As chamadas línguas clássicas – o Latim e o Grego Antigo – tiveram um papel estrutural na definição do pensamento do mundo Ocidental. Todavia, ao contrário do que eventualmente algumas pessoas poderão pensar, o seu papel ativo na estruturação do dito pensamento ultrapassou significativamente a sobrevivência dessas mesmas línguas enquanto línguas maternas, isto é, enquanto línguas nativas. Se as línguas vivas, ao serem usadas, se alteram necessariamente, estas duas outras, por vias distintas mas análogas, preservaram ao longo do tempo a sua estrutura e a sua capacidade enquanto línguas de cultura.
Durante séculos, a transmissão de pensamento fez-se, em grande parte, por intermédio destes veículos de pensamento: na parte da Europa Ocidental, sabemos como o Latim se preservou enquanto língua de comunicação, de escrita e de pensamento. Isto ocorreu durante a Idade Média, o Renascimento e parte significativa da Era Contemporânea. E para o Grego Antigo algo de análogo se poderá dizer: não se enclausurou, enquanto literatura, na Grécia Antiga. Uma cultura linguística ática perseverou na parte oriental do império Romano; durante a Idade Média, foi por excelência a língua do chamado império Bizantino – e após isso continuou a ser utilizada no mundo de influência cristã ortodoxa.
Estudar Latim e Grego Antigo da mesma forma que se estuda inglês, francês ou alemão
Estas línguas, portanto, mantiveram o seu prestígio e a sua capacidade cultural muito tempo após o seu período enquanto línguas maternas (como sabemos, o Latim deu lugar às línguas Românicas; o Grego Antigo, ao Moderno). Como justificar isso? A resposta parece-me ser patente: pelo seu uso. O uso de uma língua – saber manejá-la para ler, escrever e conversar com ela – torna-se uma condição para a apropriação da mesma, para com ela se dialogar diretamente com os autores circunscritos a uma mesa literatura, quer tenham escrito no século I quer no século X; em suma, é condição para nos circunscrevermos numa tradição literária e linguística transecular. Isto implica que o ensino destas línguas deve assentar, também, no seu uso. Outrora, diversas instituições forneciam o contexto para se utilizar as referidas línguas. Atualmente, torna-se também possível esse uso, recorrendo às técnicas do ensino das línguas estrangeiras.
Pode-se assim aprender e estudar Latim e Grego pelas mesmas técnicas com que atualmente, na sala de aula, os alunos aprendem inglês, francês ou alemão: pelo seu uso. O professor de inglês fala em inglês com os alunos, com os alunos lê textos progressivamente mais complexos na língua-alvo; faz perguntas na própria língua; pede respostas na própria língua; pede aos alunos que escrevam pequenos textos nessa língua; no final, muitas vezes os discentes devem fazer uma exposição oral na língua que estudam. Nada impede que o mesmo ocorra para as línguas clássicas.
Pedagogia indutiva espalha-se um pouco por todo o mundo
Esta pedagogia, assente num método que alguns chamam de indutivo ou direto, tem crescido um pouco pelo mundo, não obstante resistências quanto a esta forma de ensinar, que preferem fazer uso do chamado “método gramatical”. Seja como for, em Itália, a Academia Vivarium Novum, em Roma, e a Schola Latina, em Montela, dedicam-se exaustivamente a ensinar com base nestas pedagogias; nos Estados Unidos da América o Paideia Institute fornece também cursos que procuram tornar “vivo” o Latim e o Grego Antigo. Em Israel, Jerusalém, o Instituto Polis fornece imersão linguística em Latim, Grego Antigo e Hebraico Antigo. Na vizinha Espanha, a Associação Cultura Clásica tem desenvolvido um grande trabalho na promoção deste tipo de ensino. Tudo isto a par de diversos círculos de Latim, que, de uma forma mais ou menos formal, se reúnem para aprofundar o estudo da língua do Lácio conversando nela.
Por cá, não obstante o estado lastimável em que se encontra o ensino destas línguas – não são muitas as escolas onde se ensina Latim, e menos ainda Grego – cremos que, lentamente, as consciências se vão formando. Pela minha parte, tenho a graça de poder encontrar na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga, um espaço de acesso aberto à informação e ao conhecimento, onde posso desenvolver Cursos de Latim e de Grego, com base nestas metodologias.
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Imagem: Jorge Ferreira (ilustração)