Jesus Cristo, cujo nome original era Yeshua, é indiscutivelmente uma das figuras mais marcantes da jornada espiritual da humanidade.
Cristo é um termo que deriva da palavra grega Khristós, que significa “ungido” ou “consagrado”. Por sua vez, a palavra grega é uma tradução do termo hebraico Māšîaḥ, transliterado para o português como Messias. Portanto, o título Cristo confere uma perspetiva espiritual à figura histórica de Jesus.
A investigação dos últimos séculos sobre o Jesus histórico tem promovido um conhecimento cada vez mais profundo sobre a sua vida e a sua presença crucial na História humana.
A questão das fontes
A História é feita através de fontes ou documentos. A investigação histórica passa por documentos, que são testemunhos de cariz material ou imaterial produzidos pelos seres humanos ao longo dos tempos. A própria palavra fonte é uma metáfora, comparando os documentos à água que sacia a necessidade vital de beber.
No caso concreto de Jesus, existem atualmente diversos tipos de documentos escritos sobre a sua vida e a sua época: as fontes cristãs, as fontes judaicas e as fontes pagãs.
Para além dos documentos escritos, tem sido feita uma investigação arqueológica que tem contribuído para um conhecimento cada mais ampla da época de Jesus.
As fontes cristãs
Entre as fontes cristãs, podem ser distinguidas as fontes canónicas, as fontes apócrifas e as fontes patrísticas.
As fontes canónicas são os 27 livros do Novo Testamento, que foram selecionadas pelo cristianismo institucional- A palavra cânone deriva da palavra grega kanôn, que significa “cana” e analogicamente regra ou medida. Os livros do Novo Testamento, juntamente com as Escrituras judaicas, também conhecidas como Antigo Testamento, formam a Bíblia cristã.
As fontes apócrifas são os documentos cristãos que o cristianismo institucional não admite no cânone bíblico. A palavra apócrifo tem igualmente uma origem grega, significando “oculto” ou “mantido em segredo”. Este termo tem uma clara ressonância iniciática ou esotérica. As fontes apócrifas estão ligadas a linhagens cristãs que foram colocadas de parte pelo cristianismo institucional, nomeadamente o judeo-cristianismo (Evangelho dos Hebreus, Evangelho dos Nazarenos, Evangelho dos Ebionitas, etc.) e o gnosticismo cristão (Evangelho de Tomé, Evangelho de Maria Madalena, Pistis Sophia, etc.).
As fontes patrísticas são as obras dos grandes escritores cristãos do cristianismo primitivo, a fase histórica correspondente aos quatro primeiros séculos do cristianismo. Esta categoria de fontes também engloba obras doutrinais desta época, como por exemplo a Didaqué, também conhecida como a Instrução dos Apóstolos, datada do século I.
As fontes judaicas
Flávio Josefo, escritor e historiador judeu do século I (37-100), refere-se não somente a Jesus, mas também a duas personagens do Novo Testamento, mais concretamente João Baptista e Tiago, irmão de Jesus.
Ele evoca Jesus acerca da execução do seu irmão Tiago, líder da comunidade judeo-cristã de Jerusalém, condenado à morte pelo sinédrio judaico em 62, uma decisão que motivou uma grande consternação não apenas nos judeo-cristãos, mas também em setores amplos da população judaica de Jerusalém.
Existe outro testemunho sobre Jesus, que foi objeto de retoques por escritores cristãos posteriores. Contudo, atualmente, é possível fazer a reconstituição do texto original, na qual refere-se a Jesus como “homem sábio”, à pregação, à condenação à morte e à existência de um movimento de discípulos durante e após a sua vida terrena.
O Talmude judaico de Babilónia, datado do século II, faz alusão à morte de Jesus na proximidade da Pascoa judaica, correspondendo ao que é descrito no Novo Testamento.
As fontes pagãs
Mara bar Serapião, um filósofo da Síria romana, que viveu na segunda metade do século I, numa carta ao seu filho Serapião, faz uma referência interessante à morte do “rei sábio dos judeus”, comparando-a à morte de Pitágoras e de Sócrates. Como é sabido, Jesus foi condenado com a acusação de ser um pretendente messiânico ao trono de Israel. O Novo Testamento refere que o letreiro da cruz de Jesus menciona-o como “rei dos judeus.”
Em 112, Plínio, o Jovem (61–114), governador romano da Bitínia (atual noroeste da Turquia), na sua correspondência ao imperador Trajano, refere-se a Cristo quando o informa das decisões contra os indivíduos acusados de serem cristãos.
O historiador romano Tácito (56-120) menciona na sua obra o incêndio de Roma, em 64. Para se livrar de qualquer suspeita, o imperador Nero, cada vez mais autocrático, responsabilizou os cristãos pela tragedia na capital imperial. Tácito explica que a denominação de cristãos deriva de Cristo, que foi executado por ordem do prefeito romano da Judeia, Pôncio Pilatos, no tempo do imperador Tibério.
Suetónio (69-141) refere-se à expulsão dos judeus de Roma pelo imperador Cláudio cerca do ano 50, que é referida também nos Atos dos Apóstolos, um dos principais livros do Novo Testamento. O autor romano refere como causa da expulsão a agitação provocada pelo incitamento de Cresto (possível transcrição latina do grego Christós). Geralmente, considera-se que esta decisão imperial foi motivada por um conflito no âmbito da população judaica de Roma, no qual os judeo-cristãos tiveram um papel relevante.
Existem autores pagãos mais tardios que se referem a Jesus. Pode ser mencionado o caso de Amónio Sacas (175-242), geralmente considerado como o precursor de neoplatonismo e professor de Plotino e Orígenes. Amónio, que tinha uma visão universalista da espiritualidade, referia-se a Jesus como um homem excelente e amigo do Divino.
O que podemos saber de forma fiável sobre o Jesus histórico?
Atualmente, devido ao desenvolvimento da investigação efetuada, a identidade de Jesus como figura histórica está largamente comprovada e pode-se sintetizar os seguintes fatores fidedignos, do ponto de vista estritamente histórico:
– O seu nome era Yeshua;
– Era judeu e viveu em Israel;
– Nasceu no reinado de Herodes, o Grande, o monarca que governava Israel como vassalo de Roma,
– Os seus pais eram Maria e José e cresceu numa família numerosa com irmãos e irmãs, na qual se cultivava com uma espiritualidade muito devota;
– Foi influenciado e batizado por João Baptista;
– Formou um movimento de discípulos e discípulas;
– Dedicou-se à pregação do Reino de Deus e à cura;
– Limitou essencialmente a sua atividade a Israel, embora anunciasse a salvação para todos os povos;
– Teve controvérsias sobre o papel do Templo de Jerusalém e a inclusão de pessoas pobres e oprimidas da sociedade e do seu tempo;
– Fez uma última refeição ritual com os seus discípulos mais próximos;
– Foi detido pelas autoridades judaicas e crucificado pelas autoridades romanas;
– Após a sua morte, os seus seguidores afirmaram que Jesus estava vivo e continuaram a desenvolver um movimento identificável.
Existe, portanto, um conjunto de informações históricas sobre Jesus, ou melhor, Yeshua, um grande mestre de sabedoria, que apresentou uma mensagem focada na proclamação do Reino de Deus como Fonte Infinita da Vida e do Amor, e cuja vida e legado manifestam o elevado potencial intrínseco a todos os seres humanos que é relevante conhecer.
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Imagem: Petar Milošević