No próximo dia 9 de dezembro, pelas 15h30, Agostinho Fernandes, ex-Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, lança o seu novo livro, desta feita de poesia, Poemas à Margem do Tempo – 50 anos de poesia, na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco.
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(…) Vivo da minha interioridade, só escrevo sobre o que sei ou me apetece. (…) O ato de escrever é um ato adulto e solitário e que deve ser exercido (…) em liberdade total. (…) Escrevo porque tenho inspiração e tempo para agarrar aquele momento diáfano e ledo (…) entre as muitas sombras e realidades humanas.
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Agostinho Fernandes nasceu em Joane, em 1942.
Agora que a política ativa ficou para trás – Agostinho Fernandes foi Presidente da autarquia durante quase 20 anos -, dedica-se hoje em dia ao voluntariado ativo, na sua qualidade de sócio e dirigente de diversas associações cívicas, culturais e de solidariedade social, ainda que mais em particular à Dar as Mãos, e à escrita.
Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, após frequentar o seminário na Ordem do Carmo, seria professor do Ensino Secundário, onde desenvolveu diversos cargos de gestão em estabelecimentos de ensino.
Entre 1980 e 1982 foi vereador da Cultura, no Município de Famalicão, cargo que lhe permitiu chegar a Presidente, quer pelas políticas desenvolvidas nessa área – entre outras, fundou o Boletim Cultural -, quer pela situação insustentável em que o executivo de então sobrevivia.
Em 1983 foi eleito presidente da Câmara de Famalicão, cargo que ocupou até janeiro de 2002. Durante esse período foram lançadas e desenvolveram-se as grandes infraestruturas concelhias, num trabalho que ainda hoje é reconhecido e se continua a aprofundar. Tendo perdido as eleições, foi substituído por Armindo Costa após um processo eleitoral fratricida que envolveu o Partido Socialista famalicense, à época, e o colocou numa situação tal que dele nunca até hoje recuperou.
Refere a Chiado Editores, na sua nota biográfica sobre Agostinho Fernandes que “o seu trabalho de autarca a favor da educação, ensino e ação social (foi um dos primeiros autarcas do país a criar no seu concelho uma rede pública de infantários) foi reconhecido, em 1993, pela UNICEF, que o declarou “Presidente da Câmara Amigo das Crianças.”
Depois de em junho e setembro passado ter lançado, respetivamente, os livros infantis Dom Caracol e o Senhor Aranhão e Aventuras de D. Quixote de La Mancha e Sancho Pança, igualmente pela Chiado Editora, a propósito do lançamento do seu novo livro Poemas à Margem do Tempo – 50 anos de Poesia, Agostinho Fernandes disponibilizou-se para, através da Vila Nova, partilhar alguns pormenores sobre esta sua novel experiência.
Vila Nova (VN): Depois da política, a escrita. Sobre quê e por quê?
Agostinho Fernandes (AF): Sempre gostei de ler e de escrever, desde os mais verdes anos. Nem sempre, porém, na existência fazemos o que queremos e sonhamos. Assim foi comigo mas, logo que pude, achei que não tinha alternativa senão retomar os sonhos de criança e segui-los da mesma forma que uma criança corre atrás de um papagaio de papel.
Não posso falar assim sem mencionar a inspiração. Até hoje pouco ou nada ficcionei. Para já vivo da minha interioridade, só escrevo sobre o que sei ou me apetece, dando satisfações apenas à gramática e aos meus botões. O ato de escrever é um ato adulto e solitário e que deve ser exercido, se possível, em liberdade total.
VN: “Poemas à Margem do Tempo – 50 anos de poesia” – Este título pode transparecer que esta coletânea é um encerrar de um ciclo. É mesmo assim?
AF: Sempre fiz poesia desde que me conheço, mas raramente publiquei; rasguei sempre muito mais. Achei que este era o momento adequado para juntar e peneirar. Contam-se agora 50 aniversários desde o poema mais antigo que conservo. Aproveitei, assim, a efeméride para publicar. Mas é claro que não vou parar enquanto houver inspiração. Basta ter vida e olhos!…
VN: Continua a manter atividade na área do voluntariado social. Esse projeto, bem como a política participativa que entretanto deixou para outros, preenche-lhe a vida? Que relação existe entre essa ocupação e os seus escritos?
AF: Estar afastado da política ativa não significa viver alheado da mesma. Comigo não!
Já o grande Aristóteles dizia, na ágora, que o homem era um animal político e social. É claro, hoje, para mim, que sempre tive propensão para o serviço público, nesse sentido de ajudar os outros, no convento como na escola, no município como numa associação. A paixão corre com o tempo. Em 2019, a Associação Dar as Mãos completará 25 anos. Mas disperso ainda o meu tempo por outras muitas atividades. O cérebro precisa de mexer como a perna. E o sofá é apenas lugar para o fim do dia.
VN: O que encontra na poesia que é para si força motivadora e inspiradora para escrever?
Agostinho Fernandes (imagem: autor desconhecido / Arquivo da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão; fotografia).AF: O livro tem como título Poemas à Margem do Tempo. Tinha muitas outras hipóteses de nomes mas, pelo tempo que abarca – 50 anos-, com a guerra colonial, o 25 de Abril, avida familiar e escolar, a queda do muro de Berlim, a independência de Timor-Lorosae, a entrada no século XXI, o 11 de Setembro dos EUA, a longa experiência autárquica, escolhi esta opção. Claro que os tempos não correm muito de feição, a meu ver, para escrever poemas. Mas, como transparece em muitos dos textos, só escrevo porque tenho inspiração e tempo para agarrar aquele momento diáfano e ledo que me toca e invade como uma nuvem de claridade, entre as muitas sombras e realidades humanas.
VN: Tem outros projetos na forja ou em mente para o futuro?
AF: Enquanto há vida há sonhos e projetos até ao fim. Por isso, é claro, já tenho outros em gestação para 2018. Não foi outra a linguagem que ensinaram os queridos poetas Sebastião da Gama e António Gedeão aos seus alunos. Transcrevo: “Sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança.”
Imagem de destaque: (autor desconhecido / Arquivo da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão; fotografia).