Turismo | Verdade ou consequência

Hélder Ricardo Martins, natural de Vale S. Martinho, é técnico de Turismo por formação. Desde sempre participante ativo nos movimentos associativos, reflete, em mais uma estreia na Vila Nova, sobre realidades que têm vindo a acontecer no setor e o que poderia ser feito em Famalicão.

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A desregulação do setor turístico é por de mais evidente. (…) Uma das formas de resolver um pouco desse problema, seria (…) (desenvolver) políticas objetivas com o intuito de deslocalizar os visitantes dos locais mais críticos e sobrelotados, para locais e cidades próximas que igualmente têm elevado potencial turístico.

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Resultado da massificação do turismo e consequente excesso de turistas em grandes cidades, como o é caso o Porto, vemos cada vez mais acontecer um fenómeno anti-turístico, promovido principalmente por habitantes locais que se vêm forçados a abandonar as suas casas arrendadas, mudando vidas e rotinas, para dar lugar a bens e serviços dedicados ao negócio do turismo.

Este é o preço a pagar pela falta de organização, estrutura e coragem por parte das entidades competentes. A desregulação do setor turístico é por de mais evidente, e a falta de rigor, seriedade e formação dos quadros decisores competentes pelo setor chega a ser preocupante. Estamos atualmente a viver o momento de fartura, sem ter em consideração quais as consequências futuras. Estão a ser colocados os interesses económicos e o dinheiro fácil acima dos interesses sociais e de proteção da cultura e etnografia local. As cidades estão a perder as suas origens e a sua identidade.

Uma das formas de resolver um pouco desse problema, seria o de seguir o exemplo holandês para a cidade de Amesterdão, onde foram desenvolvidas políticas objetivas com o intuito de deslocalizar os visitantes dos locais mais críticos e sobrelotados, para locais e cidades próximas que igualmente têm elevado  potencial turístico. As entidades responsáveis começaram a promover a região como um todo, e não unicamente os sítios mais “conhecidos”, procurando dessa forma descongestionar o interior das grandes cidades. O papel de Vila Nova de Famalicão entraria aqui, enquanto capital nacional da indústria, região com um dos mais ricos patrimónios industriais da Europa, terra de gentes acolhedoras e uma gastronomia de transição (reúne o melhor do Minho e do Douro Litoral), vinhos verdes de referência e cada vez mais apreciados, capital do surrealismo e arte, entre outras potencialidades que muitas vezes, nós próprios, famalicenses, não nos apercebemos e que poderão ser alternativa e complemento ao turismo portuense.

Aguardemos que se acorde para a realidade e que se comece realmente a ponderar os riscos das políticas turísticas praticadas no presente, para que não se comprometa o futuro dos locais mais visitados.

Será esta a única realidade para o turismo? Serão as suas consequências inevitáveis?

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Imagem de destaque: Batalha das Flores (António Passos Silva /An by An).

 

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