Todos os alunos portugueses, quer no 9º quer no 10º ano, estudam “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, obra publicada no ano de 1572. Apesar dos mais de quatrocentos anos que a separam dos nossos dias, esta obra-prima da literatura nacional e internacional mantém a mesma atualidade e é considerada a obra das obras da literatura nacional. Todos os portugueses deveriam lê-la e sentir um orgulho imenso, pois a obra relata, de forma grandiloquente, a viagem de Vasco da Gama de Lisboa à Índia entre 1497 e 1498, revestida de aventuras fantásticas, tanto reais, como fantasiadas, elevando o homem português ao estatuto lendário e divino. “Os Lusíadas” afirmam-se como a exaltação do povo português, constituído por reis, heróis, nobres, clérigos, burgueses e até mesmo por gente humilde e anónima. Todos são heróis, pois cada um à sua maneira contribuiu para a afirmação e imortalidade da nação portuguesa.
Divisão d’ ‘Os Lusíadas’
Esta epopeia, na senda da “Ilíada” e da “Odisseia”, de Homero, organiza-se tradicionalmente em cinco partes:
Proposição (Canto I, Estrofes 1 a 3) – Apresentação da matéria a ser cantada: os feitos dos navegadores portugueses, em especial os da armada de Vasco da Gama e a história do povo português.
Invocação (Canto I, Estrofes 4 e 5) – O poeta invoca o auxílio das musas do rio Tejo, as Tágides, que irão inspirá-lo na composição da obra.
Dedicatória (Canto I, Estrofes 6 a 18) – O poema é dedicado ao rei Dom Sebastião, visto como a esperança de propagação da fé católica e continuação das grandes conquistas portuguesas por todo o mundo.
Narração (Canto I, Estrofe 19 a Canto X, Estrofe 144) – O assunto do poema em si: a viagem de Vasco da Gama e as glórias da história heroica portuguesa.
A narração d´” Os Lusíadas” consiste, portanto, na maior parte do poema. Inicia-se “In Media Rés”, ou seja, quando a viagem já vai a meio. Vasco da Gama e sua frota dirigem-se para o Cabo da Boa Esperança com o objetivo de alcançarem a Índia pelo mar. Auxiliados pelos deuses Vénus e Marte e perseguidos por Baco e Neptuno, os heróis lusitanos passam por diversas aventuras, sempre comprovando o seu valor e fazendo prevalecer a sua fé cristã. Quando atracam em Melinde para descansarem e se abastecerem, os portugueses, através de Vasco da Gama, vão contando a história dos feitos heroicos dos reis e de todos os heróis que os antecederam. Completada a viagem, são recompensados por Vénus com um momento de descanso e prazer na Ilha dos Amores, onde os marinheiros portugueses são recompensados e convivem despreocupada e alegremente com as ninfas e as deusas.
Epílogo (Canto X, Estrofes 145 a 156 – Final da epopeia) – Grande lamento do poeta, que reclama o facto de sua “voz rouca” não ser ouvida com mais atenção. Camões lamenta a situação político-económica do país, que contrasta com a grandeza dos grandes feitos do passado.
Episódios merecedores de destaque n’ ‘Os Lusíadas’
Existem alguns episódios n’ “Os Lusíadas” que merecem destaque pela sua importância: o de Inês de Castro, o do Velho do Restelo, o do Gigante Adamastor e o da Ilha dos Amores.
O episódio de Inês de Castro aparece no Canto III, durante o relato de Vasco da Gama ao rei de Melinde. O capitão da armada conta a história do amor proibido de Inês, dama de companhia da rainha, pelo príncipe D. Pedro. Ao saber do envolvimento do príncipe com a dama e preocupado com a ameaça política oferecida por Inês, que tinha parentesco com a nobreza de Castela, o rei D. Afonso manda executar a jovem. O rei percebe então que o amor de Inês por seu filho era sincero e quer mantê-la viva, mas o povo, representando o interesse do Estado, obriga-o a executar a donzela. D. Pedro, ausente do reino na ocasião do assassinato, inicia depois uma vingança sangrenta contra os executores e coroa o cadáver de Inês, aquela “que depois de ser morta foi rainha”.
O relato sobre o Velho do Restelo encontra-se no Canto IV. Na praia do Restelo, um velho profere um discurso poderoso contra as empresas marítimas de Portugal, que ele considera uma ofensa aos princípios cristãos, uma vez que a busca de fama e glória em terras distantes contraria a vida de privações pregada pela doutrina católica. Este episódio simboliza o conservadorismo e o pessimismo de todos aqueles que não acreditavam no sucesso da expansão marítima portuguesa.
O episódio do Gigante Adamastor aparece no Canto V e é uma representação figurada do Cabo da Boa Esperança, que simboliza os perigos e tormentas enfrentados pelos navegadores lusitanos no caminho para a Índia. Ele aparece quando Vasco da Gama e a sua tripulação se preparam para dobrar o Cabo das Tormentas, ou Cabo da Boa Esperança, personificado pela figura de Adamastor. Esse gigante da mitologia grega tinha-se apaixonado pela ninfa Tétis, que o rejeitara. Peleu, o marido de Tétis, transformou então o gigante em pedra. Mais uma história de Camões em que o amor, “áspero e tirano”, causa o infortúnio a quem se deixa levar por ele.
Outro episódio é o da ilha dos Amores, (Canto IX, estrofes 68 a 95) em que a “Máquina do Mundo”, com suas inúmeras profecias, é apresentada aos portugueses. Nessa passagem do final do poema, o plano mítico (dos deuses) e o histórico (dos homens) encontram-se: os heróis portugueses, os nautas anónimos, encontram as deusas na Ilha dos Amores, casam com elas, tornam-se também eles epopeia e são dotados de atributos divinos. Os portugueses são elevados simbolicamente à condição de deuses, sendo-lhes permitido contemplar a “Máquina do Mundo”.
Camões – um génio literário
Apesar da grandeza da sua obra, Camões morreu no abandono e na miséria, a 10 de junho de 1580. D. Gonçalo Coutinho mandou colocar uma lápide na sua sepultura com a seguinte inscrição: “Aqui jaz Luís de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu”.
A par da eloquência e da genialidade desta epopeia, é de salientar também a qualidade poética de Camões presente na sua vasta produção lírica. As suas composições poéticas são magistrais e alvo do estudo dos alunos portugueses.
Saibamos nós perpetuar a sua memória e exaltar o seu génio literário através da leitura da sua obra épica e lírica!
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Pedro Afonso e a escola como espaço de intervenção e cidadania
Imagem: DR
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