A discriminação com base no género tem suscitado ao longo da história vários debates e instigado a várias ações cívicas e movimentos maioritariamente integrados por mulheres. Dos vários movimentos que ao longo da história se organizaram na defesa dos direitos fundamentais, destaque-se um em particular: o direito ao voto.
Felizmente, para a minha geração e seguintes, o voto é um direito. Mesmo não tendo experienciado o que é ver-me privada desse direito, não consigo ficar indiferente a filmes como “As sufragistas”. Como não sentir aquela dor, aquela luta como nossa?
Existe um caso português que me inspira particularmente: o de Carolina Beatriz Ângelo. A 28 de maio de 1911, esta mulher tornou-se a primeira a votar no país, por altura das eleições da Assembleia Constituinte, em 1911.
Toda a altura era por si só excecional, mas mais extraordinário é esta mulher encontrar uma lacuna na primeira lei eleitoral da República Portuguesa – redigida por homens. Apresentou-se como cidadã, maior de 21 anos, que sabia ler e escrever e, principalmente, como chefe de família. E aqui reside a questão, não se tinha considerado que uma mulher pudesse ser chefe de família, mas Carolina Beatriz era-o, consequência da sua viuvez e da sua capacidade financeira para sustentar a família. Apesar da lei ter sido alterada no ano seguinte, especificando que o chefe de família teria de ser do sexo masculino, este acontecimento ninguém o apaga da história.
E é sobre estes marcos históricos que devemos refletir, sobre o nosso papel na sociedade e de que forma queremos fazer parte dela.
A verdade é que, no geral, continua a existir toda uma sociedade feminista, e não só, que reclama por mais direitos, por mais igualdade. Igualdade de acesso, igualdade de tratamento, igualdade salarial!
Estatisticamente, as mulheres têm tido melhores notas e resultados nas licenciaturas, representando o maior número de candidaturas. Ainda assim, no mercado de trabalho os mais altos cargos são desempenhados por homens.
Desde diretores, subdiretores, presidentes, do campo empresarial ao político, continuamos a assistir a um domínio masculino, ao ponto de em algumas situações ser obrigatório, por lei, a garantia de uma quota mínima.
Quase que arrisco a dizer que alguns pensarão: “não têm de agradecer”. Não nos podemos esquecer que vivemos num Estado democrático e de direito – este Estado que tem sido posto em causa pelo aumento da extrema direita – e que por isso devemos ambicionar escrever a nossa própria história, deixar o nosso próprio legado e perceber a importância que tem o nosso voto, pois isso refletir-se-á em políticas justas e igualitárias.
A mudança está em cada um e cada uma de nós. O voto é um ato simples, mas fundamental: afinal, permite, ou não, que alguém decida o que fazer com a nossa vida.
Imagens: (0) Carolina Beatriz Ângelo, por autor desconhecido, em restauro efetuado pelo Museu da Guarda, (1) Carolina Beatriz ângelo (à direita), a primeira eleitora portuguesa, e Ana Castro Osório (à esquerda), presidente da Liga das Sufragistas Portuguesas, por Joshua Benoliel (imagem publicada na Ilustração Portugueza).
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