Arqueologia | Gatos domesticados na Rota da Seda no Século VIII

 

 

Nas estepes semi-áridas e áridas da Ásia Central, particularmente no Cazaquistão moderno, os gatos domésticos não eram comuns antes do período colonial dos séculos XVIII e XIX, mas gatos domésticos comuns, como os conhecemos hoje, podem ter acompanhado os pastores cazaques como animais de estimação há mais de 1.000 anos, divulgou um grupo de arqueólogos que descobriu e estudou os restos mortais de bem conservados de um gato da Rota da Seda enterrado no Cazaquistão que provavelmente data do Século VIII. Isto faz pensar que os gatos provavelmente foram domesticados pela primeira vez na Ásia Central muito mais cedo do que se pensava anteriormente, embora a domesticação do gato tenha tido início no Neolítico, na região do Crescente Fértil, onde se estabeleceram como caçadores de ratos, numa relação mutuamente benéfica com os humanos. Calcula-se que o esqueleto mais antigo conhecido, encontrado na atual ilha de Chipre. tenha cerca de 9.500 anos.

O mais antigo gato doméstico na Rota da Seda

As evidências sugerem que se tratava de um gato bem estimado. É o que dizem análises efetuadas num esqueleto quase completo encontrado durante uma escavação ao longo da antiga Rota da Seda, no sul do Cazaquistão. Uma equipa de investigação internacional reconstruiu a vida do gato, revelando visões surpreendentes da relação entre humanos e animais de estimação na época. O estudo, liderado pela Universidade Martin Luther Halle-Wittenberg (MLU), em articulação com a Universidade Estadual Korkyt-Ata Kyzylorda, Universidade de Tübingen e Escola Superior de Economia da Rússia, foi publicado na ‘Scientific Reports‘, da Nature, sob o título O mais antigo gato doméstico na Rota da Seda.

A escavação de Dhzankent, um antigo assentamento medieval no sul do país, povoado principalmente pela Oghuz, uma tribo turca pastoril onde foram encontrados os restos mortais do gato, situa-se na Rota da Seda, uma antiga rede de importantes rotas de caravanas que ligavam por terra a Ásia Central e Oriental à região do Mediterrâneo. A descoberta é também uma indicação do intercâmbio cultural existente entre as regiões localizadas ao longo da Rota da Seda.

Um gato muito bem tratado

Este gato doméstico – que foi examinado por uma equipa coordenada por Ashleigh Haruda da Central Natural Science Collections da MLU – não teve uma vida fácil. “O gato sofreu diversas fraturas durante a sua vida”, diz Haruda, “mas sobreviveu”. E, no entanto, com base numa estimativa muito conservadora, o animal provavelmente já havia passado do primeiro ano de vida. Para Haruda e os seus colegas, essa é uma indicação clara de que as pessoas com quem vivia cuidaram desse gato.

O esqueleto estava muito bem preservado, o que é bastante raro. Habitualmente são encontrados apenas alguns ossos de um animal durante uma escavação, o que impede que conclusões sistemáticas sejam tiradas sobre a vida do animal. A situação é diferente quando se trata de seres humanos, pois geralmente são encontrados esqueletos inteiros. “Um esqueleto humano é como uma biografia dessa pessoa. Os ossos fornecem uma grande quantidade de informações sobre como a pessoa viveu e o que experimentou”, salienta Haruda. Neste caso, no entanto, os investigadores tiveram sorte: após a sua morte, o gato foi aparentemente enterrado. Todo o crânio, incluindo a mandíbula, partes da parte superior do corpo, pernas e quatro vértebras, foi preservado.

Haruda trabalhou em conjunto com uma equipe internacional de arqueólogos e antigos especialistas em DNA. Um exame do esqueleto do gato revelou detalhes surpreendentes sobre a sua vida. Primeiro, a equipa tirou imagens em 3D e raios-X dos seus ossos. A análise isotópica de amostras de ossos também forneceu à equipe informações sobre a dieta do gato. Comparado aos cães encontrados durante a escavação e a outros gatos daquele período, a dieta deste gato era muito rica em proteínas. “Terá sido alimentado por humanos a partir do momento em que o animal perdeu quase todos os dentes no final da sua vida”.

Mudança cultural mais antiga do que se pensava

As análises de DNA também mostraram que o animal era provavelmente um gato doméstico da espécie Felis catus L. e não um gato de estepe selvagem intimamente relacionado. De acordo com Haruda, é surpreendente que os gatos já estivessesm a ser utilizados como animais de estimação nessa região por volta do Século VIII: “Os Oghuz eram pessoas que só criavam animais quando eram essenciais para as suas vidas. Os cães, por exemplo, podem vigiar. Na época, não tinham uso óbvio para os gatos “, explica o investigador. O facto de as pessoas daquele tempo e daquela região manterem e cuidarem de animais “exóticos” sugere uma mudança cultural, que se pensava ter ocorrido muito mais tarde na Ásia Central. Pensa-se que a região terá preservado os seus modos de vida durante longo tempo e demorado a fazer mudanças em relação à agricultura e pecuária.

Hoje em dia, pensa-se que o gato seja o animal de estimação mais abundante em todo o planeta. Ao todo, calcula-se que 600 milhões de gatos compartilhem moradas com os seus donos humanos.

 

Fontes: Nature, MLU, Público; Imagens: (0, 2) MLU, (1) Nature

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