Quando eu era criança os meus pais tinham uma empregada cujo marido sofria de constantes ataques de ciática. Quase todas as semanas. No período de Verão, talvez devido ao calor, os ataques de ciática intensificavam-se. Quando tinha estes ataques vinha procurar a mulher e forçava-a a ir para casa sob a ameaça de agressão. Regra geral não chegava a agredi-la não só porque havia sempre quem desse protecção à esposa, mas também porque o ataque de ciática lhe dificultava os movimentos.
Passado o ataque de ciática, o cavalheiro parecia outro. Até parecia que nem tinha tido aquele ataque. Comportava-se como se exigindo respeito por parte dos outros: estava ali um homem limpo e aprumado, como os demais; o ataque de ciática já lá ia.
Quando no outro dia vi Juncker com um ataque de ciática, palavra de honra que pensei que ele estava bêbedo. Naquele momento nem me lembrei do marido da empregada dos meus pais. Só quando o vi a dar explicações e a pedir “respeito” é que me lembrei dos ataques de ciática do outro. É tal e qual.
E então pedir respeito no dia seguinte é que foi supimpa. Até pensei: olha, olha, queres ver que lhe está a dar outro ataque de ciática!? Mas não. Era Juncker em “estado matinal”, livre de ataques. Este indivíduo, ao que julgo saber, ocupa um lugar formalmente importante na União Europeia. Antes dele, já lá esteve Durão Barroso. Quando Durão Barroso foi indicado para o lugar, eu pensei que a União Europeia tinha batido no fundo. Enganei-me. Redondamente. Apenas estava a começar a afundar-se. A mim, quando me lembro dele a pedir “respeito” só me apetece chorar, … ou ter um ataque de ciática.
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Vai aí um escarcéu por causa do Sr. Robles ter tentado vender um prédio por uma pipa de massa, quando pouco tempo antes o tinha adquirido por dez reis de mel coado, é certo, mas nele tendo investido em obras de certa monta. O Senhor Robles fez o que qualquer cidadão procuraria fazer se tivesse tido as possibilidades que ele teve. Por isso é que é preciso leis a proibi-lo ou, pelo menos, a melhor regular situações destas. Não é aceitável, porém, que um Vereador, eleito pelo Bloco de Esquerda, tenha tal prática e pretenda manter-se no lugar que ocupa — no partido e na Câmara — como se nada tivesse acontecido. O Sr. Robles não percebeu que podia ter feito tudo o que fez, mas não podia ser simultaneamente do Bloco de Esquerda. Se fosse do CDS, estaria a fazer aquilo que se esperava dele. Agora do Bloco…! O Sr. Robles, que tem nome aristocrático e comportamento de direita, não pode pretender chuçar um vespeiro e esperar não ser picado. Esse foi o seu primeiro erro. Não só lhe fica mal a ele como ao partido que o apoia. O Senhor Vereador e o partido que o apoia revelaram raciocínio lento. Não perceberam que o destino de um ficou traçado e que a mossa no outro já está indelevelmente feita. Foi preciso que o fundador do Bloco de Esquerda, Luís Fazenda, viesse defender que as actividades imobiliárias de Ricardo Robles são condenáveis à luz dos princípios que supostamente o Bloco de Esquerda defende, para que o Sr. Robles se demitisse. Ora, o Senhor Robles que, pelos vistos, tem “actividades imobiliárias” (quem o disse foi Luís Fazenda), dava-lhe um certo jeito o assento na vereação da Câmara e, vai daí, resolveu pensar para dentro, antes de se demitir, “olha para o que digo, não olhes para o que eu faço”. Pensamento, aliás, que tem feito escola na Igreja Católica desde há séculos e sem mossa de maior. O BE que continue assim e depois que se queixe da ortodoxia dos outros e da sua consistência eleitoral.
Boas férias.