História, cultura, património e inovação das azenhas, moinhos e açudes no Vale do Ave: Introdução

 

 

Azenhas, moinhos e açudes no Vale do Ave


Ainda está por apurar a origem dos moinhos hidráulicos no Vale do Ave. (…)

Sabemos que a moagem de cereais era um processo utilizado pelo homem já no período Neolítico. Nos diversos castros e cividades da região – (…) Penices em Vila Nova de Famalicão (…) – foram encontradas peças destinadas à moagem de sementes e grãos.


Dadas as características hidrográficas da região, o Vale do Ave é muito rico em património molinológico: azenhas, moinhos e açudes. Bruno Matos, arquiteto e investigador internacionalmente premiado nestas matérias, reflete sobre o seu passado, presente e futuro. Este é o primeiro de uma série de cinco artigos.


(…) As azenhas e moinhos representam um importante papel na construção da nossa cultura. (…) Este património tem um vasto espectro científico e cultural para explorar e novas funções a desempenhar na nossa sociedade, quer pela (…) salvaguarda dos processos artesanais de produção de farinha e (…) do “verdadeiro” pão tradicional, quer pela inovação científica (…) explorando recursos renováveis amigos do ambiente.


 

 

Roda hidráulica vertical para microprodução de energia, Geseke, Alemanha.

 

A coletânea de artigos que se irão publicar periodicamente no jornal VILA NOVA com o título “Azenhas, moinhos, e açudes no Vale do Ave – história, cultura, património e inovação” pretende ser um contributo para o reconhecimento da importância histórica, social e económica que as azenhas e moinhos representam para a região. Neste sentido será apresentada uma perspetiva histórica ordenada cronologicamente nos seguintes subtemas: Origem, Expansão, Apogeu e Decadência. Além disto, pretende alertar para a premência da Proteção e Defesa do Património Molinológico cuja preocupação científica e social é manifestada já em meados do século XX, e, que ainda hoje está na ordem do dia, dado o risco da perda irreversível deste património. Por último, transmitir novas perspetivas para o futuro das azenhas e moinhos conciliando novos programas e usos que preservem, salvaguardem e valorizem este património aliado à Tradição e Inovação.

Mó manual; Fotografia: Rocha Peixoto; Fonte: Revista Portugália; Data: 1903.

O património molinológico é um tema que tem suscitado o interesse científico nas mais diversas áreas disciplinares, que envolvem desde a história, a etnologia, a antropologia, a arqueologia, a engenharia, a arquitetura, entre outras. Em Portugal, no final do século XIX, reconhecidas personalidades académicas, (José Leite de Vasconcelos, Sousa Viterbo, Rocha Peixoto, entre outros), debruçaram-se sobre o tema numa perspetiva de valorização da cultura popular “genuinamente Portuguesa” refletida no artesanato, no folclore e nos costumes populares.

Mós manuais; Desenhos: Rocha Peixoto; Fonte: Revista Portugália; Data: 1903.

Os moinhos voltam a ter destaque, em meados do século XX, numa perspetiva de “reconhecimento patrimonial” incentivado por Jorge Dias e continuado por Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Galhano, Benjamim Pereira. Neste mesmo período foi criada a primeira Associação Portuguesa dos Amigos dos Moinhos que contava como presidente da assembleia geral Vitorino Nemésio e como diretor Santos Simões. Em 1965 esta associação na sua primeira circular apresenta como objetivo a atingir:

«Num plano de acção imediato e urgente propõem-se:

– Pugnar pela promulgação de diploma legal que garanta uma efectiva protecção aos moinhos, classificando-os como elementos de interesse paisagístico e etnográfico;

– Determinar a limitação de reservas molinológicas para efeitos de conservação de alguns núcleos mais importantes;

– Fomentar estudos de molinologia no âmbito científico internacional.»

Azenha do Rio em Ponte d’Ave, margem direita do rio Ave, Bagunte, Vila do Conde; Autor: Domingos Alvão; Fonte: Jorge Dias, «Moinhos Portugueses» in Revista de Etnografia, Centro de Estudos de Etnologia Peninsular, Porto, Outubro de 1964.

Azenha localizada na margem esquerda do rio Cávado, Fornelos, Barcelos; Fonte: Ernesto Veiga de Oliveira, «Moinhos de Água em Portugal» in Revista Geográphica – Revista da Sociedade de Geografia de Lisboa. Centro de Estudos de Antropologia Cultural e de Etnologia Peninsular, Porto, Janeiro de 1967.

Atualmente o tema continua a ser estudado no âmbito da investigação na área das Ciências Sociais por diversas personalidades académicas onde destacamos: Nélson Borges, António Quintela, António Nabais, Jorge Custódio, entre outros.

 

Nélson Borges; «A farinação através dos tempos – 3 Moinhos hidráulicos» in História, Nº29, Ano: 1981.

Este contínuo interesse pelo tema é um sinal do importante papel que as azenhas e moinhos representam na construção da nossa cultura. É também uma demonstração que este património tem um vasto espectro científico e cultural para explorar e novas funções a desempenhar na nossa sociedade, quer pela preservação das nossas tradições relacionadas com a salvaguarda dos processos artesanais de produção de farinha, e consequentemente, do “verdadeiro” pão tradicional, quer pela inovação científica no sector das energias renováveis com a implementação de novos dispositivos de microprodução de energia hidroelétrica, explorando recursos renováveis amigos do ambiente.

António Nabais; «Património Industrial – Moinhos de Maré» in História do Concelhos de Seixal; Ano: 1986.

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Imagem de destaque: Interior do Moinho de Leiria (margem esquerda do rio Lis); Fotografia: Domingos Alvão; Data: Início do séc. XX.

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