Os feitos e a postura eloquente e icónica dos atletas e equipes que foram distinguidos pelo mérito competitivo e realizações indescritíveis que provocaram o júbilo dos seus seguidores e compatriotas, bem como o reconhecimento transversal pelas mais diversas instituições, tem sido com frequência assinalado pela arte cinematográfica, quer no plano biográfico quer no plano ficcional.
Vencer é determinante para o estatuto do atleta. Ele pratica e treina com o objectivo de ser primorosamente competitivo. O atleta consolida metodologias e conceitos elucidativos e profilácticos com o intuito de atingir a plenitude e magnitude máximas com desenvoltura e técnica interpretativa. Contudo a importância do desporto e as suas virtudes peculiares não se resumem apenas ao fatalismo bacoco e preconceituoso do ganhar e perder; existem outros aspectos determinantes, designadamente factos e evidências científicas que demonstram as relações da actividade física com o desenvolvimento de hábitos de saúde, a adopção de estilos de vida saudáveis, o desempenho cognitivo e académico e sua influência vital com os factores de saúde mental, pois estas premissas do movimento regular, tanto servem para os adultos em geral, como podem ser um suplemento auxiliar da educação das nossas crianças. Outro detalhe conspecto que realça o desporto é o desiderato de fortalecer laços e redes sociais e promover ideais de paz, fraternidade, solidariedade, não-violência, tolerância e justiça, aproximando as pessoas das fronteiras, culturas e religiões. Por isso foi instituído pela ONU o dia 6 de Abril como o Dia Internacional do Desporto para o Desenvolvimento e Paz. Perante este sublinhar da pertinência que o Desporto tem para todos nós, apresentam-se alguns filmes demonstrativos dos fundamentos e valores que ele sintetiza e transporta para a sociedade em geral.
Pelé – O Nascimento de uma Lenda (2016), dos Irmãos Jeff e Michael Zimbalist
Aqui está um filme biográfico de 2015, que não podia alienar nesta crónica, sobre o entronizado e consagrado Rei Pelé, considerado o melhor atleta de futebol pela esmagadora maioria dos adeptos desta modalidade.
O filme ‘Pelé – O Nascimento de uma Lenda‘ aborda a sua infância, a sua habilidade intrínseca, o seu exotismo técnico com a bola, precursor de jogadas mirabolantes e geniais, em que se destacou, designadamente nos campos de várzea perto de sua casa, em Minas Gerais. Perante estas habilidades inusitadas e eloquentes, Pelé começa a ser observado por um olheiro de um grande clube do Brasil, suscitando um enorme interesse a esse senhor que acaba por culminar na oportunidade de jogar na equipe do Santos. Tendo-se deparado com dificuldades decorrentes da distância da família e de sua juventude perante os demais jogadores, Pelé supera os problemas, apesar da irreverência, demonstrando em campo, todo o seu talento de forma inequívoca e explícita, o que faz com que aos 17 anos seja convocado para disputar a Campeonato do Mundo de 1958 pela selecção brasileira. Nessa competição, Pelé vai-se fazer valer do seu virtuosismo técnico apurado, do carisma e espírito de camaradagem com os outros jogadores, de uma alegria que vai contagiar os outros, imprimindo um futebol jogado com prazer e fruição, sem qualquer tipo de pressão e desprovido de uma táctica circunspecta, faz com que a Selecção conquiste a taça, para gáudio dos jogadores e do povo Brasileiro. Apesar deste filme só mencionar a fase da ascensão de Pelé como o melhor jogador do mundo, temos que realçar a figura incontornável, não somente como atleta de eleição que foi dentro do campo, mas também o seu civismo, os seus valores, promotor e defensor acérrimo da paz, da não violência, que o desporto tem que ser jogado e usufruído como uma actividade de lazer, com um imprescindível brio profissional, respeito pelo o adversário e pela lealdade desportiva.
Pelé – O nascimento de uma lenda – trailer
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Fuga para a Vitória (1982), de John Huston
‘Fuga para a Vitória‘ é um filme de 1982, considerado pela crítica e os média a obra mais badalada e conceituada relativa à prática do futebol, pois contou com a interpretação inequívoca e reluzente de super-estrelas internacionais, da melhor nata do futebol.
O filme retrata cronologicamente a época da Segunda Guerra Mundial, designadamente a vida de prisioneiros aliados que se encontram detidos num campo de prisão nazi, em França. Todavia surge uma oportunidade única e singular hipótese de fuga para estes prisioneiros de guerra quando, de forma surpreendente e insólita, o major Karl von Steiner (Max Von Sydow), que no passado foi uma velha glória da selecção alemã de futebol, tem a ideia de fazer um jogo entre a Alemanha e uma selecção composta pelos prisioneiros aliados. Para esse efeito, conta com a colaboração de um detido, John Colby (Michael Caine), um militar inglês, conhecido jogador de futebol, que fica incumbido de ser o intermediário para a realização deste evento, para além de treinar e liderar a equipe com o intuito de preparar os jogadores para enfrentarem a equipe alemã, no Estádio Colombes, próximo de Paris.
Contudo evidenciam-se nos bastidores deste jogo duas versões completamente distintas. Para os Nazis é absolutamente imperativo vencer o jogo. Está em causa a sua supremacia como povo. Portanto perder com prisioneiros de raça inferior está fora de questão; Nesse jogo tem que ficar clara a superioridade da raça ariana e a vitória nesse confronto terá que ser exortadora e lapidar. Já os aliados vêm nesse jogo uma eventual possibilidade de fuga,pelo que planeiam uma arriscada evasão durante o intervalo da partida.
Independentemente das incidências dessa partida, em que os aliados se vão confrontar com a vontade e o orgulho de vencer, um adversário detentor de uma frigidez enquistada e a necessidade imperiosa de fugir, não obstante esta hesitação momentânea dos aliados, este jogo vai-se revestir de uma vital importância, porque uma eventual vitória dos prisioneiros, pode significar dar uma grande alegria ao povo Francês, claramente deprimido com a opressão e sofrimento da guerra.
Fuga para a Vitória, de John Huston – trailer
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Momentos de Glória (1981), de Hugh Hudson
Momentos de Glória é um filme britânico de 1981 que arrebatou 4 Óscares na academia de Hollywood, designadamente, com mais destaque, na atribuição do prémio de melhor filme e melhor banda sonora, com Vangelis a produzir uma divinal e apropriada música de fundo. Esta obra é, sem dúvida, um filme de culto, para os amantes do desporto e olimpíadas em geral, que eu recomendo activamente, porque apela a uma competição saudável entre os atletas, respeitando com firmeza e dignidade, os valores éticos e congéneres do desporto, sem que se recorra a métodos pejorativos e sinuosos, completamente inoportunos com ideais da prática desportiva.
O filme mostra de forma inequívoca o percurso de dois atletas de alta competição, rivais da equipe olímpica de atletismo da Grã-Bretanha, e sua preparação direccionada para os Jogos Olímpicos de 1924, em Paris. Eric Liddell e Harold Abrahams, são dois corredores de provas de velocidade, acérrimos adversários e alunos da Universidade de Cambridge. Liddell é um missionário escocês que corre em devoção a Deus, enquanto Abrahams é filho de um judeu da classe média alta e tem a intenção de provar os seus créditos como atleta de alta competição, a tal ponto de um dia os dois terem a oportunidade única de participarem nos jogos Olímpicos. Apesar da rivalidade estar presente nestes dois atletas, os dois fazem questão de frisar o respeito mútuo e o civismo entre eles. Assim cada um deles prepara-se afincadamente e superando desafios pessoais, sem recorrerem a quezílias e a um azedume confrangedor, cada um usando a sua metodologia de treino. Liddell prepara-se mais enquadrado e confiante no seu talento natural, enquanto Abrahams resolve contratar um treinador de créditos firmados para o ajudar a dotar-se de novas técnicas de trabalho, de forma a tornar-se mais rápido e obter um desempenho mais assertivo. Perante esse treino específico, convictos das suas capacidades, ambos conseguem estar presentes na competição olímpica, tendo os dois uma prestação convincente e categórica.
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Race – 10 segundos para a liberdade (2016), de Stephem Hopkins
Race, 10 segundos para a liberdade – é um filme norte-americano de 2016, de índole biográfica que aborda o grandioso momento histórico de Jesse Owens, que em 1936 num jogos olímpicos realizados pela a Alemanha Nazi, arrecada quatro medalhas de Ouro em provas de atletismo, para consternação de Hitler e gáudio do mundo democrático. O filme retracta o inicio de carreira de Owens e a sua ascensão fulgurante como atleta de eleição, mas o que eu acho determinante destacar e reter, extraindo na essência desta obra cinematográfica, é que o espirito olímpico e dos valores éticos do desporto, veio ao de cima, apesar das diferenças insanáveis e intransigentes entre países de regime democrático, em comparação com os regimes despóticos e tiranos de fascistas e Neo-nazis da Alemanha de Hitler e Itália de Mussolini, que defendiam uma política perniciosa e despiciente, em relações aos direitos humanos e liberdades e garantias e perseguição racial, com uma enfase generalizada em alusão aos judeus. Contudo e apesar destes constrangimentos políticos, a Alemanha cedeu de forma momentânea e provisoria ao Comité Olímpico, dando uma resposta cabal e afirmativa, ás exigências mínimas da Instituição máxima do Desporto, numa semântica de aceitação de participação de atletas de outras raças, designadamente com a inclusão dos mal amados judeus, não obstante o objectivo dos alemães, em preconizar a eventual superioridade demagógica e exacerbada da raça ariana, nestes jogos, a realidade é que o desporto consegue induzir e alicerçar, países e regiões desavindas, em prol da paz na prática das várias competições que estão associadas.
Race – 10 segundos para a liberdade (2016), de Stephem Hopkins – trailer
Rematando esta minha abordagem ao desporto no cinema e as ilações transversais irremediavelmente associadas, permito-me concluir que não vale a pena ter uma obstinação desenfreada por uma eventual vitória numa competição recorrendo a promiscuidades criminosas e a uma disrupção agressiva nem a derrota pode significar um fatalismo redutor, mesmo que estejam em causa montantes financeiros astronómicos e o prestígio e a consagração de um atleta ou de uma equipe. O desporto é um momento de lazer, de fruição, para quem o acompanha e para quem o compete. O vencedor de hoje pode ser o derrotado de amanhã, numa alternância quase sempre absoluta.