Cátia Tuna acaba de ser distinguida com o Prémio Victor de Sá de História Contemporânea 2020, atribuído pelo Conselho Cultural da Universidade do Minho. Trata-se do maior e mais prestigiado galardão do país para jovens investigadores desta área.
A laureada concorreu com a obra “‘Não sei se canto se rezo’: ambivalências culturais e religiosas do fado (1926-1945)“, que também recebeu há dias o Prémio Fundação Mário Soares. Foi ainda atribuída uma menção honrosa a Bruno Madeira, pela obra “‘Homens entre ruínas’? Ideias, narrativas, mundividências e representações das Direitas radicais portuguesas (1974-1985)“, e uma outra a Júlia Korobtchenko, pela obra “O Ministério dos Negócios Estrangeiros. A reforma administrativa e o corpo social (1834-1910)“.
Fado e salazarismo: da clandestinidade e subversão social à moralização
Na sua obra, Cátia Tuna propôs-se investigar a nomeação do fado como oração ou reza, “analisando os elementos religiosos que lhe são reconhecíveis, nos discursos em que o fado se diz a si próprio, considerando-se oração e religião, e nas divergentes representações e opiniões que dele circulavam no espaço público”.
Cátia Tuna mostrou-se “muito feliz” pelo galardão, que tem “peso historiográfico, rigor científico e décadas de tradição”. “A minha esperança em vencer era limitada, porque o objeto do meu trabalho era algo periférico aos considerados grandes temas da História, como política ou tensões sociais; por outro lado, tenho formação inicial em Teologia e não em História”, reconheceu Cátia Tuna. A autora concorreu com a sua tese doutoral e concluiu que – nas duas décadas iniciais do salazarismo – o fado passou de uma clandestinidade e subversão social para um patamar de moralização, integrando-se de algum modo na lógica do regime.
A religião emergiu nesse trajeto. “Nas letras das músicas alude-se à cruz, ao ‘ai meu Deus’, à ‘santa da minha mãe’ (figura redentora); diz-se também que o fado é uma oração e usa-se metáforas da guitarra e da voz fadista”, elencou. Já as letras anticlericais foram diminuindo com o reforço da censura. Cátia Tuna analisou ainda os gestos no fado, como olhos fechados e olhos revirados (remetendo para o êxtase ou sobrenatural), o impacto retórico para o público do choro e da dor, bem como a centralidade ideológica do destino e da saudade, entre outros aspetos. Cátia Tuna é doutorada em História e Cultura das Religiões pela Universidade de Lisboa, professora da Universidade Católica Portuguesa e investigadora do Centro de Estudos de História Religiosa.
Prémio Victor de Sá: manifesto interesse cultural
O júri da 29ª edição do Prémio Victor de Sá foi presidido por Viriato Capela, professor catedrático da UMinho, tendo como vogais os professores Maria Fernanda Rollo, da Universidade Nova de Lisboa, e Luís Alberto Alves, da Universidade do Porto. O concurso foi bastante participado – 10 obras – o que revela o prestígio alcançado e a vitalidade da historiografia portuguesa contemporânea, refere a presidente do Conselho Cultural da Universidade do Minho, Helena Sousa. O vencedor recebe 3.500,00 euros e as menções honrosas têm o valor de 500,00 euros, tendo este ano sido entregues a Bruno Madeira, professor da UMinho e membro do Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória”, e a Júlia Korobtchenko, investigadora do Centro de História da Universidade de Lisboa e membro da New Diplomatic History Network.
Este galardão nasceu em 1991 com base numa doação do historiador e humanista Victor de Sá, foi reconhecido como sendo de manifesto interesse cultural pela Secretaria de Estado da Cultura e é também apoiado por mecenas públicos e privados. Em edições anteriores foram laureados com o Prémio vários investigadores que são hoje uma referência, como Fernanda Rollo, Miguel Cardina e Cláudia Ninhos.
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