Os ataques que estão a desferir contra a Rita Rato por ter sido selecionada, num concurso público que contou com mais de 60 candidatos, para Diretora do Museu do Aljube, são demonstrativos do doentio anticomunismo que, hoje, como ontem, atormenta tantas cabeças.
Recordo que em 1983, por concurso público, o meu pai foi admitido como auxiliar de ação educativa (era esta a designação, hoje, designa-se assistente operacional) na, então, Escola Primária de Rio de Moinhos, freguesia de Marinhas, concelho de Esposende. O meu pai, que já faleceu, tinha, na altura, 40 anos, era deficiente motor, ativo militante do Partido Comunista Português. Durante o procedimento concursal houve gente ligada aos partidos de direita, à Igreja Católica, gente conservadora, reacionária, que tudo fez para impedir a seleção do meu pai. Invocaram que se tratava de um perigoso comunista, organizaram abaixo-assinados (que enviaram para a administração educativa), tudo para lhe obstaculizar o ingresso na Função Pública. Apesar de tanta maldade, o meu pai acabou por ser selecionado, num concurso justo. No primeiro dia de trabalho, logo pela manhã, ao apresentar-se na escola, deparou-se, em toda a fachada principal do edifício, com a seguinte pichagem (escrita pela calada da noite): “Os pais das crianças não querem o comunista na escola!”. Não fosse um grande movimento de solidariedade e apoio, prestado por gente boa, muitos democratas, do concelho de Esposende e do Distrito de Braga, o meu pai tinha sido impedido de ingressar na função pública. Os anos passaram e o meu pai manteve-se sempre fiel ao seu Partido, ao Partido Comunista Português. Na escola onde iniciou funções e mais tarde na EB2/3 António Correia de Oliveira, na cidade de Esposende, demonstrou ser um excelente funcionário, cumpridor dos seus deveres, amigo dos colegas, dos professores, das crianças e jovens, dos pais das crianças, um ser humano maravilhoso. No dia do seu falecimento foram tantos, tantos, tantos os testemunhos de amizade, apreço, carinho, recordando o Homem Bom, o Comunista, sempre ativo na luta por um mundo mais justo, mais fraterno e solidário. Testemunhos, muitos deles, em preito de homenagem ao meu pai, que eu e a minha irmã Zélia, volvidos 7 anos depois da sua morte, continuamos a receber.
Escrevo este texto para demonstrar que a vida dos Comunistas, ontem, como hoje, não é fácil. E tantas são as injustiças, as perseguições a marcar as suas vidas pessoais e, mesmo, profissionais. Mas a sua ação, o seu exemplo, a sua profunda dedicação às causas justas acabam por demonstrar a nobreza destes homens e mulheres que, todos os dias, lutam por um mundo melhor.
Imagem: E24
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