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Tirar um curso de “Especialista em Tudo” deve ser difícil…
Aparecer um vídeo no Facebook de um minuto sobre Richard Feynman não faz das pessoas especialistas em eletrodinâmica quântica. Ter um pipi e maminhas, não faz das mulheres todas especializadas em políticas de género. Ver no canal Dois uma série, não faz das pessoas eruditas. Da mesma forma que comprar uma bola de futebol não faz das pessoas treinadores. Por acaso ver um gato preto e a seguir pisar cocó, também não faz das pessoas entendidas em esoterismo. E podia estar o dia todo nisto…
Eu já vi pessoas (ninguém me contou, eu vi) a vangloriarem-se sobre o seu megaentendimento em fisioterapia após visualizarem vídeos no Youtube. Pior que isso, eu vi pessoas a acreditarem neste conhecimento e usufruírem de um supercurso youtubetiano.
Não que sejam precisos cursos para tudo, e existem efetivamente pessoas que, não tendo um grau académico, conseguem ser esplêndidas numa determinada área… Mas, bolas… há malta que exagera!
Isto de ser especialista tem muito que se lhe diga…
Eu vi pessoas (ninguém me contou, eu vi) que, uma vez, leram no jornal Público a parte das Relações Internacionais e se consideram já politólogos e especializados nas guerras do Médio Oriente.
Volto a dizer, conheço muito boa gente em que o interesse é tanto e a ambição é tanta que frequentemente têm opiniões mais pertinentes que muitos comentadores da área. Essas mesmas pessoas, no entanto, não se sujeitam a vir para a praça publica mandar postas de pescada de forma a que eu oiça e escreva um artigo a gozar com elas no Vila Nova.
Eu já vi pessoas (ninguém me contou, eu vi) que deslizaram os seus olhos sobre “team building” num artigo qualquer na internet e de repente se acharem o Gustavo Santos. “Oh Vânia! Mas o Gustavo Santos está longe de ser um especialista em coaching”. É um facto, mas estas pessoas não sabem o que torna ainda mais fantástico observá-las. Eu própria já fui “vítima” de tentativas de colocar em prática terapias motivacionais apanhadas algures no meio de um qualquer blog. Procurei câmaras ocultas, não fosse uma cena para um novo programa de apanhados do César Mourão.
Eu já vi pessoas (ninguém me contou, eu vi) que passaram um verniz num móvel antigo da avó e que a partir daquele momento se dizem muito bons a restaurar móveis (sim, está no plural). O mais absolutamente incrível é haver pessoas a comer esta papa como sendo verdadeira.
Parem a Terra, por favor, deixem-me sair nesta paragem!
Eu já estive presente em conversas em que se dizia: “Eu adoro aqueles programas de cultura e faz-nos bem, tipo aquele da Cristina Ferreira”. E quando eu pensava que não me faltava ouvir mais nada, a resposta é: “Sim, mas tu consegues porque tens uma cultura geral muito boa”.
Prendam-me a uma cama e arranquem-me as unhas com um alicate que de certeza que vai doer menos.
Eu já vi malta a ler aqueles fantásticos livros do tipo “A Arte da Guerra do palito – Sun Tzu” e fora de casa, num ambiente sério (não era a brincar, estavam mesmo a falar a sério), acharem que percebem de estratégia. Epah mas estão à espera de quê? Obviamente que isso é material de gozo.
Eu já vi pessoas (a sério, acreditem em mim) que, depois dos grandes incêndios, disseram à minha frente: “É óbvio que estas coisas acontecem, isto tem tudo que ver com o gás natural debaixo da terra”. A mesma pessoa que disse: “Já dizia a minha avó que o mundo ia acabar através do fogo”.
Há muito a explorar sobre o tema dos “entendidos em tudo” e tenho cá um feeling que isto vai virar rubrica.
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