faculdades alcançadas.
O próprio Jesus teve que lidar com o lado sombrio da existência, manifestado pelas tentações do orgulho, egoísmo e ambição pelo poder.
O deserto simboliza o período de aridez espiritual que se segue a toda experiência de elevação ou exaltação espiritual, o que tem sido experienciado e testemunhado por todos os místicos, das mais diversas tradições espirituais.
Após superar as tentações do mal, com sabedoria, firmeza e determinação, Jesus, o Cristo, estava pronto para proclamar a Boa Nova do Reino de Deus como a grande utopia de libertação e salvação universais.
Imagem: José Gonçalves
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