Na próxima quinta-feira, 11 de outubro, em Vila Nova de Famalicão, mesmo antes do início do 3º Close-up – Observatório de Cinema, subordinado a’ O Lugar, o Cineclube de Joane apresenta, na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, um filme que se poderia enquadrar perfeitamente na sua primeira edição, A Memória: Frantz, de François Ozon.
‘Alemanha, 1919. O pesadelo da Primeira Grande Guerra chega finalmente ao fim. Após a morte em combate do seu noivo, Frantz, Anna vive com os sogros numa pequena aldeia. Incapaz de lidar com a perda, todos os dias visita a campa do seu amado. Um dia, dá-se conta da presença de Adrien, um ex-soldado francês que afirma ser amigo de Frantz. Com o passar do tempo, sobre o luto do soldado morto, uma estranha ligação surge entre os dois…’
Frantz é um filme dramático realizado e co-escrito pelo aclamado realizador francês François Ozon (“Sob a Areia”, “Swimming Pool”, “O Tempo Que Resta”, “Potiche – Minha Rica Mulherzinha”, “Dentro de Casa”), com Pierre Niney, Paula Beer e Ernst Stötzner nos papéis principais.
Homenagem a Lubitsch, um dos melhores filmes de Ozon
“O que os amantes ocultam é mais importante do que aquilo que revelam”, refere Pedro Marta Santos, na Sábado, sobre Frantz, considerando-o filme a não perder.
Luís Filipe Oliveira, por seu turno, nas suas habituais crónicas no Público, afiança que Frantz é “um dos projetos mais estranhos, mas também mais cativantes, da obra de um cineasta tão irregular como François Ozon. Está algures entre um remake e uma “variação”, como um músico de jazz a elaborar sobre um standard. E acrescenta ainda que Frantz se inspira “num dos filmes menos conhecidos da fase americana de Ernst Lubitsch, Broken Lullaby, também conhecido por The Man I Killed, de onde veio o título português, O Homem que eu Matei, de 1932, que também é um dos seus tesouros mais resplandecentes. Foi uma das raras ocasiões em que Lubitsch não trabalhou em registo de comédia. Bem pelo contrário, O Homem que eu Matei é dramático, soturno, grave, tintado a cores de luto: conta a história de um ex-soldado francês da Primeira Guerra Mundial que ficou tão marcado pelo rosto do soldado alemão que matou, a sangue-frio, numa trincheira, que uma vez terminada a guerra vai à Alemanha conhecer-lhe a campa, a casa, os pais, a namorada. Afundado em remorso, acaba “sugado” para dentro daquela família, toma o lugar do morto, torna-se, ele próprio, no “homem que ele matou” — duplamente, porque era como se se matasse a si mesmo para o que outro continuasse a viver”.
“Ozon “varia”, e, sobretudo a partir de certa altura, varia bastante, passando pelo final do filme de Lubitsch sem parar aí, encontrando prolongamentos e “codas” diferentes, rumo a um desfecho também ele diferente embora simbolicamente não muito distante. Mas é um filme que ganha em ser visto com a memória fresca do filme de Lubitsch”.
Filmando cem anos depois da Primeira Guerra Mundial – no filme de Lubitsch, que também era uma espécie de “aviso” contra uma repetição da guerra que começava a estar no horizonte, estava-se apenas 14 anos depois do Armistício -, Ozon pode ter outra distância no tratamento da época e do seu ambiente cultural, investido de um espírito ainda muito fin de siècle, com recurso à poesia de Verlaine e, em especial, a um lúgubre quadro de Manet, Le Suicidé, que por si só justifica as sequências a cores – o essencial do filme é a preto e branco, como no Lubitsch original – e simboliza, de forma mais explícita do que Lubitsch, o “desejo de morte” subjacente ao protagonista masculino da história.
“Nada no filme de Ozon parece uma traição ao de Lubitsch. Há uma justeza no tom, um acerto no casting – Pierre Niney é impecável a retomar a fragilidade de Phillips Holmes -, uma inteligência no relacionamento com o modelo, que levam o empreendimento a bom porto: é uma bonita homenagem, “cinéfila”, a Lubitsch, e é um dos melhores filmes de François Ozon.
Fontes: Cineclube de Joane e Sábado
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