Pela auto-estrada acima, é impossível não reparar que o Minho é verde, de um lado e de outro, sempre verde.
Aproximava-se, entretanto, a minha saída do eixo: Paredes de Coura.
Na paia fluvial do Taboão não faltava tempo, nem música. No jazz na relva apresentavam-se os Du Nothin. Divertidos, jovens, sonoros e com um toque de rock’n roll ajudaram os necessitados a recuperar energias para mais um dia de festival. Até os dinossauros dançaram!
Abriram-se as portas para o line up do dia 17 de Agosto. Estava na hora do concerto que me moveu a vontade e atravessei o anfiteatro verde que aconchega o mega palco Vodafone e onde se encaixou um rectângulo vip…já lá irei…
Eram 18h e “a Garota não” trazia ao palco melancolia e poesia! Nada fica ao acaso nas suas canções! Foi como ir a um comício pelos direitos humanos! Emocionante! Um grande concerto!
No palco Yorn ainda vi Desire que, entre covers dos New Order e da Kylie Minogue e um excepcional “Hard Times”, me relembrou que dançar é das melhores coisas do mundo.
Seguiu-se Walkmen. Muito bom.
A dado momento, senti-me a visitar um museu… mas de bandas de música ao vivo. Entre as 18h e a 00h andei de palco em palco, via um e, quando terminava, ouvia logo os graves do outro! Ouvi muita coisa que não conhecia e de que gostei! A música é como um quadro que observamos num museu. Podemos nunca ter ouvido ou visto e, mesmo assim, conseguimos parar para apreciar os pormenores, as luzes, a palavra, o ritmo, a fluidez, a arte.
A dado passo, tive tempo para reparar no caixote vip onde se amontoavam, em linha, uns quantos. Reparei que observavam mais a multidão do que o concerto que decorria. Pareciam-me manequins numa montra. E talvez nem tivessem de ir ao bar ou sequer à zona da restauração. Talvez tivessem tudo ali à mão. Quem seriam estas pessoas? Quem é que vai a um festival para se alinhar numa montra de importância?… Suponho que são modos de conjugação do verbo ter!
Depois de uma pausa, o palco Vodafone fechou com Fever Ray. Música potente, acompanhada de coreografias sincronizadas que nos lançavam numa espécie de “embrace me”…
Identifiquei em Paredes de Coura um senão. Não há tudo o que faz falta! Vi stands de marketing a carros e seguros, tendas de testes de drogas, gomas, gelados alcoólicos mas não vi, em lado algum, uma tenda que vendesse tampões e pensos higiénicos e, pelo que vi, o festival é frequentado por mulheres que têm o período… ou será que não se pode falar disso?
À saída, até chegar a casa, esperavam-me 45 minutos de escuridão que escondia o verde do Minho. Viajei acompanhada pelas sensações e imagens da minha visita ao museu musical do Taboão. A primeira visita a Paredes foi fixe!!
Nunca mais é sábado para regressar a Paredes de Coura
Regressei a Paredes de Coura, no último dia do Festival, sábado. Há muitas razões para entrar no festival logo que abrem as portas. As melhores surpresas de Paredes tocam, quase sempre, no lusco fusco da luz do Sol.
Às 18h00, Lee Fields dava um concerto memorável! Soul q.b., saxofones e muito groove! À nossa frente, a assistir, perfilava-se um elegante Tim Bernardes que mais parecia tirado de um filme dos anos 60.
De volta ao palco Yorn, o som quase psicadélico da world music dos Yin Yin. A malta com bom ouvido afirmava sentir-se num filme de Tarantino. E, pensando bem, o esticar de braços ritmado da Uma Thurman e do John Travolta cabiam bem ali.
E eis que, no palco Vodafone, actuaram os melhores da noite: Sleaford Mods e Explosions in the sky. Não conhecia nenhum. Adorei!
Sleaford Mods é um duo. Um vocalista e um dj que também dança. Impossível não recordar o tocador de maracas e bailarino dos Happy Mondays. Potentíssimos, apresentaram uma espécie de salto em frente do punk rock ao electrónico!
Explosions in the sky foi tal e qual isso: uma explosão! Possivelmente, o melhor concerto do último dia de festival.
Podia ter ido embora logo a seguir e já não perderia muito. Com a ressalva para Wilco, que deram um concerto agradável, fiquei sem entender (já não entendia antes) qual é a relevância musical de Lorde, muito menos para ser a actuação que fecha o palco principal desta edição dos 30 anos de Paredes de Coura.
Mas talvez tenha sido um sinal de que, neste festival, os cabeças de cartaz não definem nada! O melhor está antes!
Imagem: CB
Obs: texto previamente publicado na página facebook de Célia Borges, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.
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