Nesta data histórica de Portugal, que para os mais jovens portugueses já é apenas um acontecimento que consta nos manuais escolares de história, não podemos deixar de relembrar a importância desta marcante data do ano de 1974.
Foi o fim de uma ditadura opressora, à qual ninguém deve alguma vez ser sujeito.
Com a revolução dos cravos foi possível conquistar a liberdade. Liberdade essa que nos trouxe a democracia, e nunca é demais lembrar que, com a democracia, conquistamos também: a escola pública para todos, o serviço nacional de saúde, a segurança social, salário mínimo nacional e, claro, a liberdade de escolha e expressão.
Para as gerações mais jovens fica a responsabilidade de manter o espírito de Abril de 74 vivo. Não nos podemos deixar enganar por populismos (ou mesmo falsos populismos), que não são nada mais que movimentos de extrema-direita e neoliberais. Movimentos esses que utilizam a proteção da palavra liberdade, mas que querem voltar a tempos que não são compatíveis nem com a democracia nem com os valores de Abril.
O populismo já viu nascer algumas lideranças absolutamente experimentalistas e irresponsáveis, algo que nos deve fazer insurgir contra estes movimentos pela defesa da liberdade e democracia. Devemos, todos, contribuir para que os valores da democracia, tal como os que conhecemos hoje, se mantenham vivos.
Pela democracia, pela liberdade, não podemos deixar que de uma forma mais ou menos direta, estes movimentos populistas possam crescer, não podemos cair no erro de fazer comentários fáceis a temas complexos. Os dirigentes políticos não podem cair na tentação da notícia fácil ou falsa, assim como de procurar ser popular apenas pela imagem e pelas belas fotografias que os seus gabinetes de marketing são capazes de criar.
Como já referi, Abril de 74 deu-nos a possibilidade também de ter mais e melhor educação, hoje e cada vez mais, o acesso ao ensino superior público para todos é uma realidade, o esforço desenvolvido pelo governo PS para que isto seja possível é notório e visível: entre outras medidas, foi feito um ajuste no sistema de IRS para deduzir despesas inerentes de quem frequenta o ensino superior, a redução do valor da propina e o programa nacional para o alojamento universitário.
Ao invés, no nosso concelho vemos o executivo camarário a apresentar orgulhosamente cursos de nível 5, como se isso fosse uma aposta e uma estratégia séria para o ensino superior público em Famalicão. Ao mesmo tempo, vemos as instituições de ensino superior existentes em Vila Nova de Famalicão a perder força, relevância e alunos, o que revela falta de apoio e estratégia do executivo camarário para o ensino superior.
Não posso deixar de fazer uma referência à data, que para muitos, é considerada como o princípio do fim da ditadura: 17 de abril de 1969. Foi a juventude estudantil em Coimbra que abriu caminho para se pensar em democracia e participação política em Portugal.
Este acontecimento revela o quão importante é para a democracia contar com jovens bem formados e irreverentes. Por isso não consigo ver nenhuma razão para temer viver num concelho com uma forte presença académica. Sabemos todos que um concelho com instituições de ensino superior público e movimentos académicos fortes, é um município mais forte e dinâmico.
Acredito que os jovens e os movimentos académicos estiveram sempre do lado certo da história, na construção de uma sociedade mais justa, livre, desenvolvida e democrática.
Relembrar o 25 de Abril é também, para nós jovens, exigir liberdade de escolha, e também mais e melhor qualidade de vida. Queremos viver num lugar que também nos queira. Lugar esse que não seja uma cidade-dormitório e que não seja considerado inseguro com o cair da noite. Queremos viver num lugar onde se apoiem realmente todas as crianças do concelho, com mais e melhor acesso às bibliotecas, com salas de estudo nas freguesias, com apoio para a aquisição de material escolar no ensino obrigatório. O lugar dos jovens não é, não pode ser, num concelho onde se registem falhas no sistema de transporte escolar, onde acontece, ou já aconteceu, de crianças perderem aulas por falha desse mesmo sistema de transporte.
Este não é o meu lugar, este não é o lugar dos jovens!
Não se é sério, quando no exercício do seu mandato, se autoelogia com tudo o que de bom acontece no concelho e, depois, tudo o que é menos positivo se assobia para o lado ou se tenta culpar terceiros. Atitudes destas fazem com que os movimentos populistas ganhem força e isto, inevitavelmente, prejudica a democracia. 25 de Abril foi em 1974, é hoje e terá de ser sempre! Sempre na defesa dos valores mais básicos da democracia, mas também das políticas sociais que transformam este num país mais justo e equilibrado.
Os jovens saberão distinguir o que é governar segundo os princípios de Abril de 74 e, pelo contrário, governar seguindo os princípios do neoliberalismo. Se noutros tempos convidavam os jovens para sair do país, agora pedimos e criamos condições para que permaneçam e regressem a Portugal.
Percebemos hoje que, e segundo os princípios de Abril de 74, é possível construir um país melhor, com menos desigualdades sociais, com mais rendimento disponível para as pessoas e com contas certas.
Vivemos numa democracia forte e estável, mas não há limites para o aperfeiçoamento da mesma. Este aperfeiçoamento é da responsabilidade de todos e em especial dos que têm responsabilidades políticas, devendo lutar diariamente pelos valores que Abril nos deu, como: democratização, desenvolvimento, diminuição das desigualdades sociais, direito à educação, habitação e emprego.
Viva a democracia!
Viva a liberdade!
Viva Famalicão!
Obs: discurso proferido na Sessão Solene do 45º aniversário do 25 de Abril no Município de Famalicão.
Imagem: Município de Famalicão
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