Ricardo Luís Martín Sant’Anna, ‘o homem do Castelo’, é um apaixonado pela História e Arqueologia. Natural de Cáceres, em Espanha, mas residente em Braga vai para muitos anos, “descobriu” o Castelo de Braga numa pequena publicação intitulada “O Castelo de Braga (1350-1450)”, escrita pelo Professor José Marques, em 1986. Tão depressa a viu, e leu, como assim se apaixonou por ela, e por ele, o Castelo.
A partir de então, o seu interesse foi-se aprofundando, ganhando corpo e a curiosidade de saber e conhecer o que não é visível tornou-se insaciável. E sim, conhecer o que não está á vista, pois Ricardo Sant’ Anna crê que no meio das poucas paredes sobrantes nos edifícios da zona central de Braga será possível encontrar elementos que poderão ser de interesse patrimonial para a toda a comunidade, não apenas para os estudiosos, nomeadamente arqueólogos e historiadores, mas para o homem comum que vive ou visita a capital do Minho.
Do fruto deste seu interesse, nasceu agora o blogue ‘O homem do Castelo‘. em que o autor pensa incluir “diversas ligações paralelas, tais como uma biblioteca virtual, só de textos sobre o castelo que estou a transcrever, uma galeria de imagens e uma página para os vídeos, por exemplo”.
Esta página “começou por nascer de um grupo de projeto no facebook, precisamente designado ‘O Castelo de Braga e a sua história‘. Mas porque a recolha de informação não é apenas um acumular de material para se guardar numa gaveta ou num dossier poeirento, todo este conhecimento tem vindo a ser divulgado no referido grupo. Infelizmente esta plataforma não era a ideal para partilhar determinados conteúdos, pelo que decidimos, nos últimos tempos, avançar com a frente de combate nutras direcções.”
Segundo refere o seu criador, “o grupo é um espaço cibernético para a promoção do Castelo de Braga, bem como para a dinamização do debate em torno de questões do interesse público relacionadas com o Castelo”.
Dinamizar a Torre de Menagem
De personalidade algo tímida e reservada, Ricardo Sant’ Anna acrescenta ainda que, através do grupo, se tornava “mais fácil poder partilhar toda a informação” que ia reunindo, “mostrar o andamento do projeto ao público, expor dúvidas ou esclarecê-las. Embora o grupo seja fechado, qualquer elemento do grupo pode adicionar outros convidados que julgue serem uma mais-valia à partilha de informação. Livros, trabalhos, documentos e outros elementos são igualmente dados a conhecer aos interessados, de maneira a existir um repositório de informação sobre o Castelo.”
Na altura, o objetivo último deste grupo era “recriar, em madeira, o Castelo de Braga aquando da sua função original, e doar o modelo ao Museu de Arqueologia de Braga ou à Câmara Municipal de Braga, com a condição de ser utilizado na divulgação e formação de todos os que desejarem aprender mais, de maneira completamente gratuita.”
Esperava Ricardo Sant’ Anna, por aquela época, que este fosse apenas um primeiro passo no sentido de “ver a zona da Torre de Menagem dinamizada e devidamente sinalizada”.

No blogue ‘O homem do Castelo‘, Ricardo Sant’ Anna avança já com o seu entendimento, crítico, de que, no local onde agora se efetuam obras e escavações – no Edifício Caramanchão, também conhecido por Baluarte, onde antigamente existia uma sapataria -, “foram encontrados novos vestígios da necrópole da Via XVIII Antonina, além de, naturalmente, outros vestígios de outras épocas. Mas a razão de tanto secretismo, de tanta ocultação dever-se-á ao facto do prédio pertencer a um particular e já existir um plano aprovado para a construção de um local destinado ao turismo. Estas escavações correm a cargo do proprietário, que apesar de se poder candidatar a certos fundos para compensar o tempo perdido, não vê qualquer tipo de benefício por ter este tempo de obra parado e não vê como beneficiar na correta preservação dos possíveis vestígios encontrados. Tanto o proprietário como a Municipalidade, como a própria população local só conseguem ver os lucros imediatos. Não há uma cultura de visão a médio longo prazo.”Assim, presume o autor do blogue que “estar a divulgar estes achados pode comprometer o futuro imediato, pois pode sensibilizar a opinião pública e fazer força junto ao Município para mudar de estratégia. Apesar de ser a Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho – UAUM a encarregada dos estudos, esta está sujeita a políticas internas e a cenários estratégicos que, como cidadão comum, não percebo. Qualquer arqueólogo, qualquer historiador, qualquer cientista luta por ver o seu trabalho divulgado e luta pela preservação do bem comum. Não estamos a falar da descoberta da Arca da Aliança nem estamos a falar da descoberta do túmulo secreto do Rei Tutmosis XVII que emigrou para Portugal à procura de novas oportunidades de trabalho. ”
Nas suas quase primeiras palavras d’ ‘O homem do Castelo‘, Ricardo Sant’ Anna relembra como todos ficamos “maravilhados quando um mundo esquecido é trazido de volta e sentimos, mesmo à distância, que somos participantes desse novo mundo” sempre que são dadas a conhecer nos mais diversos meios de informação as estruturas do passado.
Sant’ Anna e Morais Pinho
O certo é que o seu trabalho se foi desenvolvendo e entretanto conheceu Manuel de Morais Pinho, homem também nascido fora de Braga, mais precisamente no Porto, mas igualmente aqui instalado desde jovem. Desse conhecimento nasceu uma forte amizade, sobretudo fruto dos interesses comuns dos dois homens relacionados com o estudo e a valorização do património desta zona central à vida urbana e que foi e é o coração da cidade de Braga.
Manuel de Morais Pinho veio trazer ao grupo ‘O Castelo de Braga e a sua história’ uma dinâmica que o mesmo até aí não conhecia. Sociólogo de formação, diretor de logística na antiga Blaupunkt, em Braga, conversador e de tipo mais expansivo, culto, dinâmico e conhecedor, era o homem que, de certo modo, fazia falta a Ricardo. para o ajudar a movimentar-se e conseguir mais visibilidade para o seu projeto.
Para além dos levantamentos entretanto efetuados que resultaram na divulgação de imagens e documentos até desconhecidos, do aprofundamento deste encontro acabaria por nascer uma candidatura ao Orçamento Participativo de Braga, candidatura esta que pretendeu ser um agitar de águas, aproveitando para lançar ideias e pontes aos proprietários dos imóveis da zona do Castelo de Braga, mas também aos demais concidadãos, Ricardo Sant’ Anna e Manuel de Morais Pinho não se propõem de todo imobilizar Braga, ao contrário do que parece constar-se entre alguns círculos da cidade. Pretendem, outrossim, esventrar o que for possível para dar à luz e partilhar com todos aquilo que, na sua ideia, “com toda a certeza está escondido entre paredes e muralhas” e, desse modo, ajudar a dar a melhor conhecer a cidade em que vivem e que adotaram como sua.
Porque só se ama o que se conhece.
Nota: A Câmara Municipal de Braga mantém em funcionamento, desde finais de 2017, um centro interpretativo da História da cidade na Torre de Menagem do antigo Castelo.
Para saber mais
O Castelo de Braga e a sua história – grupo facebook
Imagens: DR
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