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‘Prazer, Camaradas!’, de José Filipe Costa, aborda com subtileza os costumes domésticos lusitanos no pós-25 de Abril

 

 

Prazer, Camaradas! junta histórias vividas em cooperativas e aldeias portuguesas no pós-25 de Abril de 1974, contadas por portugueses e estrangeiros que as viveram. Na trama, alguns dos actores são as pessoas que, em 1975, vieram ou regressaram a Portugal para participar na revolução. O novo filme de José Filipe Costa, é, como diz o realizador, a dramatização “das memórias de uma revolução que não foi apenas política, mas também sexual e de costumes”.

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Recorde-se que o Coronel Galvão de Melo fez avisar, poucos dias depois do 25 de Abril, que “a revolução não foi feita para putas nem paneleiros”, numa história que tem tanto de verdadeiro quanto de inverosímil, mas que ocorreu de facto. A revolução poderá ter sido uma alegria, mas não fez avançar décadas a mentalidade de um país provinciano. José Filipe Costa tem noção disso e aborda a homossexualidade – em particular a feminina – com subtileza e sempre sublinhando criticamente o marialvismo lusitano. “Esse é, com certeza, o grande contributo do filme: retratar e refletir sobre uma revolução que alterou tudo mas manteve as mesmas estruturas de poder patriarcal e os mesmos papéis de género”, referiu Ricardo Vieira Lisboa, em À pala de Walsh. Também, por isso, esse “é o desencanto de uma revolução que nunca se cumpriu por inteiro, algo que também se sente em Prazer, Camaradas!, sublinhado pelo próprio faz-de-conta que o seu autor propõe”, acrescentaria Jorge Mourinha, no Público.

“Não podia pôr actores a fazerem isto como na época, nem usar actores-estátuas a dizerem textos. Como então pôr os documentos a falar? E tive esta ideia de pôr estas pessoas com 61 e tal anos neste limbo. O jogo era muito simples, eles viverem com aquele corpo como se estivessem a viver no passado, e eu não sabia o que ia sair daí, e fui sendo surpreendido, muito surpreendido”, afirmou José Filipe Costa sobre o filme.O realizador, que tem vindo a desenvolver uma relação particular com o cinema português activista do pós-25 de Abril enquanto académico, investigador, professor e realizador, resolveu, desta feita, usar de uma perspetiva diferente para falar sobre a vida no tempo da Revolução, até aqui ainda não abordada cinematograficamente, porque um casal de alfabetizadores lhe tinha passado relatos das histórias que as mulheres lhes contavam durante a apanha da azeitona. “Histórias de aborto, de sexo, da primeira vez que tiveram sexo com o marido, da violência deles, também. Pensei que seria interessante fazer um filme sobre isto”, disse José Filipe Costa em declarações prestadas a João Antunes e publicadas no Jornal de Notícias.

De facto, Prazer, Camaradas! nasce de relatos orais, de textos literários e também de diários escritos por estrangeiros que vieram para o centro de Portugal apoiar as cooperativas entre 1974 e o final de 1975, no entardecer da Revolução dos Cravos. e se dedicavam a um pouco a tudo, consoante a sua formação, dos trabalhos agrícolas da lavoura às creches, passando pela saúde e pela alfabetização. Tal como José Filipe Costa escreveu, “entre os portugueses das aldeias e os estrangeiros, a quem também chamavam turistas revolucionários, criaram-se tensões mas também cumplicidades e alguns amores”.

Estes ‘turistas revoluncionários’ encontraram nas herdades do Ribatejo e em cooperativas, como a de Aveiras de Cima, na qual o filme incide, essencialmente uma população rural, analfabeta, refém de 48 anos de ditadura e obscurecida por tabus de toda a ordem, da Guerra Colonial à sexualidade feminina, assinala Alexandre Ferreira, no Expresso. “As camponesas de 1975 não falavam do seu corpo, da opressão masculina, de iniciação sexual e muito menos de abortos clandestinos. A revolução em curso era ainda demasiado jovem para conseguir tocar neste ponto da intimidade”.

Prazer, Camaradas!, de José Filipe Costa, é a próxima sessão do Theatro Curco, em Braga, tendo exibição a 6 de agosto, pelas 19h00. O filme teve estreia mundial no Festival de Locarno de 2019, embora tenha chegado às salas portuguesas apenas em maio de 2021.

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Imagens: DR

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