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Especialistas em Tudo: A visão de um especialista em nada, 2

 

 

E aquela malta que viu a série Chernobyl e acha que percebe de armas de destruição maciça? Eu tenho um misto de tristeza pelo mundo e alegria disto se tornar assunto de um artigo no Vila Nova.

Se num grupo de convívio social, seja ele de amigos ou até um evento profissional, por acaso existe uma pessoa que desata com grandes conhecimentos de eletromecânica aplicada e vai que é o único com formação em eletromecânica… digamos que é só normal. Parece uma grande coisa, assim quem vê de fora…. Opah… mas não é!

Vamos admitir um cenário em que existam numa sala um médico, um engenheiro civil, um politólogo, um animador sociocultural e um economista e todos eles razoáveis nas suas áreas. De repente, assim com meias palavras o animador sociocultural perceba mais de técnicas de cirurgia que o médico…. Bolas… eu ia ficar assustada! Ou o economista ser genial a explicar todas as técnicas e processos na construção de uma barragem… era meio parvo. No entanto, ter um politólogo a entender montanhas de política, um economista de economia, um médico de medicina e um engenheiro civil de estruturas… já é normal. Não é espetacular… é normal! Nem muito bom nem muito mau… é normalzinho!

Mas como eu dei um cenário estúpido, tenho a certeza que quem lê vai pensar “Realmente, que conclusão brilhante, oh Sherlock”.

Imaginemos ainda outro cenário em que um advogado que, por força das circunstâncias – por causa dele próprio ou por falta de oportunidades – nem é assim tão bom ou até se conformou com a vida e é mesmo fraquinho. Numa daquelas chamadas “conversas de café” diz “Ui, mas segundo o decreto-lei 36/2017….” E quem está à volta pensa “Xiiiii…. Este tipo é que percebe, até disse um número de um decreto-lei assim logo” …. Opah… se calhar não! É que também existe estas hipóteses de não serem assim tão bons, mas no meio de malta que não percebe do assunto até parece…. Mas só parece… não é!

É normal perceber q.b. de um assunto que se fez força para adquirir conhecimento ou simplesmente porque tem uma graduação no assunto… não se é uma força da natureza nem profundamente culto. Eu sei que estou a desiludir pessoas…

Aquilo que não é muito normal – ainda que aconteça com mais frequência que o que devia – é alguém pouco conhecedor de um assunto estar ao lado de um bom conhecedor desse mesmo assunto, terem uma troca de argumentos, em que o bom conhecedor se veja obrigado a desistir e até ter um casting instantâneo para Hollywood com um discurso “Olha, nem tinha pensado nisso. És mesmo capaz de ter razão”. E o que tem aquele sabor agridoce é ver a reação da pessoa convencida de que realmente é conhecedora do assunto, “Lembras-te? Eu já te tinha explicado”. E tem que se responder “Sim, sim! Realmente é um assunto que dominas!”.

Chega a ter a sua dose de engraçado!

Digo eu: “Olha que às tantas não será bem assim”

Diz o conhecedor: “Pffff… Eu li um artigo sobre esse assunto e realmente é uma área que me interessa e sei que é da forma como estou a dizer”

Digo eu: “Ahhh… Então desculpa! Aqueles megacalhamaços que andei a estudar anos a fio em nada se comparam sobre aquele artigo que tu leste no único semanário que compraste em anos. Desculpa, a falta realmente é minha”. Não é isto que respondo, mas devia! Aquilo que eu realmente digo é:

“Ahhh… Por acaso esse artigo não li, não. Tem lógica, tenho de prestar atenção”.

E depois normalmente são áreas completamente dispares. Tipo um contabilista discutir afincadamente design gráfico e o designer sair a perder! Não faz sentido!

Eu tenho montanhas de casos práticos que podia descrever, mas confesso que tenho medo de represálias. Nunca fiando! É que esta malta é maluca! Um tipo ignorante é altamente perigoso… é que ficam cheios de certezas e ninguém os para…

Na minha pequenina idade, trabalho há dez anos mercado internacional em moda, tendências e assuntos relacionados. Pois, um dia tive um inicio de discussão (não chegou a ser uma discussão porque entretanto tive que me calar) com uma farmacêutica – eu vou repetir, com uma farmacêutica – que comprou naquele mês uma VOGUE (e ponho as minhas mãos no fogo como nunca mais comprou uma revista dessas na vida) e queria me explicar como é que as coleções eram desenvolvidas. Ora, eu tentei explicar que não seria exatamente como ela estaria a dizer. Obviamente que foi uma guerra perdida logo na entrada, por vários motivos. Primeiro, ela comprou a VOGUE, né? Tipo… quem sou eu para combater isto. Segundo, a ignorância era tanta que se parecia cheia de certezas. E depois ouvi o seguinte, “Olha que ela é capaz de ter razão, ela sempre foi muito inteligente. Entrou na universidade com uma média… do caraças”.

“Ahhh… Então desculpa! Como é sabido por todos, Milão Fashion Week é conhecido pela enorme adesão de farmacêuticos, engenheiros biomecânicos, gestão industrial e astronautas na NASA”. Não foi isto que respondi, mas devia. O que respondi foi:

“Confesso que dessa parte específica não sei muito. Tenho de me debruçar mais sobre isso!”

E anda aí a cachopa toda contente, convencida que percebe muito do assunto.

Opah… Nem sequer me passaria pela cabeça meter-me nas receitas de Paracetamol. Eu ia humildemente aceitar que de Paracetamol quem entende é malta de farmácia. Mas sou eu que estou mal?

Moral da história:

É humanamente impossível entender de todas matérias existente no mundo, sejam eles agricultura, mecânica, limpezas, vendas ou gestão. Até podemos ter interesse e estudar e até sermos sabedores, porque nos esforçamos ou até temos uma aptidão natural. Mas nunca iremos saber de tudo. Assim como, não adianta de nada nos sobrepormos ou alguém valorizar em demasia alguém porque sabe um bocadinho mais sobre uma matéria, pode ser só normal – não é um superpoder.

O que se torna cómico são as certezas absolutas que algumas pessoas têm.

 

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