Será o ouro tão bom investimento quanto parece?

 

 

De modo contrário ao que muita gente pensa, aplicar as poupanças em ouro está longe de ser um investimento com ganhos garantidos.

O fim da paridade entre o dólar e o ouro

Desde que Richard Nixon, o presidente dos Estados Unidos, anunciou em 15 agosto de 1971, faz agora 50 anos, o fim da paridade do dólar em relação ao ouro, com a sua desvalorização acentuada, colocando um ponto final nos Acordos de Bretton Woods, muitos ficaram com a ideia de que o investimento neste metal precioso seria uma boa proteção contra a inflação.

A elevada inflação que se seguiu durante essa década, sobretudo motivada pela desregulamentação do sistema monetário internacional e por dois choques petrolíferos, em 1973 e 1979, fez com que o preço do ouro, que hoje é 50 vezes mais elevado do que naquela altura, também subisse.

A experiência dos últimos 50 anos

A convicção de que o ouro é um investimento seguro e protetor da inflação não é, no entanto, suportada pelos dados. Se o ouro fosse uma garantia consistente, a proporção de seu preço em relação ao índice de preços ao consumidor teria sido relativamente estável ao longo dos anos; mas não tem sido esse o caso.

A experiência dos últimos 50 anos sugere que o metal precioso tem tido um melhor desempenho como proteção contra choques de inflação – como o pico causado pela alta dos preços do petróleo no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 – do que em circunstâncias semelhantes às atuais em que muitos outros investimentos também se encontram em alta.

“O ouro é apenas uma boa proteção contra a inflação em prazos muito mais longos do que qualquer um de nossos horizontes de investimento”, assinala Mark Hulbert no Wall Street Journal. De facto, “o metal precioso revela-se  apenas um bom investimento contra a inflação quando aplicado durante períodos muito longos – um século ou mais -, mantendo o seu poder de compra. Em períodos mais curtos, o seu preço real, ou ajustado pela inflação, flutua de forma semelhante ao de qualquer outro ativo”, citando uma investigação conduzida por Campbell Harvey, professor da Duke University, e Claude Erb, ex-gerente de portfólio de commodities do TCW Group.

Aliás, a fraqueza do ouro como uma proteção contra a inflação parece ser ainda mais evidente nos dias de hoje, apesar do seu aparente elevado preço, uma vez que “o ouro é atualmente muito caro em comparação com a sua história”.

Por quê reter ouro quando se pode ser pago para reter dinheiro?

“Se excluirmos os anos 1970, a relação entre o ouro e a inflação é bastante fraca”. Aquela “foi uma época em que taxas de inflação de dois dígitos ou mais eram a norma. Não vamos voltar a isso”, especificou Brian Lucey, professor de finanças internacionais do Trinity College Dublin, citado por Jan Harvey, na publicação especializada Investing.

Enquanto a inflação ao consumidor dos EUA subia para quase 15% no início de 1980, o ouro mais do que manteve o ritmo, atingindo o recorde de US$666,75/onça, após um aumento de quinze vezes na década anterior.

No entanto, quando a inflação subiu novamente no final dos anos 1980, de 1% no final de 1986 para mais de 6% no final de 1990, o ouro caiu.

Dados bem mais recentes – pré-pandemia – sugerem que as pressões inflacionárias dos EUA se encontravam em crescendo e que os bancos centrais estariam prontos a intervir, principalmente pela via do aumento dos juros, se os preços começassem a subir fortemente.

Para o ouro, tratou-se de uma má notícia. O aumento das taxas de juros elevaria o custo de oportunidade de reter ouro não produtivo – por quê reter ouro quando se pode ser pago para reter dinheiro?

E agora?

Somente quando a inflação sai de controle, mantendo as taxas reais, ou taxas de juros sem inflação, sob controle, o ouro tende a sair beneficiado significativamente. Esse não é, no entanto, sequer o caso da atualidade. No presente, os EUA têm estado a viver um ano de elevada inflação – 5,4% em junho -, mas, apesar disso, o ouro encontra-se em níveis descendentes, com perdas anuais de 14,5%.

Em relação à crescente preocupação com a inflação, numa altura de recuperação da crise que surgiu com a pandemia de covid-19, devida sobretudo ao aumento dos preços dos veículos usados e da gasolina, citado pela Lusa, no Público, o presidente da Fed, Jerome Powell,  tem afirmado que se verificarão subidas de preços, mas que terão um carácter “transitório”, insistindo que não prevê alterações nas taxas de juro do banco central, actualmente entre 0% e 0,25%, antes de 2023, apontando para uma inflação de 3,4% no final de 2021. A Fed entende que, neste momento, o aumento da taxa de juros seria prematuro pois poderia comprometer a retoma do mercado de trabalho.

O ouro registou a cotação mais elevada de sempre em 2 de agosto de 2020, tendo-se fixado então em US $2061,40/onça, cotando neste mmnomento a US $1728,20/onça.

Alocar recursos a ativos produtivos?

Cada pessoa é um caso e deve adequar a sua forma de amealhar poupanças, de um lado, às quantias que tem disponíveis, de outro aos riscos que está disposto a correr em cada momento, tendo sempre presente que é sempre melhor não ganhar dinheiro do que perdê-lo. Warren Buffet, o mítico maior investidor de todos os tempos, afirmava mesmo que este metal precioso “não tem nehuma utilidade“. Preferia, por isso, alocar recursos em investimentos de longo prazo, nomeadamente boas empresas, pois considerava ser essa a melhor forma de ganhar dinheiro no mercado de capitais. A raridade do ouro por si só não lhe confere valor de investimento, pois estes são caracterizados por ativos produtivos e geradores de fluxos de caixa.


De modo algum este artigo representa um aconselhamento financeiro de qualquer tipo. Antes de investir, informe-se o melhor que lhe for possível e aconselhe-se eventualmente com um mediador financeiro.


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Imagem: Zlataky Cz / Unsplash

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